Há poucos dias, em entrevista concedida ao jornal online Observador, Catarina Martins afirmou, quando confrontada pelos entrevistadores com o uso qualificativo da expressão «extrema-esquerda», que esta «está associada a totalitarismos, perseguição, ódio», acrescentando que nada disso se encontra no Bloco de Esquerda. Afirmou preferir, se uma categoria houver mesmo de ser utilizada, a expressão «esquerda radical», uma vez esta ter mais a ver «com a raiz da esquerda, a raiz das lutas».
Passe a simplicidade da resposta, imprescindível numa entrevista em discurso direto, o que diz parece ir, de facto, ao encontro do que é hoje o Bloco. Não do que julgam absolutamente todos os seus militantes e simpatizantes, obviamente, mas do que o partido é e defende enquanto tal. É também esta a minha escolha, a do combate pelo que estruturou a raiz do socialismo e este nunca deveria ter abandonado, como por vezes aconteceu: a luta pela justiça, pela igualdade, pela liberdade, pela democracia, pela decência. Todas elas – substantivos femininos, já agora – e nem uma só a menos.
Todavia, a «extrema-esquerda» existe. Sendo múltipla, «uma galáxia ou uma nebulosa» como se lhe refere a politóloga Christine Pina, e também em evolução, pois parte da atual nada tem a ver com a que emergiu à tona da opinião pública mundial no ano de 1968, mantém uma atitude comum que é aquela próxima do chamado maximalismo. A linha que em política procura impor sempre o o máximo das reivindicações. Por princípio, recusa todos os consensos não obtidos dentro do que cada uma das suas partes entende como o «campo revolucionário», transformando os que dentro dele duvidam e divergem em apóstatas.
Neste sentido, combina algumas reivindicações justas com objetivos em regra deslocados, falando sobretudo para dentro, na lógica da seita, sem conseguir afinal atrair as «massas» ou os «trabalhadores» que tanto venera, embora falando em nome delas e deles. Desta «extrema-esquerda» encontramos em Portugal exemplos vários, desde pequenas organizações à esquerda do Bloco, e também de alguns ativismos, até aos setores do PCP que, na prática, seguem trajetos paralelos aos da direção partidária, continuando a ver a luta política como um eterno assalto ao Palácio de Inverno, ou como a sua Sierra Maestra. Nunca, de modo algum, algo menos que isso.
Imagem: Manifestação em Paris, 28 de Maio de 1968 (Photo Agip)