Estamos quase a 3 de novembro, o dia das eleições presidenciais nos Estados Unidos da América. Todas as sondagens e tendências do voto por correspondência apontam, ainda que com números desiguais, para uma vitória da dupla Biden/Harris, enquanto as desgrenhadas manobras de última hora levadas a cabo por Trump parece estarem até a ter um efeito negativo junto da estreita mas determinante percentagem de eleitores indecisos. Cada vez se percebe melhor que o presidente-«bully» contará quase apenas com os seus indefectíveis, recrutados sobretudo entre as pessoas com menos instrução, ou então fanatizadas pelos grupos cristãos fundamentalistas, racistas ou de extrema-direita. É claro que, no campo democrata, nada estará absolutamente garantido antes da madrugada do dia 4, ou, se os resultados estiverem ainda muito equilibrados, talvez só o venha a estar alguns dias depois, mas pode dizer-se, já com alguma certeza, que salvo uma grande surpresa os democratas obterão mais delegados no colégio eleitoral que os republicanos. E quanto ao voto popular, esta é já seguro, se bem que Al Gore e Hilary Clinton, em 2000 e 2016, tenham ganho deste lado e perdido no outro, aquele que é realmente decisivo para instalar o inquilino da Casa Branca.
Todavia, se assim acontecer, esperemos que sim pelo bem da maioria dos norte-americanos e do planeta inteiro – talvez menos dos oligarcas internos e de potências concorrentes, como a Rússia ou a China -, nada estará garantido, em termos de recuo das posições públicas mais retrógradas e assumidamente agressivas avançadas por Trump e pelos seus apoiantes, no imediato pós-eleições. A América do obscurantismo e da violência, que se imagina «great again» na sua pobreza de espírito e no seu isolamento, não irá aceitar os resultados e desencadeará protestos e boicotes que poderão levar à proliferação de situações intensamente dramáticas. Por este motivo, dentro e fora da pátria dos «pais fundadores», aqueles e aquelas, muitos e muitas, que não se identificando com as propostas de Joe Biden querem acima de tudo afastar o atual pesadelo, devem continuar, sobretudo até à tomada de posse, que apenas ocorrerá a 20 de janeiro, a saber discernir o essencial do acessório, o politicamente possível do politicamente impossível nos EUA de hoje, evitando começar de imediato a atacar as escolhas do presidente eleito. E, fora dela, a ver «a América» apenas como um todo imperial. Se até o «radical» Bernie Sanders está, neste momento, a fumar o seu cachimbo da paz com Biden.