Começo por uma citação um pouco longa retirada do editorial do Público desta sexta-feira, assinado por Manuel Carvalho, com o qual concordo quase por inteiro: «Tudo o que se tentou evitar até agora está a acontecer. Chegámos ao limite e, se formos muito para lá do ponto em que estamos, corremos o risco de agravar os danos da pandemia com a perda da estabilidade política e social e da auto-estima que sustenta o nervo de um país. Se o confinamento falhar, o preço será altíssimo. Cada um de nós e todos enquanto comunidade temos muitos interesses em jogo nesta ameaça. (…) Resta uma só solução: levar o confinamento muito a sério. Olhar, como pediu o primeiro-ministro, para as regras e não para as excepções. Perceber que a decisão de cada um conta, seja a de um caixa de supermercado ou de um empregado dos serviços que pode trabalhar a partir de casa. Relativizar o perigo é exponenciá-lo. Virar-lhe as costas, por fadiga ou impaciência, por descrença nos políticos ou por dúvidas sobre as prescrições dos especialistas, é fugir à responsabilidade. Ficar em casa é mais do que uma opção individual: é um acto político, uma prova de empenho cívico, um gesto de resistência em favor do bem comum.»
Na verdade, o desafio que se coloca é muito grande e deve ser levado a cabo pelo conjunto da sociedade, ainda que, como é natural em democracia, possam e devam existir escolhas diferentes relacionadas como detalhes que têm a ver com as medidas tomadas e os seus paliativos. Isto ainda dá maior importância à necessidade de um compromisso coletivo que passa também pela intervenção dos partidos políticos. Mais do que representantes de interesses – que também o são, por definição – estes devem ser escolas de cidadania. Numa situação de guerra, o necessário é vencê-la ou escapar aos seus efeitos, não é discutir minuto a minuto, em cima do momento, e enquanto o inimigo avança destruindo tudo pelo caminho, se a cavalaria deve tar maior peso que a marinha, ou exigir o abrandamento da disciplina e o aumento dos direitos de uma dada categoria de militares. Isso deve ser considerado, mas não como prioridade. Como os interesses das pessoas, sobretudo daquelas menos protegidas, têm de ser mais considerados. Todavia, existe uma missão coletiva que é nesta altura a mais importante. Os partidos deveriam, por este motivo, comprometer-se também, e muito, com o combate solidário neste momento imprescindível, e não aproveitar a situação para cavar trincheiras. Mostrando, ao mesmo tempo, a sua maturidade como presente ou como futura alternativa de governo.