Não me custa reconhecê-lo: sou viciado em informação. Talvez isso se deva em boa parte a ter aprendido a ler pelo jornal, ao colo do meu avô, nessa época correspondente local do Diário de Notícias e leitor aos fins de semana d’O Primeiro de Janeiro, ou por o meu pai ter o hábito de trazer para casa dois diários, por vezes três. Gosto de pensar que assim é também por escolha pessoal: graças a ter crescido num lugar onde não se passava nada e era preciso levantar o pescoço para espreitar o que acontecia mais além. A generalização da televisão, mesmo a censurada, ajudou bastante a ampliar esse olhar. Depois, o telejornal da noite tornou-se horário sagrado nas casas que fui habitando. A rádio, de início em onda média ou curta, ajudava também. Mais tarde, quando passava férias longe de algum quiosque, todos os dias conduzia vinte ou trinta quilómetros, sem pestanejar, só para poder comprar o jornal. E fui praticamente pioneiro da Internet, que comecei a usar regularmente logo em 1993.
Há cerca de uma década, ou um pouco menos, tudo mudou. Aos poucos fui vendo cada vez menos televisão, escutando menos rádio. Só os jornais, em papel ou e-paper, se mantiveram omnipresentes. Os telejornais, eram agora longos e repetitivos, sem critério perceptível, cada vez mais centrados na pequena política e na exibição da desgraça alheia. Os debates tornaram-se menos interessantes por serem pouco plurais e mal conduzidos. Mesmo os jornais passaram a ter menos para ler. Até que a mentira ou a deturpação se instalaram, sem lugar ao contraditório. Hoje deixei de ver telejornais portugueses – só em dia de eleições ou quando acontece algo de extraordinário – e mesmo os jornais passaram a ser um espaço para a desconfiança, sobretudo no online, dando por mim a questionar tudo o que leio («será mesmo verdade?»). Agora o que mais vejo, para me informar, é a CNN ou a Sky, e o que mais leio é o Guardian e o New York Times. Onde ainda não sinto o dever de ter sempre ligado o alerta da desconfiança.
Rui Bebiano