A um turista que tenha passado acidentalmente por Melbourne ninguém fará perguntas sobre a saúde financeira da Austrália, mas a mim, porque estive durante alguns dias do último Agosto na Islândia, tem sido insistentemente perguntado se já então notara indícios da crise que pode agora levar a ilha à bancarrota. Confesso que tenho feito um esforço para recordar alguma coisa: um sinal, um sintoma, uma indicação, uma ameaça. Será que Briet, a bonita recepcionista do hotel, sobrevivia já, sem que eu me apercebesse, com uma única refeição diária? Correria à boca pequena que os edifícios da Biblioteca Universitária estavam hipotecados ao banco Kaupthing e eu fiz orelhas moucas? Teriam os músicos daquele memorável concerto no Kjarvalsstöðum revelado ao público que os seus instrumentos eram propriedade da máfia russa e eu simplesmente achei que se tratava de uma piada? Mas nada, nenhum prenúncio, sinal algum. Ao contrário, a vida parecia correr normal, tranquila, com marcas bem visíveis de prosperidade e optimismo. É verdade que pairava sempre sobre o país a ameaça de arrastamento até a um mundo inferior como aquele que o professor Otto Lidenbrock e o seu sobrinho Axel descobriram, no conhecido romance de Júlio Verne, ser capaz de unir o vulcão de Sneffels ao centro da Terra, mas não se notava que os habitantes de Reiquiavique se preocupassem de maneira especial com tal eventualidade. Tudo, de facto, parecia correr bem. É essa aparente ausência de presságios que torna a situação actual ainda mais assustadora.