Em declarações à TSF o padre Vaz Pinto considerou normal que o Vaticano tenha decidido agora passar a incluir a leitura de jornais, a navegação na Internet e a televisão em excesso como pecados que têm de ser relatados em confissão auricular. Não tanto pelo seu «uso», admite, mas antes pelo imoderado «abuso» do qual serão constante objecto (aceitemos ainda que possa existir um abuso moderado de tonalidade apenas semi-concupiscente), o qual fará com que se deixem de lado «coisas mais importantes: a mulher, os filhos, o desporto, a cultura, o serviço social e por aí fora». Não sei ao que se refere VP quando fala de um certo «e por aí fora». Ou se as mulheres que abandonam os homens para se passearem por pecaminosas mailboxes, ou pelo universo aviltante dos blogues, sofrerão de idêntica maldição. Por mim, que recomendo insistentemente aos meus alunos a leitura de jornais, e lhes aponto inúmeras vezes, como material de referência documental, programas televisivos e sites da Internet, estarei inapelavelmente condenado a viver a eternidade nos tórridos domínios do decaído Belzebu.
Depois de escrito – Não terei outras respostas a estas questões senão aquelas que me possam ser sopradas ao ouvido pelo Deus dos romanos, mas será que tais pecados terão efeitos retroactivos? e incluirão atitudes profundamente anti-sociais como passar tardes inteiras no cinema, a ler romances com mais de 500 páginas, a ouvir um ciclo inteiro de óperas de Wagner ou a olhar para determinado pormenor de um quadro de Vermeer? e afectarão eles os milhões de idosos que têm por única companhia a televisão ou um exemplar gasto pelo uso do jornal local? e serão abrangidos os jornais desportivos? e também as longuíssimas bençãos urbi et orbi transmitidas por diversos canais em simultâneo? e a Missa do Galo? e o Preço Certo em Euros?