Como aconteceu num ou noutro momento mais intensamente crítico da história da humanidade que me tem cabido presenciar e partilhar ao longo da vida – tomando posições e fazendo escolhas difíceis, que me consiga lembrar, pelo menos desde que tenho a chave de casa -, também esta guerra, agora travada no coração da Europa e a uma escala global, tem servido para aferir da fibra moral e da coragem, ou da ausência de princípios e da subtil cobardia, de quem nela assume escolhas ou, ao invés, tudo faz para evitar fazê-lo. Alinhando então na escolha mais fácil, que é a da sua manada, ou então empurrando a realidade com a barriga.
Erros de avaliação, neste processo de pesar e de medir as dinâmicas do mundo e as escolhas, as nossas e as dos nossos semelhantes, todos cometemos, e eu já cometi alguns, não estando livre de ainda vir a ser responsável por outros. Na verdade, a única forma de jamais errar é fazer de morto, o que é praticamente estar morto. O pior, o pior de tudo com que me habituei a deparar, é, porém, a posição de quem dispõe de meios para saber de que lado está a razão e, por fé, preguiça, cobardia ou egoísmo, ou com medo de se autoquestionar, não se serve deles, aceitando pactuar com as piores formas de desrazão, ódio e desumanidade.