Em muitos momentos, sobretudo quando se defrontam ideias e campos inteiramente antagónicos, o combate político deve ser frontal. A democracia ressente-se muitas vezes, ou pode até perder-se, com o abuso dos «paninhos-quentes», que normalmente diluem ou afastam os aspetos mais críticos dos temas em disputa, concentrando-se nos detalhes laterais ou irrelevantes. E deste modo empurrando com a barriga a solução dos grandes problemas coletivos. Então quando aquilo que está em jogo é a vida e a morte, ou algo que afeta poderosamente a vida de sociedades inteiras, a contemporização das razões é particularmente perigosa, devendo ser evitada. A frontalidade passa então, muitas vezes, pela responsabilização pessoal associada a decisões ou a declarações que quem a exerce pretende pôr em causa.
Quem detenha cargos de natureza pública, sabe bem que anda «nas bocas do mundo» e se expõe as críticas severas, sejam elas justas ou injustas. Aliás, sem este processo de responsabilização pessoal, a democracia torna-se algo de vago, vivendo sobretudo de máscaras. Mas isto não significa que a divergência se deva fazer pela via da ofensa pessoal, do assassinato de caráter, ou por atitudes jocosas em relação ao aspeto, à vida privada, à idade ou a determinados tiques da pessoa que se deseja questionar. Talvez por isso não me pareça nada bem que Paula Santos, a desastrosa «nova» líder parlamentar do PCP, que, com uma retórica saída de outras eras, tem dado o rosto para justificar o injustificável e legitimar o inaceitável, seja caricaturada por Ricardo Araújo Pereira como «a tonta da paz». Eu sei que o humor possui regras próprias, mas a elegância também.