Digo por vezes aos alunos que pedem para lhes recomendar «um livro onde esteja resumido o mais importante», que tudo é complexo, inclusive o simples. Porque quanto maior for a simplicidade de um determinado texto – e simplicidade não é aqui sinónimo de clareza -, mais denso será aquilo que permanece na sua sombra. No atual contexto de conflito, será bastante pedagógico comparar as análises da situação política e militar, sempre intrincada e em rápido processo de transformação, normalmente da autoria de especialistas, das declarações sobre o tema produzidas por partidos políticos e militantes seus, ou por pessoas que querem acima de tudo produzir doutrina.
Afinal, estes estão mais interessados em congregar apoiantes para as suas escolhas e propostas que em interpretar e entender a realidade, mostrando-a como ela é e como pode ser. Ou seja, dinâmica, instável e mergulhada na permanente dúvida. Lemos os textos destes últimos e tudo são certezas, convicções, sinais de facilidade em apontar soluções, mas depois seguimos o que escrevem os analistas, os bons ou os outros, e acontece quase sempre o contrário. Não me refiro à justeza das escolhas, mas à eficácia dos argumentos para quem busca sobretudo conhecimento e compreensão. Já o excesso de simplicidade só leva à cegueira e ao erro, embora apazigue consciências menos exigentes.
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