Com o tempo de vida que levo e as experiências que fui juntando, péssima marca de caráter sustentaria se não tivesse muito para contar. Mais: seria por certo um tolo se em relação a muitos dos momentos que pude viver não experimentasse hoje alguma forma de nostalgia. Além disso, sendo historiador de formação e de profissão, sei muito bem como o passado nos forma e como importa invocá-lo para entender o presente e preparar o futuro. E ao mesmo tempo, aqui enquanto cidadão, sei também, como lembrou Primo Levi, que existe sempre um dever de memória para com quem se bateu, participou, sofreu, foi marginalizado ou mesmo morto por se bater por um presente mais feliz e por um futuro melhor.
Porém, no modo de estar no mundo e de com ele interagir, rejeito de todo aquela atitude, presente em grande número de pessoas de diferentes gerações – estranhamente, algumas até relativamente recentes -, para quem o seu próprio passado é a fonte exclusiva de referência, o único tempo no qual tiveram vida própria e em que mantiveram convicções e ideais, resumindo todo o presente ao seu reflexo e, em consequência, baixando os braços a propósito do futuro. Admito que tenho dificuldade em suportar longas conversas onde os tempos verbais estão todos no passado, seja este o individual ou o de um certo grupo. Escolha associada à lógica do «meu tempo», que é uma forma de desistir deste.