Como sabe quem escreve com regularidade livros e artigos, o trabalho de revisão de um original realizado por alguém competente e sensível é crucial, podendo salvar a correção e a elegância do texto, embora possa também traduzir-se em alguns desastres. Muitos autores consagrados, certos deles premiados, sentiriam vergonha ao ler os seus originais publicados sem estes terem passado por essa etapa. E os leitores habituais nem os reconheceriam. Erros e gralhas, repetições de frases ou de palavras, parágrafos pouco claros, falhas de concordância, pontuação deficiente, e por aí afora. Basta, para quem preste atenção, ver como alguma dessas pessoas atabalhoadamente escrevem nas redes sociais e depois o modo como os seus originais são publicados impressos ou no digital.
Este esforço depende, em primeiro lugar, de quem é responsável pela edição. Do seu cuidado em levar a cabo essa tarefa de atenção e da qualidade de quem a assegura. Já publiquei em editoras e em jornais e revistas que o descuravam, ou que nem se davam a esse trabalho, ou então, inversamente, que o faziam com grande cuidado e elegância. Peço quase sempre para rever de novo o que foi revisto, de forma a evitar desfigurações, mas em grande número de casos apenas agradeço o trabalho realizado e aceito as pontuais sugestões. Também já me aconteceu, felizmente em raros casos, o trabalho de revisão ser tão mau que impedi a saída de um texto de facto desfigurado. Em meia dúzia de situações, porém, já não fui a tempo.
Porém, nada fazer e deixar sair tal como o autor enviou, por vezes sem ler sequer com um mínimo de atenção, é a pior das soluções, revelando falta de respeito por este e também por quem depois irá ler. Edita-se desta forma «como quem enche chouriços», isto é, de uma forma mecânica e repetitiva, sem atender ao resultado. A tendência tem sido ampliada com a extinção em muitos jornais e editoras da figura do revisor profissional, confiando-se no corretor ortográfico e na atenção de quem escreve, que jamais são satisfatórios. Uma intervenção cuidadosa e respeitadora do autor, feita por quem sabe, é meticuloso e tem a adequada sensibilidade, é o melhor. Embora seja cada vez mais raro poder contar com ela.
Rui Bebiano