O estalinismo representa a maior perversão do grande ideal de socialismo, justiça e progresso que o movimento operário do século XIX duramente construiu. Tomou na antiga União Soviética, sobretudo a partir de 1928-1929, a forma de um regime unipessoal e de culto da personalidade, de uma ditadura feroz e sanguinária, de um sistema rigidamente policial e censório, e também de uma forma de fazer política que colocou os objetivos do partido único, como suposta vanguarda, acima das pessoas que um dia proclamou servir.
Foi também um sistema que se multiplicou sob diversas formas ao longo do século XX, tanto no campo partidário, moldando, sobretudo antes da década de 1960, um grande número de partidos e organizações comunistas, quanto em regimes que lhe decalcaram as piores características, como aconteceu na China ou na Coreia do Norte, entre outros. Por último, embora de forma não menos terrível, esteve ligado à maior perseguição e à execução de milhões de progressistas e comunistas que por alguma razão pré-determinada, ou sem qualquer razão, passaram de agentes da mudança ao estatuto de «inimigos do povo».
Nestas condições, ver pessoas de direita acusar o PS de «estalinista» – como ontem se ouviu durante uma manifestação de umas dezenas de mentecaptos a que as televisões deram um grande destaque – não é apenas incorreto, incoerente e ridículo, e algo que nulo efeito em princípio teria, mas um serviço que essas pessoas fazem aos velhos e novos estalinistas, que assim enchem o peito de orgulho e pundonor. Porque «que los hay, los hay».
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