O músico Roger Waters, um dos fundadores dos antigos Pink Floyd, é claramente uma pessoa com uma orientação política incomum no seu meio. Está no seu pleno direito, e algumas das posições que toma até poderão ser em parte justas. Mas duas delas são obviamente erradas e nocivas, embora ambas coincidentes com as que defende como suas aquela franja, autoproclamada «de esquerda», para a qual tudo o que se oponha aos EUA é por uma boa causa e merece defesa, seja quem for que o faça e a forma como o faz.
A primeira é a de boicote absoluto ao Estado de Israel. A partir de uma posição justa, que é a de oposição ao governo israelita, há mais de cinco décadas quase sempre maioritariamente nas mãos da direita, dos extremistas ortodoxos e dos falcões militares, ignora-se completamente boa parte dos seus cidadãos, cerca de 35%, composta por pessoas de origem judaica e palestiniana, e também muito laicos, que se opõem à política agressora dos seus governantes. Atacar os cidadãos israelitas no seu conjunto será sempre como se fez no tempo do regime caído a 25 de Abril, quando tomar todos os portugueses por fascistas e colonialistas deixava desprotegido quem o não era.
A outra posição de Waters, que muitos dos que agora cegamente o aplaudem por causa de Israel desconhecem, é a que toma a respeito da guerra da Ucrânia, repetindo, palavra por palavra, a narrativa de Putin a propósito da invasão ter sido suscitada pelas provocações do Ocidente da NATO, por Kiev estar nas mãos de «fascistas» e «nazis», considerando os invasores russos como libertadores da região. Ao ponto de, há poucos dias, ter sido convidado pelo governo de Moscovo para discursar na ONU em favor das suas posições imperiais e belicistas. Justificando a iniciativa, tal como o Kremlin e os seus companheiros de jornada repetidamente fazem, como uma «missão de paz».