No campo da opinião política sobre o mundo em que vivemos e aquele que poderá perfilar-se mais adiante, tento sempre colocar a estratégia à frente da tática. Não significa que exclua a segunda do horizonte de propostas e de expetativas, mas que muito mal estaremos, pelo menos em democracia, se ela determinar a primeira. Dito isto de uma forma mais clara: o protesto e a reivindicação, bem como os programas eleitorais, ainda que fundados em situações concretas, devem sempre subordinar-se a objetivos de médio ou longo prazo para a vida da comunidade da qual emergem, não indo atrás apenas daquilo que parece urgente e «popular». Por isso mesmo, ainda que considere justas determinadas propostas, não as sigo, ou pelo menos não as tomos forçosamente como prioritárias e inegociáveis, se forem desfavoráveis ao cumprimento desses objetivos.
Aplico-o ao meu país e a este tempo que cruzamos. Após uma fase na qual dei o benefício da dúvida, cada vez me distancio mais deste governo e do partido que o sustenta. Nada que não esperasse, sabendo das pessoas honestas e construtivas que os integram, mas também do grande peso do oportunismo, do carreirismo, da falta de coragem de muitos dos seus, e ainda dos enormes perigos das maiorias absolutas. Não é por isso, todavia, que desfilo, como vejo gente de esquerda fazer, ao lado da direita e do populismo apenas por ser «contra o Costa». Existe um objetivo estratégico fundamental que consiste em impedir o regresso da direita ao poder – agora numa situação particularmente perigosa, dado parte dela ser assumidamente antidemocrática – e quem desse objetivo partilhe de modo algum pode dar força ao populismo que a alimenta. Ajudando-o, ainda que apenas por cegueira, a fazer o seu caminho.