Os poetas machos da geração que me antecedeu
falavam obsessivamente das pernas das mulheres.
Viviam num universo móvel onde elas as pernas
prefiguravam o indizível distante que as mãos,
tangentes, iriam procurar e querer depois beijar.
Habitavam o lugar distante lá onde todo o desejo
perfazia em privado a intenção das linhas ondulantes.
Os da minha, que eu saiba procuraram o corpo
erotismo táctil ignorante de pernas porém ágil em pêlos
odores líquidos nos lugares que não era preciso vigiar.
Saíam de manhã as mãos abertas averiguando o vento
preliminar de encontros indagados sob as árvores
ou em camas cedidas nuas por companheiros solitários.
Sabem da urgência diurna que antecede o silêncio.