Uma boa parte da opinião pública portuguesa, seja aquela que tem voz na imprensa e televisão ou a que se exprime principalmente através das redes sociais, tem vindo a fazer críticas à forma como se organizou e está a funcionar a Jornada Mundial da Juventude de 2023. Boa parte delas prende-se com o despesismo excessivo e absurdo, parcialmente levado a cabo com recurso ao erário público de um Estado que se autodefine como laico. Outra parte liga-se ao modo como o evento está a perturbar a vida corrente de uma boa parte de cidadãos que com ele rigorosamente nada têm a ver. Outra ainda, esta de uma natureza mais objetiva, respeita ao empenho da Igreja católica portuguesa no evento por comparação com a sua simultânea recusa em tomar posição sobre graves e provados comportamentos que têm sido imputados a muitos dos seus membros e colaboradores.
De acordo, no geral e no específico, com estas críticas. Todavia, parte da razão que assiste a algumas das pessoas que as produzem é perdida quando se traduz em atitudes de intolerância em relação à fé e às escolhas próprias dos jovens que participam na Jornada, recorrendo a afirmações rudes e inapropriadas. A respeito, por exemplo, do que se considera prioritário do ponto de vista das opções no campo da fé e dos rituais da massa de participantes vindos de todo o mundo. Ou insistindo em afirmações jocosas que questionam as escolhas e a fé de tantos milhares de jovens que lhe dão corpo. Crítica e intransigência não são a mesma coisa, e quem tantas vezes aponta o dedo, com toda a justeza, a formas de discriminação da diferença que bem conhecemos, não pode fazer precisamente o mesmo com quem pensa, age e acredita de um modo diverso do seu e que merece respeito.
[originalmente no Facebook]