O «Síndrome da Barbie» traduz o desejo de ter uma aparência física e um estilo de vida idêntico ao da boneca, lançada em 1959 pela Mattel. Ao longo de sucessivas gerações, tem sido associado a raparigas pré-adolescentes de origem caucasiana, embora possa ser aplicável a diferentes faixas etárias, géneros ou etnias. A síndrome é vista como uma forma de distúrbio dismórfico corporal e tem imposto determinados modos de parecer, estando associada a graves distúrbios alimentares ou a experiências de elaborada cirurgia estética. Juntamente com o seu «par» Ken, tem vindo também, ao longo de décadas, a servir para tornar hegemónica em muitas crianças uma noção de feminilidade ou de masculinidade profundamente formal, estática e contrária aos avanços no campo da igualdade de género e da diversidade no domínio da sexualidade.
Sujeita a algumas metamorfoses para não desaparecer como objeto de consumo – agora também existem Barbies negras ou muçulmanas – a sua presença foi este verão recuperada pela estreia do filme de Greta Gerwig. Não o vi e não planeio vê-lo, não podendo por isso comentá-lo. Mas assisti, à porta de um estúdio de cinema, ao espetáculo de centenas de meninas entre 10 e 12 anos eufóricas por irem «ver a Barbie», como vi mesmo ao lado espelhos iluminados para se maquilharem a preceito e reparei ainda, num cenário cor de rosa montado perto, em pais a colocarem uma cabeleira loira nas suas meninas, vestindo-as de minissaia, e pedindo-lhes para fazerem pose para a fotografia. Deliciados, de uma forma que me pareceu pornográfica, por as exporem como modelos de uma «feminilidade» datada e retrógrada que continuam a tomar como um ideal.