A decisão do PR no sentido de dissolver a Assembleia da República e convocar eleições não foi a melhor solução. Todavia, foi tomada em termos menos gravosos do que se chegou a supor, dado permitir a aprovação do Orçamento de Estado para 2024 e apontar para uma data eleitoral, 10 de março, suficientemente distante para deixar que o Partido Socialista se recomponha politicamente com nova liderança e uma linha política necessariamente revista. Se o não tivesse feito, deixaria por certo mais satisfeitos os partidos da direita e da extrema-direita que, com o apoio de uma comunicação social maioritariamente sensacionalista e manipuladora, por certo cavalgariam o ruído causado pelo estranho caso que forçou António Costa a pedir a demissão, condicionando desse modo a reflexão serena e a clara enunciação de propostas que as eleições legislativas sempre requerem.
Os próximos quatro meses vão ser muito intensos. A direita do PSD e da IL não mudará grande coisa, salvo na tentativa frenética de culpar o PS e a esquerda dos males deste mundo, enquanto o Chega tratará de elevar a voz até ao limite, recorrendo, como sempre, a uma «legitimidade de representação» dos piores instintos humanos. O PS irá passar por uma necessária convulsão, que tanto poderá levar a uma solução consensual e «soft», inevitavelmente cinzenta e perdedora, ou por outra, mais renovadora e claramente de esquerda, que o poderá ajudar a reconquistar eleitorado. BE e Livre, se as sondagens recentes se confirmarem, poderão crescer, embora não muito, enquanto PCP e PAN parecem destinados a descer ligeiramente. Resta saber como estes partidos se perfilarão em relação ao que a generalidade das pessoas quer realmente saber: o que irão defender tendo em vista a futura solução governativa e quem elegerão como inimigo principal. Veremos como se monta o próximo cenário.
Rui Bebiano