Os dois maiores partidos, sobre os quais nestas eleições legislativas irá cair necessariamente, ainda que muito provavelmente com parceiros à direita ou à esquerda, o ónus da governação, apontam para estratégias de transformação da economia não apenas diferentes, mas nitidamente opostas. Serão elas, ainda que possa ser outro o quadrado no qual iremos riscar a nossa cruz, a determinar as vidas de todos nós nos anos que se avizinham.
O PSD fala de um «choque fiscal» como milagrosa panaceia para aquele padrão de crescimento, supostamente assente na redução do papel do Estado e em deixar o privado a controlar o mercado, tantas vezes tentado sem o menor sucesso em outros países. É claro que ele jamais resultará e, a concretizar-se, irá causar estagnação dos salários e das pensões, por muito que o contrário esteja a ser repetidamente prometido.
Já o PS refere a necessidade de um «choque salarial», em boa medida assente numa reativação da economia, que possa conduzir, ainda que sem milagres, ao crescimento do consumo e do bem-estar. Depois de 2015, sob os governos de António Costa, e ainda que de uma forma bastante gradual, foi possível ver de que forma com essa prioridade no horizonte foi de facto possível, apesar dos problemas, melhorar a vida das pessoas.
Não há volta a dar: não falamos de duas escolhas no mesmo campo, pois os eleitores ir-se-ão mesmo ver forçados a decidir se querem voltar a apertar o cinto e esperar anos por uma prosperidade imaginada, prometida para um horizonte bem no futuro, ou, em alternativa, se preferem continuar a melhorar gradualmente as suas vidas, olhando para o exequível. A escolha não me parece difícil de fazer, ainda que muitos eleitores, levados por impressões ou por contrariedades momentâneas, prefiram o canto da sereia.
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