Para além das divergências políticas e ideológicas que, entre nós, o separam dos restantes partidos, sejam os de esquerda ou os da direita – embora os últimos ensaiem algumas aproximações oportunistas -, o Chega, maior partido da extrema-direita portuguesa, possui duas marcas que claramente o separam das demais forças políticas. A primeira consiste na defesa declarada e sem máscara do racismo, da xenofobia, do Estado autoritário, da homofobia, da nostalgia do Império e dos valores da ditadura derrubada a 25 de Abril. Inclui também a defesa da violência social contra minorias, pobres não-obedientes e imigrantes, e a rejeição da democracia, usada apenas em proveito próprio.
A segunda marca é dada pelo facto de, também de forma singular, o comportamento, o discurso, a educação e a cultura dos seus dirigentes e eleitos se confundir, sem a menor diferença de nível, com a do padrão mais baixo das bases que os seguem, materializando-se na boçalidade, na agressividade, no azedume, na ausência de empatia e, em última análise, na mais elementar falta de educação cívica. Gente para quem, desde que tal lhe convenha e logo que se proporcione, a fronteira do ódio e até do crime pode transpor-se com a maior facilidade e sem sombra de remorso. Gente que vive o grau zero da sociabilidade e por isso deve ser contida sem qualquer hesitação.