O mal é o mal

Conto-me entre os muitos que, reconhecendo a solução pacífica dos dois Estados independentes e democráticos como a única justa e com a possibilidade de, a longo prazo, se tornar duradoura, solucionando o interminável e sangrento conflito israelo-palestiniano. Por isso mesmo, sou totalmente contrários à iniciativa no terreno dos violentos setores extremistas, sejam estes a extrema-direita ortodoxa de Israel, associada a Netanyahu e agora, previsivelmente, com um ainda maior respaldo da administração Trump, ou o Hamas palestiniano, apoiado pelo Irão e pelo Hezbollah. Pelo mesmo motivo, também não considero aceitável a existência de um mal menor, tomando os extremistas de ambos os lados como igualmente insensíveis ao sofrimento de ambos os povos, seja o outro ou mesmo o seu.

É neste contexto que, ao contrário de alguns setores, rejeito a violência extrema sobre os civis palestinianos, desculpabilizando ou justificando, ao mesmo tempo, aquela sobre cidadãos israelitas. Alguns desses setores defendem o apagamento do Estado de Israel, o que corresponderia a substituir uma injustiça histórica e uma crise humanitária de largas décadas, por outra de idênticas proporções e extensão. Na sua cegueira, o combate que observam é entre os «nossos fanáticos», que justificam, e Israel, entidade política cuja complexidade e inscrição histórica recusam ver. É gente incapaz de ver mal algum na fotografia aqui reproduzida, com uma das reféns ontem libertada – uma jovem apanhada no festival de música de Re’im, de 7 de outubro de 2023 – a ser levada, para o veículo da Cruz Vermelha que a esperava rumo à libertação, por dezenas de militantes do Hamas armados, da passa-montanhas e óculos escuros que ainda a intimidam. O mal é o mal, seja qual for o rosto ou a fé que toma.

[Imagem recuperada do sempre atento mural do Facebook de Isabel Sousa Lobo]

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