Os períodos de declínio oferecem-nos sempre um rastro de obsolescência. As sombras de quando já nada era como foi, ou se esperou que fosse, e nada é ainda aquilo em que talvez algum dia possa tornar-se. Fica-nos uma sombra de tristeza e de inércia, de teimosia inútil que alguns dos seus sobreviventes continuam a tomar como um resto de grandeza. Vestígios daquela vida-que-o-não-era de Kathrin Sass, a mãe de Alex que recuperava do coma em Good Bye Lenin!, o filme de Wolfgang Becker. Ao mesmo tempo, um sentimento de perda, como quando se reencontra, coberto de pó e das marcas do nosso próprio desleixo, o brinquedo da infância que afinal não havíamos esquecido.
Assim podem percorrer-se, em Windows through the Curtain, as fotografias de David Hlynsky. Ruas sóbrias mas desoladas, a estética pobre das montras das lojas e dos armazéns do povo, as enfadonhas entradas dos nichos da burocracia ou de restaurantes que jamais recomendaríamos a um amigo em viagem, pessoas anónimas e que nos parecem errar por cidades como Moscovo, Sófia, Praga, Budapeste ou Cracóvia. Emergindo, longe dos desfiles nas praças centrais, de uma outra era, daqueles anos de fronteira que preencheram a leste a longa década de 1980. A do fim da utopia que já o não era.