Partilho do aborrecimento de António Figueira diante da forma como, alguns anos após terem sido ejectados da vida, meio mundo começou, tu-cá-tu-lá, a falar de José Cardoso Pires com a maior familiaridade, tratando-o por «Zé», e a referir-se a um José Afonso que jamais conheceu como «o Zeca». Sobretudo se tivermos em consideração que o primeiro, no final da estrada, se queixava de um isolamento que tanto o desgostava, e que o segundo viveu os últimos anos marginalizado por muitos daqueles, cravo vermelho ao peito, que exorbitam agora da sua voz nos alto-falantes da propaganda. De vez em quando, para conter a falta de decoro e a manipulação dos pretéritos, é bom que alguém se sirva de um pouco de memória. E além disso, pelo menos nestes casos, o respeitinho até é uma coisa muito bonita.