Tal como todas as formas de poder são transitórias também o são o sistema de valores e o conjunto de códigos estéticos que as suportam. A prevista «imortalidade» das estátuas – talvez menos a dos edifícios, sempre recuperáveis com outras funcionalidades – acabará por defrontar um futuro que a irá contestar. O seu derrube consagra então, simbolicamente, os tempos da mudança. A Alemanha e a Itália do pós-guerra, o Portugal revolucionário, a Angola e o Moçambique da descolonização, os países do Leste europeu do período pós-queda do Muro, o Iraque after-Saddam, constituem, com as suas construções descaracterizadas pelos novos regimes e as suas estátuas apeadas e atiradas para lixeiras ou para museus privados, exemplos desse processo que permanecem razoavelmente nítidos na nossa memória. Aspecto igualmente acessório destes momentos de inversão são as mudanças bruscas, por vezes espectaculares, na toponímia local ou nas designações de países, cidades e regiões.