Distingo Manuel Alegre – por muito que dele se possa discordar, e eu discordo em muitas coisas, um dos respeitáveis fundadores da democracia portuguesa – do movimento que à sua volta foi criado durante as últimas presidenciais. A maioria do PS, subjugada até ao pescoço pelos exercícios de aparelho, pelas perigosas ligações de influência, pela mais abjecta despolitização, não percebeu, ou prefere não perceber, nada do que se passou, continuando entretanto, obstinadamente, a fazer frente a ambos. Já os ataques do Bloco de Esquerda, há dias intensificados, possuem uma natureza diferente. Eles reflectem, de alguma maneira, a distância que se tem vindo a estabelecer entre o Bloco original, o «de todas as cores», e aquele que agora conhecemos. Para o primeiro, que de certa maneira já pertence ao passado, o milhão e tal de pessoas, imersas em nebulosas mas sinceras expectativas, que apoiou Alegre, seria um aliado natural, de capacidades dinâmicas a explorar na busca de «outra política» face à gestão neoliberal desenvolvimentista promovida pelo «grande centro». Para o actual BE, que concentra a sua respeitável actividade nas laboriosas iniciativas parlamentares e em campanhas eleitorais personalizadas, ele parece-se mais com um concorrente no terreno. Julgo pois haver aqui um problema qualquer de comunicação. Ou então existem escolhas que tornam esta cada vez mais difícil.