Agora a morte de Michelangelo Antonioni (1912-2007), o realizador que nos ajudou a ver, como afirmou certa vez, «a realidade em termos que não são inteiramente os do realismo». Jamais esquecerei o trabalhador abandonado, infeliz e errante, de O Grito. Ou a paisagem industrial opressiva, mas ao mesmo tempo tão desmedidamente bela, de O Deserto Vermelho. Ou o deslizar de Vanessa Regrave sob câmara fotográfica inquieta, obsessiva, de Blow-Up. O cinema serve também para nos avivar a memória. Antonioni sabia-o muitíssimo bem.