À volta da «questão dos professores» todos os argumentos possíveis têm sido adiantados, tornando-se difícil dizer qualquer coisa que não tenha já sido dita e redita. Aliás [bocejo], isto mesmo já foi por mim aqui publicado e republicado. Associadas a essa repetição, a maioria das posições que encontramos na blogosfera têm tomado partido, de forma quase sempre unívoca e até um tanto agressiva, por uma das partes. Reforma boa contra imobilismo mau, professores malandros versus ministra boazinha, bruxa má contra santos inocentes, e por aí afora. Por isso, talvez valha a pena insistir que nada do que se prende com o assunto é simples e redutível a uma caricatura da intifada.
Todos sabemos que existem professores, provavelmente muitos e geralmente com a complacência dos sindicatos, que sendo «em princípio a favor de uma avaliação» se recusam a admitir uma que os distinga de facto de acordo com o trabalho executado, a preparação científica e os resultados obtidos. Daí a caricata contraproposta da Fenprof pretendendo colocar no primeiro e decisivo patamar do processo de qualificação dos docentes a auto-avaliação. Mas todos sabemos também que o Ministério, e principalmente alguns dos organismos que o representam no terreno – das direcções regionais a certos conselhos executivos mais fiéis -, têm modelado a sua actuação crispada pela imposição de normas burocráticas que mais têm a ver com a redução de despesas e a apresentação artificial de resultados que saiam bem na fotografia das estatísticas do que com a eficácia e a justiça do sistema de ensino que tutelam.
O pior serviço que se pode fazer na tentativa de solucionar o impasse em que estamos, promovendo uma verdadeira mudança nos padrões de funcionamento do ensino em Portugal, é pois generalizar discursos sobre a maldade ou a bondade dos professores ou do governo. Como se não existissem professores que pensam pela sua cabeça e têm sentido de justiça. Como se o governo fosse completamente insensível à opinião e à experiência daqueles que governa. Mas mau também, já agora, é divulgar, como acontece num artigo de Fernanda Câncio, a ideia de que só porque eleito e apoiado numa maioria parlamentar, absoluta ou não, este governo, ou qualquer governo, possa avançar toda a sorte de medidas insensatas, apresentadas como «reforma», sem o protesto, tumultuoso se necessário, sonoro sempre, dos cidadãos directamente afectados. A democracia não se esgota nas eleições – embora não as possa ignorar, evidentemente – e eu pensava que esse era um dado adquirido por todos os democratas. Mas, claro, no fogo da luta todos nós fazemos e dizemos coisas insensatas.