«Revolucionários profissionais» segundo o Que Fazer? (1902), de V. I. Lenine: Gustav Husák (76 anos, ex-desempregado, funcionário do Partido Comunista da Checoslováquia), Todor Jivkov (78 anos, operário tipógrafo, funcionário do Partido Comunista Búlgaro), Erich Honecker (77 anos, operário da construção civil, funcionário do Partido Comunista Alemão), Mikhail Gorbachev (58 anos, licenciado em economia, funcionário do Partido Comunista da União Soviética), Nicolae Ceausescu (71 anos, operário sapateiro, funcionário do Partido Comunista Romeno), Wojciech Jaruzelski (66 anos, camponês, militar, funcionário do Partido Comunista Polaco) e Janos Kádár (77 anos, operário tipógrafo, funcionário do Partido Comunista Húngaro).
Existem acasos curiosos. Lia no Expresso um artigo de José Pedro Castanheira sobre a eleição do novo Comité Central do Partido Comunista Português e a sua composição. Ali se referia que, dos seus actuais 158 membros, 100 são funcionários do partido, 6 são funcionários da JCP, e, dos restantes, a maioria tem ocupações como sindicalista a tempo inteiro, deputado ou autarca, mas antes de o serem foram também funcionários do PCP. Pouco depois, ao procurar uma matéria na Internet, dei de caras com a fotografia acima reproduzida, tirada em Bucareste a 7 de Julho de 1989, cerca de quatro meses antes da Queda do Muro de Berlim, durante a derradeira reunião dos chefes dos partidos e dos estados do Pacto de Varsóvia após a qual se tornaram irreversíveis «a destruição da URSS e as derrotas do socialismo no Leste da Europa» (in Teses do XVIII Congresso). E não pude deixar de reparar na composição social do grupo. Só o leitor poderá dizer se faz ou não algum sentido esboçar uma analogia entre os dois momentos.
Adenda – Não, não se trata de desvalorizar a inevitabilidade de funcionários desta natureza. Em democracia ou em ditadura, eles existem para cumprir profisionalmente determinadas tarefas. Mas sim de chamar a atenção para o estilo de «ligação à vida», comendo e respirando sempre o mesmo ar, que desenvolvem pessoas com vinte, trinta, cinquenta anos de casa como funcionários partidários ou sindicais. E o que isso provoca em partidos ou sindicatos nos quais a maioria esmagadora dos dirigentes se encontra nessa situação. Os da fotografia acabaram como se sabe.