Custa-me ouvir o Adriano Correia de Oliveira. E explico porquê. Não é pela simplicidade e pelo carácter datado dos arranjos musicais das suas canções: a sua voz, poderosa e afectiva, magoada às vezes, algumas das palavras que foi cantando enquanto por cá andou, quase os fazem esquecer. A verdade é que, ao escutá-las agora, viajo no tempo, recuando ao país-Portugal, sequestrado e em luto, no qual ele viveu quase toda a sua vida. Por isso, para mim que conheci esse país, ouvir hoje Adriano é como revisitar uma prisão, como ler as memórias de um torturado, como ver um documentário sobre a pátria que foi, como olhar a fotografia de um emigrante sozinho na Gare de Austerlitz. Dói-me e evito fazê-lo.