Agradecido

Óculos

Comecei por sofrer de astigmatismo, o que me fez usar óculos desde os 10 anos. Aos 14 declarei profundamente inestético, e mau para aliciar mancebas, aquele apêndice de massa castanho-escura, tendo andado uma década ou mais sem tal objecto encavalitado no nariz. Depois dos quarenta apareceu a miopia. Assustei-me quando sem a graduação apropriada deixei de poder ler as tabuletas da autoestrada – por causa disso perdi-me certa vez em Moscavide quando devia ir a caminho de Huelva -, mas recompus-me com uma colecção de próteses para ver ao perto, ao médio e ao longe, desktops e palmtops, livros e filmes, jogos de campo, de sala ou de mesa. Jamais perdi, porém, a mania de ler as letras miudinhas das bulas dos medicamentos, das obras em papel de arroz, das notas de rodapé. Quem olha os meus ecrãs avisa-me sempre que estou a dar cabo da vista de tão pequenos se mostram neles os caracteres. Talvez por isso, irritam-me um pouco aqueles documentos – recebo-os quase todos os dias – que ampliam o texto a 140, a 165, a 200 por cento. É como se alguém me gritasse aos ouvidos. A quem possa ter esse desagradável hábito e me envie habitualmente dóques, erre-tê-éfes ou xiz-éle-ésses com o zoom elevado a tamanho para ceguetas, peço pois o grande favor de arrepiar caminho. Agradecido.

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