São inquietantes, e muito, as manifestações de milhares de pessoas, junto às refinarias de Lindsey e de Grangemouth, à siderurgia de Teesside e à central eléctrica de Aberthaw, no Reino Unido, contra a presença de operários estrangeiros, sobretudo de portugueses e italianos. O apoio de alguns sindicatos britânicos a medidas xenófobas destinadas a protegerem o emprego dos trabalhadores locais – que em regra até há pouco rejeitavam as tarefas mais difíceis cumpridas pelos imigrantes – vem reforçar pesadamente a dimensão sinistra do episódio, mas indiciam também uma tendência que vem cruzando fronteiras.
Os nossos sindicatos, demasiadas vezes envelhecidos nos métodos, nas estratégias e até nos rostos, ainda não chegaram tão longe, mas mostram muitas vezes sintomas umbiguistas e corporativistas igualmente inquietantes. Refugiados numa dimensão ultrapassada e muitas vezes partidarizada da luta sindical, esquecem quase sempre os imigrantes (legais e ilegais, que raramente votam ou se sindicalizam), os jovens (que não constam dos seus planos e lhes pagam na mesma moeda), os desempregados e os reformados (que não são trabalhadores, não tendo por isso peso nos conflitos laborais), as mulheres (cujas especificidades reduzem quase sempre à condição supostamente paritária de trabalhadoras), acantonando-se também na defesa de algumas formas de proteccionismo que são, no mínimo, socialmente perigosas. Ainda não chegámos a Inglaterra, mas indícios de que nos podemos aproximar rapidamente do mau exemplo começam a surgir. E não só no horizonte.
PS – Houve entretanto quem «enfiasse a carapuça» a propósito deste brevíssimo comentário (que, obviamente, não é «análise» alguma). Nele não se atacam «os sindicatos», como qualquer leitor que não leia isto no «registo do acossado» facilmente percebe. Referem-se apenas algumas características presentes na prática de um certo modelo de sindicalismo. Velho, dependente, autofágico, e, é esse o problema aflorado, tendencialmente corporativista.