A culpa não é do norte

Quando Cavaco Silva comentou no Porto o «caso sério» consubstanciado na vaga de criminalidade organizada que tem afectado o outrora florescente «negócio da noite» da cidade, referindo a necessidade de investigá-la criteriosamente, teve o cuidado de enfatizar o facto de «já terem ocorrido também problemas destes em Lisboa». Como quem diz: «não leveis a mal, mui nobres e sempre leais cidadãos da Invicta urbe, pois isto de perseguir estes gangsters não se trata de uma agressão torpe e soez dos sarracenos da capital». Cavaco, que para mais é quase berbere – algarvio, para ser mais preciso –, sofre também dessa «culpa do homem do sul» que tende a afectar um grande número dos nossos políticos nascidos abaixo da bacia hidrográfica do Douro, tratando o Porto com os paninhos particularmente aquecidos que não utilizam quando têm de lidar com Valença do Minho ou Vila Pouca de Aguiar. Eu se fosse do Porto sentir-me-ia seriamente descriminado.

    Apontamentos.