Ainda que com atraso, não posso deixar de referir a merecida atribuição do Prémio Pessoa 2007 à historiadora Irene Flunser Pimentel. Para além desta distinção chamar a atenção de um público alargado para releituras não-assépticas de alguns temas da história portuguesa recente (as organizações femininas no Estado Novo, os judeus em Portugal durante a Segunda Guerra Mundial, a PIDE e a censura, a propaganda da Mocidade Portuguesa Feminina, e, ao que se anuncia, também a vida de José Afonso), ela valoriza igualmente a requalificação da História como instrumento da cidadania. Permitindo ver de que forma se podem conjugar método e rigor com esse «dever de memória» que constitui, afinal, desde pelo menos Heródoto, a essência da própria actividade historiográfica. E mostrando como, neste campo, é possível – e também urgente – escrever ao mesmo tempo para dentro e para fora da academia. Sem que essa escolha implique necessariamente uma simplificação do discurso ou um abrandamento do seu grau de fundamentação. Os meus parabéns a Irene Pimentel.