Parece-me escusada a entrevista que Maria Eugénia Neto, a viúva de Agostinho Neto, deu ao Expresso. E não gostei de ver o Expresso publicar uma entrevista que apenas serve para desvalorizar a personalidade da entrevistada e nada acrescenta a nada. As suas posições são ambíguas, fugidias, estão mal explicadas ou mostram algo que não se percebe muito bem se é astúcia ou simples dislate. A informação que oferece é nula: a entrevistadora parece até melhor informada que a entrevistada sobre os assuntos que esta supostamente deveria conhecer. E os comentários que Maria Eugénia faz aos momentos e episódios mais dramáticos da história angolana dos últimos 35 anos são sempre esquivos e irrelevantes: «não sei como foi», «não me apercebi», «são coisas em que não meti o nariz», «não quero entrar em pormenores», «estou-lhe a dizer que não sei», «não quero falar disso», [Neto] «não devia saber», [em casa] «não falava de coisas políticas». Para além das referências às circunstâncias dos primeiros anos da sua vida com Agostinho Neto, a parte mais afirmativa da entrevista ocorre quando, ao referir-se a Dalila Cabrita Mateus (co-autora do livro Purga em Angola, no qual se redescobre o golpe sangrento de 27 de Maio de 1977), considera que esta «é desonesta, é mentirosa». Porém, quando a jornalista pergunta, a propósito das informações avançadas no livro, «então quantas pessoas morreram?», a resposta daquela que era então a mulher do principal responsável do MPLA e do Estado angolano é tristemente esclarecedora: «Não sei, não estava dentro de nada. Mas isso é mentira».