Em O Estilo do Mundo. A vida no capitalismo de ficção, Vicente Verdú separa três modelos de capitalismo: o de produção, centrado na mercadoria, encerrado com a Segunda Guerra Mundial; o de consumo, rematado com a demolição do Muro de Berlim e apoiado na transcendência dos signos; e o de ficção, com o qual convivemos desde os começos dos anos noventa, que enfatiza a teatralidade e o espectáculo. A cada um deles alia sinais: primeiro o estrondo das máquinas industriais, depois os jingles dos anúncios comerciais, finalmente o cintilar dos engenhos electrónicos. Mas também estados de espírito: o capitalismo de produção era triste, o de consumo foi trivial, agora o de ficção é lúdico e enganador. Fundado no prazer, na sedução e no logro da imortalidade, define características preocupantes, como uma tendência homogeneizadora que os processos da globalização acentuam, uma infantilização dos costumes alargada a toda a vida, uma competitividade que desvaloriza o humano em detrimento do desejo de superação do próximo, de vitória sobre os outros. Detectam-se, todavia, alguns sinais de esperança, como a vaga de defesa dos particularismos e das identidades, o desenvolvimento das organizações humanitárias, o alargamento dos movimentos pacifistas, a emergência de um feminismo libertador, uma consciência ecológica sem precedentes. O capitalismo de ficção terá, afinal, inflamado o crescimento de factores que poderão levar à sua própria destruição. É este, pelo menos, o desejo de Verdú. [Trad. de Pedro Santa María de Abreu. Fim de Século, 248 págs. Originalmente na LER de Fevereiro.]