Dois dos mais respeitáveis jornais portugueses – o Público e A Bola – oferecem todas as sextas-feiras um indigente «semanário gratuito» chamado Sexta. Esta semana, o Sexta saiu também no sábado coincidente com o Dia Internacional da Mulher. Sempre «actual», o jornal oferece-nos por isso um «Especial Mulher», patrocinado pela Dove, que transporta a toda a largura da capa, acompanhada de um agradável rosto feminil, a frase «A beleza não tem idade». E aborda todos esses magnos problemas relacionados com tamanho das pálpebras, textura do cabelo, maciez da pele e manutenção da linha que, como se sabe, fazem a cabeça em água às mulheres, já que os homens não se querem bonitos e têm assuntos mais graves com os quais se devem preocupar. Ainda mal desperto, considerei a hipótese de ter retrocedido no calendário até aos anos trinta, quando se mostravam já ténues os ecos da primeira vaga feminista e a segunda tratava ainda de aprender a gatinhar. E, por breves instantes, voltei a datas e a lugares nos quais estas atitudes não eram olhadas com tanta indiferença.