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Porque não podem passar nas Eleições Europeias

A exclamação «Não Passarão!» remonta à Batalha de Verdun, ocorrida em 1916, pronunciada então pelo general francês Robert Nivelle. Mais tarde, durante a Guerra Civil Espanhola, foi usada entre 1936 e 1939, durante a defesa de Madrid, pela dirigente comunista Dolores Ibárruri, «La Pasionaria», inspirada num cartaz republicano de Ramón Puyol. Destinava-se a mobilizar a resistência contra a insurreição militar que procurava derrubar a República, da qual viriam a resultar, após mais de meio milhão de mortos e o triplo de feridos e prisioneiros, a vitória do franquismo e quatro décadas de feroz ditadura. A partir dessa altura, o lema passou a exprimir por toda a parte e em todas as línguas a determinação de resistir aos fascismos e a quem deles partilhe metas e métodos.

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    Atualidade, Democracia, Olhares, Opinião

    Schutzstaffel e extrema-direita

    A Schutzstaffel, palavra composta alemã que em português se pode traduzir por «tropa de proteção», é vulgarmente conhecida pelo seu acrónimo SS. Sim, refiro-me à força de elite composta por voluntários à disposição de Hitler, a quem jurava absoluta fidelidade, sujeita a critérios de seleção apurados e destinada a executar as operações mais difíceis e cruéis, que os militares e polícias normais muitas vezes tinham relutância em realizar. De 1929 até o colapso do regime em 1945, a SS foi a principal agência de segurança, vigilância e terror na Alemanha e na Europa ocupada, sendo particularmente responsável pelas ações de extermínio, muitas indiscriminadas, e pelo funcionamento mecânico e implacável dos campos de concentrações.

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      Devaneios, História, Opinião

      É preciso não calar

      Os termos nos quais hoje o jornalista Manuel Carvalho, do Público, aborda o tema do constante linguajar ofensivo do Chega – dirigido a etnias, a nacionalidades, a mulheres, a ciganos, a negros, a pessoas LBGTQIA+ ou simplesmente a cidadãos de esquerda – é típica de um modo de encarar este problema que me parece não apenas errado, mas inaceitável. Considera basicamente MC que o alarido levantado à volta do tema apenas favorece os deputados do Chega e o seu crédito junto de parte importante do eleitorado. Acaba, como muita gente também faz, por defender que se deve evitar levantar a questão em demasia. Como antes outras pessoas achavam que não se deveria nomear sequer a Ventura e ao seu partido, deixando-lhes na verdade o campo livre. A história do século XX, como a deste que agora partilhamos, está recheada de exemplos sobre o modo como ignorar a extrema-direita – ou os movimentos de pendor totalitário de uma forma geral – apenas tem servido para lhes dar lastro e espaço de manobra. Fazer política é também, talvez até sobretudo, divulgar a tolerância e a civilidade, combatendo abertamente, ao mesmo tempo, quem as rejeita.
      [originalmente no Facebook]

        Apontamentos, Democracia, Opinião

        A Palestina, Israel e a paz como causa comum

        Existe um alarme global associado aos últimos desenvolvimentos do conflito palestiniano-israelita e às suas ondas de choque. Longe da inquietação ou da indignação sentida pelos que, sobretudo na Europa ou nos Estados Unidos, no conforto das suas vidas, dele colhem apenas o eco, os povos da região, muitos israelitas, mas em particular a população civil de Gaza, têm vivido de forma dramática esta nova fase de violência generalizada. Começou a 7 de outubro de 2023 com o ataque infame do movimento islamita Hamas sobre populações civis de Israel, prosseguindo com as brutais represálias do governo de Benjamin Netanyahu, lançadas em escala absolutamente desproporcionada e destinadas a reduzir ainda mais as áreas sob controlo palestiniano.

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          Três modos de olhar o 25 de Abril nos seus 50 anos

          Nos últimos meses têm sido intensamente comemorados, lembrados e interpretados o 25 de Abril, as difíceis lutas que o viabilizaram e os tempos agitados e criadores que o seguiram. Divulgados também inúmeros testemunhos, a maioria verdadeiros, úteis e exemplares, outros algo empolados, reescritos ou mesmo forjados. As invenções, todavia, nem sempre são propositadas, já que são produzidas por quem, de forma genuína, confunde situações vividas e outras sobre os quais apenas leu ou ouviu falar, combinando vivências e sentidos colhidos em diferentes fases. A «memória construída», reconhecida hoje pelas ciências cognitivas, é um processo de leitura do passado que tende a refazê-lo ou a mascará-lo, sendo, porém, bastante útil como forma de compreender o momento em que se revela e também quem a tece.

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            Etc.

            Sobre uma decisão

            Partilho uma decisão pessoal com quem me segue nas redes sociais e tem acompanhado em artigos de opinião e campanhas de natureza cívica. 

            Apenas tive atividade partidária entre 1971 e 1977, ligado então a uma organização da esquerda revolucionária da qual saí mais por razões de natureza ética do que política. O distanciamento político surgiu depois e veio devagar, se bem que a evolução pessoal jamais colidisse com valores fundamentais de solidariedade e justiça que cedo adotei e jamais deixei de partilhar. 

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              Democracia, Novidades, Olhares, Opinião

              Coimbra, o movimento estudantil e o 25 de Abril

              É muitas vezes evocada a importância do movimento estudantil na resistência ao Estado Novo e o seu importante contributo para a queda do regime caduco e injusto que o sustentou. Infelizmente, esta evocação é com frequência bastante parcial, sendo acompanhada de um esquecimento de vários dos seus importantes momentos, escolhas e protagonistas. Esta tendência determina perspetivas incompletas, que relativizam o papel crucial e de longo fôlego, para a vitória da democracia, da intervenção política e cultural de sucessivas gerações de estudantes. Nos cinquenta anos de Abril, vale a pena mencionar esta lacuna centrando a atenção no caso de Coimbra e nos últimos anos do anterior regime.

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                Coimbra, Democracia, História, Olhares

                O 25 de Abril e a (falta de) cultura

                «Maioria diz que democracia é “preferível”, mas 47% apoiariam “um líder forte” sem eleições». O título encima no Público uma notícia destacada sobre um significativo estudo do ISCSP de que o jornal foi parceiro. Conhecendo razoavelmente o meu país e estes cinquenta anos de história, não tenho dúvida alguma em afirmar que uma das razões desta tendência – não a única, é claro, mas uma das principais – se funda na ignorância do passado e na falta de densidade cultural da maioria dos cidadãos, com a qual o regime democrático e a generalidade dos partidos, aceitando nivelar a instrução básica por baixo e fazendo da área da cultura sobretudo um bibelô, sempre contemporizou. [originalmente no Facebook]

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                  Uma homenagem e um equívoco

                  É hoje, 17 de Abril, quando se completam 55 anos sobre o episódio que desencadeou a «crise académica» de 1969, inaugurado em Coimbra pelo PR um mural de homenagem àquele momento que é centrado em Alberto Martins, então o presidente da AAC e o seu mais conhecido protagonista, dado o papel que teve ao pedir a palavra em nome dos estudantes. Parece-me bem e justo, embora discorde da forma como o episódio, que teve uma natureza coletiva e distendida no tempo, continua a ser recordado e representado como centrado num momento e numa só pessoa, que «apenas» foi instada – como a própria ainda há dias reconheceu num debate em que também participei – a falar em nome de todos.

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                    Não banalizar o fascismo

                    É de todo contraproducente, além de um erro histórico gritante, apelidar de fascismo o que não é fascismo, apenas porque o objeto assim apelidado corresponde a escolhas e atitudes que articulam com posições de natureza conservadora ou assumidamente de direita. A extrema-direita atual, tirando curtas franjas completamente retrógradas e que ainda sentem nostalgia pelos regimes fascistas do século passado, não é formalmente fascista: é antes populista e xenófoba, mas também neoliberal e defensora das possibilidades que a democracia lhe oferece. Chamá-la de «fascista» é anacrónico e instala a confusão, desarmando os cidadãos perante as suas iniciativas, de uma natureza bem diversa da dos fascistas do século passado.

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                      Um «fim de ciclo» de Abril?

                      As últimas legislativas e a mudança de orientação política da governação coincidiram com o cinquentenário da Revolução de Abril, proporcionando, a par de uma maioria de sínteses, evocações e interpretações globalmente positivas, um conjunto de leituras e afirmações de sinal contrário. Este não emerge como fruto do acaso. Refiro-me ao surgimento, nos setores partidários de direita e de extrema-direita, em parte significativa do universo do comentário político público e mesmo junto de bom número de eleitores, de posições que qualificam este momento do nosso trajeto coletivo como «fim de ciclo». Alguns, mais afoitos ou embalados por um clima de impunidade sobre quem se declara contra a democracia, têm falado até de «enterrar o 25 de Abril».

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                        Afinal, andávamos bastante enganados

                        No final do século passado, quando da emergência na Europa e nas Américas da atual vaga da extrema-direita populista, mantinha-se em Portugal, entre quem observava a paisagem política sob uma perspetiva democrática, a convicção de que ela jamais cá chegaria. Em diferentes quadrantes, no campo plural da esquerda, mas também entre setores moderados do centro-direita, cultivou-se a ideia de que a memória da ditadura, a inclusão na União Europeia e as conquistas de Abril e da democracia – capazes de erguer um país muito mais livre, próspero, pacífico e justo do que aquele desaparecido em 1974 – seriam o bastante para desviar para bem longe aquela negra nuvem. 

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                          O óbvio, antes que esqueça

                          Parece-me mais ou menos óbvio que nesta altura de viragem entre nós, o combate da esquerda plural, tanto no isolamento e no afastamento do populismo de extrema-direita como na busca para procurar evitar perder os inegáveis, ainda que sem dúvida insuficientes, avanços progressistas gradualmente obtidos a partir de 2015, passa por uma aproximação política e até orgânica das suas partes. Defendo-o há muito, se bem que quase sempre a nadar contra as marés do sectarismo ou da simples cegueira política. Isto não exclui, é claro, as diferenças, algumas bastante fortes e históricas, que existem entre as suas partes, mas tende a relevar, e sobretudo a desenvolver, aquilo que, no essencial, se não as une, por certo as pode aproximar.

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                            A esquerda e o medo da controvérsia

                            Chama-se controvérsia a toda a discussão sobre um tema ou uma opinião na qual são debatidos argumentos contrários, geralmente de uma forma acalorada e em tom de polémica. Ainda que ocorrida em tom amigável, assume quem a alimenta a existência de discordâncias importantes com a pessoa ou pessoas com quem a trava. Contém importantes vantagens, uma vez que permite exprimir diferentes modos de pensamento ou escolhas diversas, ajudando a alimentar a vida comum e, muito especialmente, a democracia, que sem ela tende a viver na estagnação e na incapacidade para lidar com a rápida transformação do mundo e fluidez da vida coletiva.

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                              Longe da vista, longe da cabeça

                              No século XIX um conjunto de teóricos urbanistas defendeu, diante do crescimento das cidades e da sua população marginalizada e politicamente instável, a necessidade de afastar as «classes pobres» para as periferias das cidades. Assim, pensavam, se reduziria o perigo que representavam para os poderosos, e os centros urbanos seriam mantidos mais bonitos, mais limpos e mais tranquilos. Na Paris dos meados desse século foi particularmente importante a atividade do perfeito Barão Haussman, o «artista demolidor». O projeto de renovação da cidade que levou a cabo teve como objetivo, além de tornar a cidade de certo modo mais bela e imponente, pôr termo às constantes revoltas populares e barricadas. Ao mesmo tempo, serviu para expulsar os antigos moradores das ruelas centrais e aqueles que, havia pouco tempo, ali tinham afluído vindos das áreas rurais. Para a burguesia parisiense, em breve essa população se tornou uma realidade quase inexistente, confinada a escassas e necessárias atividades importantes para o aprovisionamento da capital.

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                                Todas as pessoas de formação progressista, e também, não tenho qualquer dúvida, um bom número das que são estruturalmente conservadoras ou mesmo de direita, embora de formação democrática, estão em choque com a semi-vitória do Chega nas eleições do passado domingo. Ainda que ela fosse esperada, existia sempre um esperança de as sucessivas sondagens estarem enganadas, mas se o estavam foi porque pecaram por defeito. A verdade é esta, bem crua: em cada mil eleitores, 180 votaram num partido sem um programa claro, para além de um cúmulo de ódio de natureza racista, xenófoba, contra a igualdade de género, homofóbica, e igualmente passadista, antieuropeia e apostada no desmantelamento do Estado social, seja no campo da saúde, da educação, da segurança social ou da cultura. A meta é, destruir a democracia, trocando-a por um populismo desvairado de extrema-direita, ou, como proclamava um apoiante mais sincero desse partido, «acabar com o 25 de Abril».

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                                  Antes de um texto mais extenso e minimamente fundamentado, algumas notas, contendo ideias avulsas e ainda um tanto desarrumadas, a propósito das eleições deste domingo.

                                  1. O grande vencedor foram as televisões e alguma imprensa, que, em favor da direita, conseguiram condicionar o eleitorado. Justamente em condições de crescimento económico e de melhoria gradual de vida no país, ainda que com naturais problemas, disseminando uma inventada imagem de caos e de corrupção, e quase apagando a memória dos anos terríveis e que se supunham traumáticos do governo de direita de 2011-2015. Isto no ano do cinquentenário de Abril.

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                                    Um dia que não é como os outros

                                    Sempre me pareceu dispensável o «dia de reflexão». Refiro-me às vinte e quatro horas que, entre nós e em mais alguns países, antecedem cada jornada eleitoral, sendo durante elas proibida qualquer iniciativa julgada perturbadora do sentido do voto ao influenciar, direta ou indiretamente, o eleitor. Por este motivo, além de as campanhas partidárias terminarem quando elas se iniciam, não podem então ser transmitidas, di-lo a Comissão Nacional de Eleições, «notícias, reportagens ou entrevistas que de qualquer modo possam ser entendidas como favorecendo ou prejudicando um concorrente às eleições em detrimento ou vantagem de outro». Ainda assim, não vamos tão longe por cá quanto os argentinos, que durante dois dias suspendem até as peças de teatro e os concertos. 

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