Problemas à esquerda (1)
Naquele inverno de 1999-2000 participei em algumas das primeiras iniciativas do Bloco de Esquerda. Numa delas tive uma experiência singular: um almoço, entre duas sessões de trabalho, partilhado por largas dezenas de pessoas, ativistas de diversas origens, muitos deles a viver ali reencontros tantas vezes adiados, que durante a refeição se esforçaram visivelmente, algumas com aparente êxito, outras de maneira desajeitada, por contornar tudo aquilo que pudesse recordar as antigas desavenças e as clivagens um dia consideradas insanáveis. Sensivelmente as mesmas, vindas ainda das querelas dos anos 60 e 70, que durante décadas haviam azedado relações pessoais e políticas, fixando-se nas posições irredutíveis, presas a princípios e idiossincrasias mas quase sempre com zero em sentido prático, que tinham condenado a «esquerda da esquerda» à irrelevância. Agora, no entanto, tudo era possível: o luto da revolução falhada parecia feito e aquele tempo configurava-se como de viragem e superação, voltado para a criação de uma experiência realmente nova. (mais…)