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Perigo no Reino Unido

As notícias sobre a vitória incontestável e estrondosa do Partido Trabalhista nas eleições gerais que tiveram lugar ontem no Reino Unido, com 412 deputados e 9,8 milhões de votantes para os 121 dos conservadores, com 6,8 milhões, merecem um olhar cuidado. Desde logo porque ela apenas foi possível com uma considerável inflexão dos trabalhistas ao centro, o que lhes poderá ter concedido a fácil vitória, mas os irá forçar também a manter compromissos que facilmente trarão problemas e descontentamento.

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    Objetivo: esperança

    O que está a ocorrer em França e que as eleições em curso mostram com clareza, como, em diferentes tonalidades, está também a acontecer na generalidade das democracias, é um renascimento e um avanço da extrema-direita. Apoiada hoje, não em ideologias de superioridade étnica e em grupos de choque nas ruas, mas nas estratégias oblíquas do populismo e na suja manipulação da informação e da verdade, cavalgando, ao mesmo tempo, as facilidades, a degradação dos projetos e um estado de entorpecimento presentes entre as forças progressistas. Talvez isto possa servir de safanão para que estas possam despertar do torpor e do hábito, abandonando o sectarismo e abrindo-se mais à inovação dos projetos e à colaboração entre si. Trata-se de uma esperança, é certo, mas de esperança sempre se alimentou o que de mais positivo emergiu do trajeto humano.
    [Originalmente no Facebook]

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      O 25 de Novembro que foi (e o deles)

      Muito tem sido escrito por aí, nestes tempos mais próximos, sobre os acontecimentos de 25 de Novembro de 1975. A começar por reflexões de pessoas, historiadores e não só, que sabem do que estão a falar, e a terminar em banalidades ou atestados de ignorância. Limito-me, pois, a um banal parágrafo. Para resumir muito resumidamente, vou ao essencial: o que aconteceu naquele dia traduziu-se historicamente numa vitória do Partido Socialista, da «ala moderada» do MFA e, em consequência, do modelo constitucional da democracia representativa. Marcou também, como toda a gente sabe, o termo da fase necessariamente experimental e mais intensa da nossa revolução democrática. Recordo-me de, na manhã do dia seguinte, ter acordado tristíssimo e com uma sensação amarga de «fim da utopia». A tentativa de aproveitamento da direita e da extrema-direita para os seus objetivos revanchistas, procurando construir um sentido simbólico sem qualquer referente histórico ou o menor fundo de verdade, é patética. Mas também significativa e perigosa, sobretudo por estar a inquinar a opinião pública.

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        Três reflexões em tempo de pós-europeias

        1. A primeira coisa que um observador progressista dotado de razoável sentido de realismo político dirá é que os resultados globais das eleições para o Parlamento Europeu não foram tão maus quanto se esperava. Ao contrário de muitas sondagens e de diversos textos de reconhecidos analistas, a extrema-direita populista, apesar de ter crescido – e isso aconteceu particularmente em dois estados centrais, como a França e a Alemanha – não conseguiu, longe disso, impor uma maioria soberanista e antidemocrática. Ao contrário, os partidos democráticos do centro-direita e os do centro-esquerda, mantêm-se em maioria, o que augura, se nada inesperado acontecer, cinco anos de laboriosas negociações e, em muitos casos, de impasses. Em contrapartida, as forças associadas à política verde e às causas da esquerda recuaram de uma forma inquestionável, o que é uma má notícia, reduzindo a possibilidade de uma reformulação da política europeia no sentido cada vez mais imperioso da proteção do clima, da solidariedade social e da defesa da paz e dos refugiados. 

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          É preciso não calar

          Os termos nos quais hoje o jornalista Manuel Carvalho, do Público, aborda o tema do constante linguajar ofensivo do Chega – dirigido a etnias, a nacionalidades, a mulheres, a ciganos, a negros, a pessoas LBGTQIA+ ou simplesmente a cidadãos de esquerda – é típica de um modo de encarar este problema que me parece não apenas errado, mas inaceitável. Considera basicamente MC que o alarido levantado à volta do tema apenas favorece os deputados do Chega e o seu crédito junto de parte importante do eleitorado. Acaba, como muita gente também faz, por defender que se deve evitar levantar a questão em demasia. Como antes outras pessoas achavam que não se deveria nomear sequer a Ventura e ao seu partido, deixando-lhes na verdade o campo livre. A história do século XX, como a deste que agora partilhamos, está recheada de exemplos sobre o modo como ignorar a extrema-direita – ou os movimentos de pendor totalitário de uma forma geral – apenas tem servido para lhes dar lastro e espaço de manobra. Fazer política é também, talvez até sobretudo, divulgar a tolerância e a civilidade, combatendo abertamente, ao mesmo tempo, quem as rejeita.
          [originalmente no Facebook]

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            O 25 de Abril e a (falta de) cultura

            «Maioria diz que democracia é “preferível”, mas 47% apoiariam “um líder forte” sem eleições». O título encima no Público uma notícia destacada sobre um significativo estudo do ISCSP de que o jornal foi parceiro. Conhecendo razoavelmente o meu país e estes cinquenta anos de história, não tenho dúvida alguma em afirmar que uma das razões desta tendência – não a única, é claro, mas uma das principais – se funda na ignorância do passado e na falta de densidade cultural da maioria dos cidadãos, com a qual o regime democrático e a generalidade dos partidos, aceitando nivelar a instrução básica por baixo e fazendo da área da cultura sobretudo um bibelô, sempre contemporizou. [originalmente no Facebook]

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              Uma homenagem e um equívoco

              É hoje, 17 de Abril, quando se completam 55 anos sobre o episódio que desencadeou a «crise académica» de 1969, inaugurado em Coimbra pelo PR um mural de homenagem àquele momento que é centrado em Alberto Martins, então o presidente da AAC e o seu mais conhecido protagonista, dado o papel que teve ao pedir a palavra em nome dos estudantes. Parece-me bem e justo, embora discorde da forma como o episódio, que teve uma natureza coletiva e distendida no tempo, continua a ser recordado e representado como centrado num momento e numa só pessoa, que «apenas» foi instada – como a própria ainda há dias reconheceu num debate em que também participei – a falar em nome de todos.

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                Não banalizar o fascismo

                É de todo contraproducente, além de um erro histórico gritante, apelidar de fascismo o que não é fascismo, apenas porque o objeto assim apelidado corresponde a escolhas e atitudes que articulam com posições de natureza conservadora ou assumidamente de direita. A extrema-direita atual, tirando curtas franjas completamente retrógradas e que ainda sentem nostalgia pelos regimes fascistas do século passado, não é formalmente fascista: é antes populista e xenófoba, mas também neoliberal e defensora das possibilidades que a democracia lhe oferece. Chamá-la de «fascista» é anacrónico e instala a confusão, desarmando os cidadãos perante as suas iniciativas, de uma natureza bem diversa da dos fascistas do século passado.

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                  O óbvio, antes que esqueça

                  Parece-me mais ou menos óbvio que nesta altura de viragem entre nós, o combate da esquerda plural, tanto no isolamento e no afastamento do populismo de extrema-direita como na busca para procurar evitar perder os inegáveis, ainda que sem dúvida insuficientes, avanços progressistas gradualmente obtidos a partir de 2015, passa por uma aproximação política e até orgânica das suas partes. Defendo-o há muito, se bem que quase sempre a nadar contra as marés do sectarismo ou da simples cegueira política. Isto não exclui, é claro, as diferenças, algumas bastante fortes e históricas, que existem entre as suas partes, mas tende a relevar, e sobretudo a desenvolver, aquilo que, no essencial, se não as une, por certo as pode aproximar.

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                    Longe da vista, longe da cabeça

                    No século XIX um conjunto de teóricos urbanistas defendeu, diante do crescimento das cidades e da sua população marginalizada e politicamente instável, a necessidade de afastar as «classes pobres» para as periferias das cidades. Assim, pensavam, se reduziria o perigo que representavam para os poderosos, e os centros urbanos seriam mantidos mais bonitos, mais limpos e mais tranquilos. Na Paris dos meados desse século foi particularmente importante a atividade do perfeito Barão Haussman, o «artista demolidor». O projeto de renovação da cidade que levou a cabo teve como objetivo, além de tornar a cidade de certo modo mais bela e imponente, pôr termo às constantes revoltas populares e barricadas. Ao mesmo tempo, serviu para expulsar os antigos moradores das ruelas centrais e aqueles que, havia pouco tempo, ali tinham afluído vindos das áreas rurais. Para a burguesia parisiense, em breve essa população se tornou uma realidade quase inexistente, confinada a escassas e necessárias atividades importantes para o aprovisionamento da capital.

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                      O dogmático falhado

                      Poucas vezes escrevo apontamentos num registo autobiográfico. Entre outros motivos, porque sei que a autobiografia é sempre complacente e, em consequência, porque experimento algum pudor em expor aos outros essa indulgência. Porém, de vez em quando lá liberto um episódio, no qual, de uma forma óbvia, aos meus próprios olhos sairei bastante favorecido. Este é a propósito da tendência natural que tenho para resistir ao pensamento dogmático e às atitudes que, por fé, medo ou ignorância, excluem o olhar sempre crítico, embora em regra convicto, que nesta vida procuro manter.

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                        O problema de Santos e a arma de Ventura

                        A análise política não se faz com desejos, mas com capacidade crítica e um permanente mergulho na realidade. Por muito que gostasse de o fazer, não considero, ao contrário do que alguns amigos e amigas estão a declarar enfaticamente, que Pedro Nuno Santos tenha ganho por muito – e menos ainda que tenha «esmagado» – o seu embate com André Ventura no ecrã da TVI/CNN. Não falamos aqui de razões ou de justeza, campos onde PNS está milhas à frente do seu opositor, mas de captação de emoções e passagem de mensagens curtas e rápidas, domínios em que Ventura, como todos os líderes populistas, é naturalmente mestre.

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                          Maus debates, pobres comentários

                          Os debates televisivos sobre as eleições têm sido um fiasco e revelam-se muito pouco úteis para quem os procure para genuinamente esclarecer o seu sentido de voto. Têm pouco tempo disponível e decorrem apressadamente, são constantemente interrompidos por moderadores agressivos que têm a sua própria agenda, e organizam-se como combates de galos, onde se espicaça sempre a agressividade. Não por culpa de todos os políticos presentes – pelo contrário, excetuando Ventura e o rapaz da IL, que estão ali precisamente para dar espetáculo grátis -, mas devido ao modelo escolhido e aos interesses das televisões, empenhadas em nivelar por baixo e assim obter melhores audiências.

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                            A quem serve a ideia de «crise social»?

                            Todos os índices oficiais conhecidos – sejam sobre o crescimento económico, a situação do desemprego, a segurança dos cidadãos ou os direitos humanos – apontam para que vivamos num país onde, mesmo que apenas à escala europeia, e num contexto global de grande incerteza, com algumas nuvens negras no horizonte, a vida da maioria das pessoas decorre num patamar positivo. Ou pelo menos tranquilo. Não que não existam desigualdades e injustiças, problemas nos serviços de saúde e na habitação, setores profissionais descontentes ou com problemas bem reais. Mas isto acontece como em todas as democracias e, muito pior do que nestas, em todas a ditaduras.

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                              Polícia: ainda que mal pergunte

                              Na pele de sujeito diariamente empenhado na vida da ‘civitas’, apesar de não poder ficar indiferente às movimentações reivindicativas da polícia, admito que, sabendo da forma como estas estão hoje a ser instrumentalizadas pela direita – e mesmo considerando a justeza de algumas das suas reivindicações materiais – tenho procurado não olhar muito para as imagens que delas nos chegam. Fi-lo ontem e o que vi apenas confirmou aquilo que já sabia e, para não me incomodar, fazia por evitá-lo.

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                                Programas eleitorais apenas reivindicativos

                                Leio com cuidado as propostas mais destacadas que os dois principais partidos à esquerda do PS adiantam para esta campanha eleitoral. Tenderia a dizer, não que «concordo com tudo», pois algumas apontam para medidas de governo dificilmente exequíveis, mas que estou de acordo com as áreas de intervenção governamental onde elas são necessárias, em alguns casos mesmo urgentes. Trata-se de medidas que aproximem a sociedade portuguesa de um melhor quadro de justiça social e de bem-estar nos domínios da habitação, da saúde, da educação, da justiça fiscal, da legislação laboral, da comunicação social, da corrupção, do clima, dos salários, das pensões e do combate à pobreza. Para todas, em diferentes escala, reivindicações concretas, que apontam para medidas possíveis e outras impossíveis, ainda que todas, sem a menor dúvida, muito desejáveis.

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                                  Sou fiel leitor do Diário de Notícias desde os finais dos anos 50. Foi o meu avô paterno, seu correspondente e representante local, quem, antes ainda da primária, me ensinou a ler pelas então enormes páginas do jornal, transmitindo-me ao mesmo tempo esse vício da informação e sede de notícias que me acompanha até hoje. Tinha 5 anos e o avô Manuel gostava de me exibir aos amigos, como um macaquinho de bibe, lendo-lhes notícias inteiras. Que, obviamente, pouco ou nada compreendia.

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                                    Ultrapassado o período do Natal e do novo ano, no qual boa parte das pessoas presta pouca atenção a tudo o que vai para além do seu círculo pessoal e familiar, entramos agora, aqui em Portugal, nos cerca de dois meses que nos vão levar às eleições legislativas antecipadas. Partilharei regularmente aqui o que me parecer poder ter algum interesse público. Para já, refiro apenas dois princípios sobre os quais tenho já poucas dúvidas.

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