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Outra escola

Jacques Delors
Jacques Delors

Vi e ouvi com atenção e algum respeito a entrevista que, na noite desta sexta-feira, Adriano Moreira, um homem de direita mas um sábio, concedeu à SIC. Independentemente da lucidez da análise – e até da sua justeza, nomeadamente quando criticou a incapacidade do governo atual para ter uma política externa mais consentânea com a defesa firme da soberania («O poder da voz não é para ser usado onde a voz tem poder?») – impressionou-me a estirpe de político em vias de extinção que este veterano de 90 anos representa. Teve, como tanta gente, manchas pesadas no percurso – e foi até o jovem ministro do Ultramar de Salazar no primeiros anos da Guerra Colonial – mas é um bom exemplo do que nos podia oferecer a velha escola desses políticos de visão panorâmica que dificilmente encontramos hoje.

Não contou para eles o terem sido formados em técnicas de contorcionismo, retórica e amiguismo nas juventudes e nos aparelhos partidários, ou nos gabinetes das comissões concelhias e das autarquias, mas o facto de serem homens de cultura, de leituras profundas, com vasta formação académica e experiência de vida que lhes permitia ver mais longe e mais fundo, usando a história, a estratégia, o conhecimento do humano, a política de longo alcance como instrumentos de orientação, que depois a inteligência e o carisma completavam. Faz-nos falta gente desta qualidade. Que não fala de ouvido e tem um desígnio. Da qual podemos discordar justamente porque nos pôs a pensar. Que nos ajuda a pensar porque não diz o que se espera, mas aquilo que poucos vêem. Mesmo quando estamos quase sempre no lado oposto ao da sua barricada.

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    «Per’aí!»

    Estamos já, aqui no retângulo, bem entrados no âmago da fase «Per’aí!». Depois de duas horas passadas a ver na televisão debates sobre a atual situação política, pode concluir-se que, independentemente do quadrante a que pertencem, todos os comentadores seguem a mesma linha de raciocínio. Dispõe-se ela por sete etapas, sucessivas e muito rápidas, que passo a enumerar.

    1º) Faz-se a arqueologia da crise, que remonta aos tempos remotos (há 17 dias já, repare-se bem!) em que Vitor Gaspar escreveu uma carta de demissão; 2º) Resume-se o último discurso de Aníbal António Cavaco Silva; 3º) Colocam-se os diversos cenários plausíveis para uma solução minimamente racional do imbróglio causado pelo mesmo Aníbal António; 4º) Conclui-se rapidamente que nenhum desses cenários é certo e seguro («salvo seja»); 5º) Diz-se porém «a não ser que…» e avança-se com uma ideia mais ou  menos estapafúrdia; 6º) Breves instantes de risota geral e vários encolher de ombros; 7º) Finalmente, alguém ergue um dedo e diz «Per’aí!», concluindo, com o aplauso geral, que a tal ideia estapafúrdia até pode vingar. «A não ser que…», naturalmente. E tudo recomeça no debate seguinte.

    Uma conversa de manicómio ao pé disto será sempre qualquer coisa de tremendamente enfadonho e carente de uma dose razoável de imaginação delirante.

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      Convicções

      Por uma destas tardes, enquanto fazia algumas arrumações domésticas, revi um episódio contado por João Bénard da Costa num recorte do antigo diário Independente. O semanário, acessível nos arquivos, que nos lembra os longínquos dias em que pairava sobre o Portugal pós-revolucionário a ideia de que era possível ver uma direita jovem, culta e inteligente a nascer do nada. Contava-se nesse recorte que na noite de 17 de Maio de 1945, quando no cinema Politeama o filme Casablanca estreou em Portugal, no momento em que no ecrã A Marselhesa abafou Die Wacht am Rhein, o cântico alemão saído da Guerra Franco-Prussiana utilizado pelos nazis, o público lisboeta se pôs de pé, cantando também, em uníssono e alta voz, a canção que em 1796 se tornou o hino da França revolucionária e republicana. (mais…)

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        Cagliostro, o charlatão

        Cagliostro

        O falso conde Alessandro di Cagliostro (1743-95), Giuseppe Balsamo de seu verdadeiro nome, foi um distinto impostor, mágico e aventureiro. Filho de pobres, nascido e criado nas ruas de Palermo, viu-se forçado a fugir da Sicília após ser dado como culpado de uma série de pequenos crimes. Viajou então pela Grécia, Egipto, Pérsia, Arábia e Rodes, tendo aproveitado o périplo para estudar alquimia e a Cabala. Em 1768 encontrava-se em Roma onde casou com a (diz-se) bela Lorenza Feliciani, Serafina de petit nom. Cagliostro deambulava nessa época por muitas das maiores cidades europeias, vendendo elixires e afrodisíacos, praticando episodicamente como alquimista, fazendo-se passar por adivinho, medium e curandeiro. Nos anos que imediatamente antecederam a Revolução, era visita assídua nos palácios da alta aristocracia parisiense. A queda começou com o seu envolvimento ocasional na venda fraudulenta do diamante Necklace, tendo por esse motivo passado nove meses na Bastilha. Pouco tempo depois, em Roma, foi de novo preso, acusado por Serafina de ser herético, mágico, conspirador e impenitente maçon. Condenado à morte, viu a pena comutada em prisão perpétua no castelo de Sant’Angelo. Após uma tentativa de fuga, foi enviado para a fortaleza de San Leo, nos Apeninos, onde, praticamente esquecido, terminou os seus dias.

          Apontamentos, Biografias, História

          O Inspector das Tempestades

          Henry David Thoreau (1817-1862), o poeta, o naturalista e o filósofo de Concord, Massachussetts – no tempo em que o Massachussetts era o cu do mundo e ainda por ali se mantinham visíveis e transitáveis as antigas pistas índias –, foi professor e explicador, depois fabricante de lápis, preceptor, jardineiro e agrimensor. Gostava porém, de uma forma irónica e profundamente poética, de se apresentar publicamente como «inspector das tempestades».

            Apontamentos, Biografias, Olhares, Poesia

            Fases

            Nessa época era muito magro, naturalmente tímido e vagamente taciturno, e só lhe apetecia ver filmes franceses a preto e branco. De preferência com sequências filmadas em manhãs de inverno (chuvosas) e actores de estatura mediana que usassem camisolas de gola alta.

            Originalmente publicado em Julho de 2007.

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              O impertinente de serviço

              George Orwell

              George Orwell conviveu toda a vida – porque a percorreu na fase mais crítica da inquietante «era dos extremos» que preencheu a parte maior do século vinte – com a hostil incompreensão sempre dirigida aos que pensam de forma pessoal, definindo um padrão de comportamento ético avesso às absolutas certezas, à ditadura das maiorias ocasionais ou à orientação mecânica dos cata-ventos. Por isso a sua ação, as suas convicções e a sua memória foram sempre, tanto durante os anos de intensa atividade como jornalista e escritor quanto (e talvez sobretudo) após a sua morte, acompanhadas de difamações e de equívocos, certas vezes de rancores completamente insanos. Embora o tenham sido também de paixões profundas por parte de quem se foi aproximando dos ideais libertários, do amor pela humanidade do mundo e do direito ao testemunho que Orwell sempre reivindicou. Mas a semente do mal foi permanecendo: os conservadores e a direita julgaram-no e julgam-no como perigoso esquerdista, enquanto a esquerda estalinista e os «idiotas úteis», subservientes do velho Kremlin, bem como os seus esparsos herdeiros contemporâneos, o consideraram um «espião», um divisionista e um snob. (mais…)

                Apontamentos, Biografias, História

                Não aprender

                «Eu sei que vocês vão primeiro, mas depois vamos nós.» Estas palavras de António José Seguro, pronunciadas ontem na convenção autárquica do PS, podem ser palavras de circunstância, um modo de incutir ânimo e confiança nos militantes, mas contêm também um sinal negativo. Tanto para quem as receba com fervor, como para quem as leia criticamente do lado de fora do partido. Elas traduzem uma estratégia de pura assunção do poder (vós ides, nós vamos, para «lá») pouco conforme com uma lógica abrangente, unitária e de revisão das caducas estratégias partidárias de assalto aos lugares da administração pública, que uma larga maioria dos portugueses exige. Um líder partidário de dimensão nacional deve congregar esforços e apontar metas ao seu próprio partido, evidentemente, mas não pode esgotar nele, nem mesmo aparentar fazê-lo, uma lógica de solução para o destino democrático partilhado por todos. Particularmente numa altura destas, na qual a fronteira que separa o país do abismo, e o Estado dos cidadãos, é ténue e perceptível.

                  Apontamentos, Atualidade, Opinião

                  Ser solidário

                  O sociólogo Émile Durkheim falava da solidariedade como um elo moral capaz de unir os indivíduos do mesmo grupo e de funcionar como fator de coesão. Sem ela, as sociedades dissolver-se-iam e os humanos voltariam a viver em bandos, centrados na sobrevivência e numa interminável guerra de todos contra todos. Porém, ela não traduz apenas uma ética de governação que impõe a proteção dos mais fracos: integra um sentido mais completo, capaz de incluir um sentimento de proximidade, entreajuda e comunhão. Diariamente alimentado, este sentimento assegura aos diversos grupos uma lógica de autoproteção que os defende do exterior e lhes confere autonomia e protagonismo. Sob os regimes autoritários, esse dever de solidariedade foi frequentes vezes subvertido, trocado por uma escravizante diluição do indivíduo no todo. Por isso as democracias, que se desejam emancipatórias, o valorizam tanto. (mais…)

                    Apontamentos, Democracia, Olhares, Opinião

                    Memória do tango

                    tango

                    Ao ver uma pequena multidão de jovens turcos revoltosos a dançar o tango em plena Praça Taksim, lembrei-me deste post escrito há sete anos. Quando a minha e a nossa vida (e, talvez, também a deles) era um pouco menos preocupada.

                    Por considerá-lo uma diversão imoral, em 1910 o governo argentino decidiu proibir o tango. Nessa época eram extremamente populares tangos associados a títulos másculos, como «Esta noche me emborracho» e «Metele bomba», ou então bastante ordinários, como «Tocamelo que me gusta!», «Dós sin sacarla», «Dejamelo morir adentro» e «El 69», o que não é de admirar pois o local de eleição dos tangueros e das suas acompanhantes era então a sala comum do prostíbulo. Devido àquela medida repressiva, renovada por diversas vezes até à década de 1950, muitos foram os dançarinos, dançarinas e orquestras de Buenos Aires e de Rosário que se viram forçados ao exílio, levando a música do bandoneón até Nova Iorque, Paris, Londres ou Berlim. Aí o tango foi depurado, maquilhado, transformado em espetáculo de sociedade, regressando a casa mais maduro e asseado, como «pensamiento triste que se baila». Mas jamais perdeu o odor canalha e pouco conforme a uma vida sossegada. Afinal, Carlos Gardel, El Morocho, o maior dos seus cultores, fez a maior parte da carreira cantando com uma bala alojada num pulmão, e estas coisas não se apanham com correntes de ar.

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                      Coimbra, cidade aberta

                      coimbra69
                      Coimbra69 – Fot. Fernando Marques «Formidável»

                      A partir de hoje passo a reproduzir aqui alguns dos artigos de opinião publicados regularmente no Diário As Beiras, de Coimbra. Por vezes com pequenas revisões. Num caso ou noutro – como acontece com este texto – os temas abordados poderão ter maior relevância para os leitores (ou para os passageiros) da cidade.

                      A primeira memória que tenho de Coimbra liga-se a uma frase enigmática do meu pai. Um dia, ao passarmos na Portagem, junto ao antigo Café Montanha, apontou para um grupo de rapazes e de raparigas de roupa negra, muito justa, e avisou-me: «Olha, aqueles ali são os existencialistas». Deve ter acontecido por volta de 1960 e muitos anos depois, ao folhear uma coleção do jornal Via Latina, percebi que nessa época estava de facto em curso na academia coimbrã um combate de ideias entre estudantes católicos mais ou menos conservadores e um grupo de defensores do «existencialismo francês», reconhecendo estes sermos nós os primeiros responsáveis pelo destino que escolhemos. O episódio ficou registado e creio ter sido ele a fazer com que passasse a ver a cidade, apesar da sua estreita dimensão – então menos de metade dos habitantes de hoje –, como um território aberto à novidade do mundo e aos seus dilemas. (mais…)

                        Apontamentos, Coimbra, Democracia, Memória

                        A tricana

                        Coimbra antiga

                        Não sei datar com precisão a fotografia que ilustra este velho postal de Coimbra. Será, muito provavelmente, dos finais do século XIX ou logo do início do seguinte. Presumo que alguns a observem com um misto de nostalgia e de subordinação à visão de uma cidade profundamente estratificada mas que sem qualquer vigilância crítica tendem a embelezar e a associar a uma certa ideia de tradição. Eu vejo-a como uma imagem quase pornográfica. Como estereótipo, mas também como vestígio de um tempo, ultrapassado embora não apagado, no qual as lavadeiras do Mondego, as «lindas tricanas» das quais ainda tratam certas versalhadas ou legendas de souvenirs locais – eu ainda conheci algumas das derradeiras, já velhas, gastas, pobres e abandonadas –, desempenhavam o papel social que ela tão bem e tão tristemente documenta.

                          Apontamentos, Coimbra, Memória, Olhares

                          Já venho

                          A Terceira Noite tem estado quase muda e praticamente imóvel, como não acontecia há muito tempo, há bastas luas, há uma razoável parte da minha vida. Um aviso aux habitués (vai mesmo em francês, para contornar o excesso de linguagem inclusiva que tantas vezes desanca no prazer de ler e de dizer): não, nada de grave aconteceu, não há desânimo, nem falha de corrente, nem existe portaria a ser prometida, e logo desmentida, que me desvie da mania de teclar em público e de bradar aos céus. São só, e mesmo só, as circunstâncias: algum trabalho a mais, calos nos dedos, demasiado terreno agreste por onde dispersar o fraco engenho que a canseira e a teimosia se esforçam por disfarçar. Já venho.

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                            Cavaco, Honecker e as bananas

                            Günter Schabowski, o antigo porta-voz do Bureau Político do Partido Socialista Unificado da Alemanha, ficará para sempre conhecido por, no dia 9 de novembro de 1989, se ter precipitado ao ler numa conferência de imprensa transmitida pela televisão, ainda sem autorização superior, um comunicado oficial segundo o qual a RDA passaria a permitir aos seus cidadãos que viajassem livremente para onde desejassem. Terá sido esse lapso a determinar nessa mesma noite, sem qualquer resistência dos guardas fronteiriços do lado oriental treinados para apertar o gatilho das espingardas-metralhadoras, a queda definitiva do Muro de Berlim. Ora foi Schabowski quem há alguns anos contou a uma jornalista que numa reunião plenária do Comité Central do Partido, efetuada poucos meses antes, no preciso momento em que uma crise económica sem precedentes, a revolta popular e o aumento exponencial da fuga de cidadãos abalavam brutalmente o regime de Eric Honecker, aquele órgão se recusou a debater a situação. Limitou-se na altura a abordar os preparativos para as comemorações oficiais do 40º aniversário da chegada dos comunistas ao poder. Apenas numa conversa de corredor um alto responsável se teria referido vagamente aos protestos, sugerindo uma solução para acabar de vez com o descontentamento dos cidadãos: «Podemos dar-lhes bananas!» As bananas eram então, no território leste-alemão, um bem de consumo particularmente raro e cobiçado. Ao convocar uma reunião do Conselho de Estado para discutir,  por estes dias de derrocada da credibilidade do governo e de brutal escalada no empobrecimento da maioria dos portugueses, o que poderá vir a ser o país depois da troika nos deixar, Aníbal Cavaco Silva está a copiar a atitude autista de Honecker, tratando Portugal como uma república das bananas.

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                              A luta comum

                              Não configurando a salvação da pátria, a notícia da reunião bem-sucedida entre as direções da CGTP e da UGT, realizada a pedido desta última, é uma boa notícia. O resultado divulgado aponta para «uma grande convergência» de pontos de vista e para «90% de acordo» no que diz respeito a formas de luta comuns a adotar perante as políticas antissociais e de capitulação nacional do atual governo. Independentemente da herança do passado – da sobrançaria de uns, tantas vezes apostados em hegemonizar o movimento sindical; da tibieza de outros, em muitos momentos mais empenhados em assinar acordos «responsáveis» do que na defesa intransigente dos trabalhadores – é muito importante, neste momento dramático para a vida do país e da larga maioria dos que o habitam, que se una aquilo que houver para unir, mais com os olhos nos objetivos partilhados que na contagem calculista das espingardas. (mais…)

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                                A minha primeira gravata vermelha

                                Posso contar uma experiência em tudo parecida com a que outros contaram hoje nos jornais, nos blogues, nos murais do facebook. Em maio daquele ano fiz o exame da 4ª classe na minha escola primária, a principal, a da vila. Mas os alunos das aldeias em volta tiveram de vir, alguns a pé, nos seus melhores fatos, com o ar mais sério que eram capazes de pôr, cumprir a prova que desde a 1ª classe tanto temiam e para a maioria deles iria encerrar, para sempre, o tempo de estudos. Depois, em junho, como fazia parte do pequeno grupo dos que deveriam entrar no ensino secundário, fui à grande cidade fazer o exame «de admissão ao liceu» com prova escrita e oral. Lembro-me de tudo: do átrio enorme e assustador, dos corredores em cor beije e das salas numeradas, da minha primeira gravata vermelha (com pintas brancas), da cara patibular dos professores e, no final, passada já a grande dor de barriga, de ter comido na rua um portentoso sorvete de morango. Mas não recordo mais nada: das perguntas, da forma como me desembaracei delas, do que aprendi ou inventei para poder passar aquele transe sem grandes problemas. Nada, nadinha, nicles. Hoje compreendo que afinal o essencial não era aprender mais e melhor: era antes assinalar um ritual de submissão à hierarquia dos saberes e ao sagrado lugar da autoridade. E é isso que, na verdade, pretende replicar esta ideia peregrina de ressuscitar no século vinte e um o exame do 4º ano de escolaridade. Industriar os maleáveis cérebros dos pequenos corpos, para além de uma aprendizagem rudimentar, no reconhecimento de que existe um cerimonial de aferição a cumprir. Numa vida inteira a ser-se avaliado e a fazer por passar à frente dos outros. Sabendo muito, pouco ou quase nada.

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                                  45 anos depois

                                  Precisamente há 45 anos, a 2 de Maio de 1968, começou o «Maio francês». Foi a revolta estudantil a acontecer em primeiro lugar, aberta nos anfiteatros de Nanterre quando, nesse dia, o reitor Grappin convocou 8 estudantes do Movimento 22 de Março para um conselho disciplinar. Seguiu-se a primeira grande assembleia estudantil e a repressão policial. A revolta operária veio também, um pouco mais tarde, mais sóbria e nunca chegando a unir-se completamente à primeira. Muitos intelectuais estiveram presentes desde a primeira hora, associando-se a ambas e sujando os sapatos nas barricadas, as mãos na tinta dos panfletos e dos graffiti. Os partidos da esquerda comportaram-se de forma desigual, nem sempre límpida («Falsos revolucionários que é preciso desmascarar» titulava o L’Humanité logo a 3, convirá não esquecer), mas nos momentos decisivos estiveram do mesmo lado da barricada. E das barricadas. (mais…)

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