O PS, a esquerda e a manhã de nevoeiro

Uma das esperanças mais frustradas da história da democracia no Portugal saído do 25 de Abril tem a ver com a possibilidade dos partidos, movimentos e setores à esquerda do Partido Socialista encontrarem neste um parceiro certo para uma alternativa capaz de superar a mera gestão institucional do capitalismo. As responsabilidades para a inexistência de um entendimento pertencem a ambas as partes: enquanto do lado dos socialistas o genoma de esquerda foi sendo maculado, gradualmente substituído por uma corrente administrativista, aparelhista e de certa forma «apolítica», associada na década de 1990 aos tiques e vertigens da Terceira Via blairiana, as forças à sua esquerda jamais deixaram de ver nos socialistas os fiéis e irrecuperáveis seguidores da traição revisionista de Bernstein, «serventuários da burguesia» de pendor social-democrata e reformista. Quanto muito, reconhecia-se a existência de uma «esquerda do PS», aplicando-se tal designação àqueles que, de facto, como uma espécie de arrependidos, se encontravam mais próximos de quem os classificava assim que do partido ao qual pertenciam. Tais atitudes foram bloqueando continuadamente a construção de um projeto de unidade governativa à esquerda. (mais…)