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Nova havaneza

Havaneza

Vale a pena percorrer o Wallpaper City Guide de Havana, da colecção editada pelo diário i (mas que pode ser vendido isoladamente). Ignora de maneira olímpica os guias de viagem para cidadãos da classe média alvoroçados pela perspectiva de uns quantos dias com a cor do exotismo, e, claro, deixa em paz os desdobráveis oferecidos pelas embaixadas de Cuba. Percorre assim ruas e praças imutáveis, hotéis para turistas estrangeiros e alguns bares aprazíveis, duas ou três lojas e uns quantos edifícios públicos, sem cedências ao estereótipo do charme, à costumeira romantização da decadência, ao elogio militante da pobreza honrada, a uma épica refrescada a ventoinhas de pá. Mas também sem fazer a injustiça de negar o esforço suado do havanês comum para oferecer ao visitante o que de melhor consegue obter. Para viver uma vida complicada com o sorriso possível e um gingar de ancas, olhando sempre mais para o que foi, ou para o imediato, do que para aquilo que há-de vir. Nisto, o guia Wallpaper não difere muito dos ecos que nos vai legando a literatura cubana contemporânea. Como uma boa parte dela, oscilando entre o ritmo da vida pessoal e um horizonte colectivo imperscrutável: «Havana é hoje uma daquelas quinceañeras envergonhadas, uma adolescente à beira de se tornar mulher e de se ver livre de um pai autoritário.» Fica o desenho de uma cidade ritmada por um presente para gastar sem demoras já que o futuro está lotado de possíveis.

    Atualidade, Cidades, Olhares

    Um céptico foi às compras

    Shopping

    Parece-me que este ano os telejornais não falaram do solstício, mas é verão, está calor, emagreci por sugestão do médico e precisei comprar camisas leves e adaptadas ao meu novo formato. Disseram-me na primeira loja que faziam um desconto de 30% sobre os preços marcados e por instantes pensei que entrara, sem me aperceber, num posto de venda de outlet. Na loja seguinte o desconto era idêntico. Na terceira, idem. Nos três casos eu era o único cliente e trataram-me como se fosse herdeiro do Warren Buffet. Percebi que subestimara um factor essencial na interpretação dos resultados eleitorais: o consumo desceu mesmo, e isso tornou muitas pessoas infelizes, levando-as a votarem na oposição. Lamento dizê-lo, mas foi em parte um consumismo frustrado – refutando a «dinâmica de sucesso» constantemente alardeada pelo partido do poder – que levou a que Bloco e PCP subissem tanto na consideração dos eleitores. Quando as coisas se recompuserem tudo regressará à normalidade. Não sei se felizmente.

      Apontamentos, Cidades

      Vozes da rua

      Vozes da rua

      Um texto escrito em 2001 para a revista Periférica que talvez venha a propósito de acontecimentos recentes e de alguns dos medos que sentimos por estes dias. Quase tudo permanece.

      Um dia chegaram notícias da violência. Ecos dos bandos que percorriam as grandes metrópoles. Dos gangs juvenis de Los Angeles ou Berlim, da forma como se moviam em áreas do Rio, Joanesburgo ou Lima. Mas isso era longe daqui, até onde nos levavam os telejornais, a literatura, uma ou outra viagem, mas nunca as portas das nossas casas. Soubemos depois que circulavam já no metro de Paris ou pelas ruas de Birmingham. Até que os vimos aqui. Percorrendo, de anoraques e calças largas de rapper, ou blusões de cabedal e botifarras, as ruas dos nossos bairros-dormitório. No preciso instante em que, após um dia de trabalho e doses brutais de reality shows, cidadãos aparentemente ordeiros dormiam debaixo dos cobertores, podíamos vê-los como sombras, correndo em fuga para a escuridão diante de polícias nervosos e das câmaras da televisão.

      Hans Magnus Enzensberger observava em 1994, nas Perspectivas da Guerra Civil, a agressividade, aparentemente inexplicável, dos grupos que no coração das principais cidades dos países industrializados se preparavam para banalizar a violência. Os acontecimentos dos últimos anos deram sentido a esse temor, como o comprova o aumento do ruído das sirenes nocturnas, o pavor de circular por certas áreas, as grades de aço em lojas e residências, a proliferação de alarmes nos edifícios e nos carros, o inquietante negócio das empresas de segurança, as «milícias populares» que querem combater os intrusos servindo-se das mesmas armas.

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        Atualidade, Cidades, Democracia, Olhares

        A Ponte

        A ponte

        Já faz parte da sabedoria popular: o melhor e o pior do regime democrático encontram-se associados à administração localizada dos recursos. Daí a «pulsão da regionalização» ser qualquer coisa que merece as maiores reservas, mesmo quando se reconhece a justeza de algumas das razões invocadas pelos seus mosqueteiros. A teia de cobrimentos e de encobrimentos é necessariamente maior à escala da freguesia, do concelho, da região, e as coisas pioram quando o assunto é dinheiro, influência ou responsabilização. Um bom exemplo disto é o que se passou em Coimbra com a construção da Ponte Europa. Rebaptizada Rainha Santa talvez para que alguém possa inocentar junto do Criador os pecados que lhe ficaram associados.

        O escândalo é público, vem desde há muito e acabam de ser revelados mais dados altamente comprometedores para quem incentivou, geriu ou conviveu com a fraude e o despesismo faraónicos. De acordo com o Público, o Tribunal de Contas classifica agora a gestão do projecto – que calcula ter tido uma derrapagem de 137 por cento, o que significa mais 41 milhões de euros a somar aos quase 30 milhões estimados inicialmente – como «muito má». O Tribunal pormenoriza o desastre: «A obra apresentou um índice de desperdício elevado, resultante de erros e falhas graves na gestão e no controlo de que se destacam: o erro de lançar a obra em fase de anteprojecto, a falta de liderança e de capacidade técnica do dono da obra, a subversão dos princípios da contratação pública (concorrência, transparência e equidade, a nomeação tardia de um gestor de empreendimento, a fragilidade de actuação do dono da obra face ao empreiteiro e a ineficácia das acções da equipa de fiscalização por inércia do dono da obra». Conclui-se que «todas estas graves deficiências contribuíram para uma gestão e coordenação do empreendimento ineficazes que resultaram encargos adicionais avultadíssimos para o erário público».

        Bem sei que a gestão do projecto foi de empresas cuja dimensão ultrapassava quase sempre os limites da cidade, e que o enorme caldeirão alimentou bocas de diferentes procedências, mas é impossível justificar aquilo que se passou sem a ocorrência de fortes cumplicidades, pelo menos por omissão, ao nível local. E sem o desencadear de pesados reflexos, passados e presentes, na vida dos cidadãos e até no prestígio da cidade. Ora, diante desta enormidade agora relembrada e publicamente redimensionada, o que informa a imprensa local, a quem também competiria manter viva e necessidade de apurar responsabilidades? Calcule-se que nada. As capas dos diários locais, tradicionalmente ocupadas apenas com «notícias positivas», efe-érre-ás, assaltos à mão armada ou desastres de viação, ignoram o documento do Tribunal de Contas. Existe gente de peso envolvida nisto, presumir-se-á com naturalidade, e o melhor é não levantar problemas. Afinal, se já tudo passou, os carros rodam sobre os tabuleiros e, contra as expectativas dos habituais maledicentes, a água do Mondego até continua a correr por debaixo da ponte, o que é que isso importa agora?

          Atualidade, Cidades, Olhares

          Coimbra’69

          Coimbra'69

          17 de Abril. A maioria dos cidadãos que conservam reminiscências da Coimbra dos idos de sessenta – do meio pequeno, professoral, santacombadense, mas também universal, quimérico e inquieto – conhece aquilo que a data significa. As prestimosas autoridades locais, essas dormem na ignorância de uma parte da memória viva da cidade que vão gerindo. Por vezes na cumplicidade ao retardador com o lado mau do filme. Dia da audácia de uns quantos, das oportunidades conquistadas, do mito que enuncia parte da verdade e inventa e reinventa a outra. Primeiro dia do resto da vida da cidade salazarenta que um dia há-de morrer.

          Seguir o testemunho ocular do Marcelo Correia Ribeiro, a visão de retrovisor do Miguel Cardina e o olhar de viés do Luís Januário.

            Apontamentos, Cidades, Coimbra, História, Memória

            A Praga de Sudek

            Sudek

            A propósito de uma exposição sobre a obra do fotógrafo checo Josef Sudek (1896-1976), aberta ao público até 17 de Maio no Círculo de Bellas Artes de Madrid, Antonio Muñoz Molina deixou no Babelia de ontem uma prosa bela e comovente, «El caminante de Praga», que – como acontecera já com a evocação de John Banville no seu livro precioso sobre a cidade das duas margens do Vltava – faz justiça ao trabalho único de um homem que viu o seu destino como artista determinado, aos vinte anos, pela amputação do braço direito. Josef, que estivera destinado a encadernador, passaria então a percorrer Praga em todas as direcções, dia após dia, muitas vezes pela noite fora, carregando pelo resto da vida, apenas com um braço, a pesada máquina Kodak de 1894 e o seu enorme tripé. Fotografando, sempre num tempo lento, praticamente imóvel, quase inabitado, os espaços e as coisas que não poderiam ser mostrados abertamente, «mas apenas dando pistas, revelando apenas o justo, para que o olhar completo pudesse permanecer na imaginação do espectador». Existe uma Praga, desolada como um eremitério, infinitamente poética, que habita apenas a fotografia do tímido e solitário Sudek.

              Cidades, Memória, Olhares

              De fato

              De fato

              Na Loja do Cidadão, proclamada «de segunda geração», inaugurada em Faro no passado dia 3 com a presença do primeiro-ministro, as funcionárias estão proibidas de usarem em serviço blusas com decote, saias curtíssimas, vestuário de ganga, perfumes com uma fragrância agressiva, roupa interior preta, saltos altos e, claro, sapatilhas. Calculo que aos funcionários sejam prescritas também algumas normas, relacionadas com o tom da gravata, a sobriedade das peúgas, o risco ao lado no penteado e o uso obrigatório de pochette. E se o não são, deveriam sê-lo. Por motivos de «postura pessoal», seguindo o raciocínio avícola de uma tal D. Maria Pulquéria. O provincianismo corresponde sempre, por definição, a uma forma excessivamente mesquinha e tristonha de estar no mundo. Piora bastante quando se encontra associado a um bocadinho pequenino e bem guardadinho de autoridadezinha.

              Adenda – Uma coisa vale a pena dizer ao ouvido de quem considere este episódio irrelevante ao ponto de não se justificar sequer que seja notícia: são gestos destes que nos lembram o que foi o «salazarismo real» e o que ele fez – e continua a fazer – às cabeças das pessoas. Muito mais grave e profundo do que os lances fugazes do caso Freeport.

              A leitura de alguns blogues que abordaram o assunto trouxe também mais duas nuances. Uma refere-se ao sexismo boçal das considerações supostamente engraçadas sobre «os direitos dos utentes». A outra é o fétiche dos parvenus a respeito daquilo que insistem em chamar de «dress code». Que nada tem a ver com normas básicas de asseio e civismo, obviamente admissíveis e até desejáveis.

              (Dizem-me que entretanto o pormenor da roupa interior preta foi desmentido. Muito bem, mas essa era a parte cómica. O resto fica tudo na mesma. Isto é, mal.)

                Apontamentos, Cidades, Olhares

                Oração de Quadragésima

                Triste

                Que o Deus dos cristãos me perdoe se blasfemo, mas rejubilo por ter chegado a Quaresma e haverem desfilado já pelas avenidas todos os clubes de samba, carros alegóricos e sorrisos de baquelite que havia para desfilarem pelas avenidas. Agradeço-Lhe por existir muito mais beleza na tristeza.

                  Cidades, Etc., Olhares

                  Crime organizado

                  Crime

                  Misha Glenny estudou em Praga e trabalhou diversos anos nos Balcãs, o que lhe deu uma certa vantagem no reconhecimento de alguns dos caminhos mais sombrios por onde, após o aluimento dos regimes socialistas do Leste, passou a alojar-se o universo desterritorializado da nova criminalidade. Com efeito a primeira parte de McMáfia: O Crime Organizado Sem Fronteiras (Civilização Editora) ocupa-se da Rússia e dos países que durante décadas orbitaram na sua área de influência política, dando particular destaque ao que ocorreu na Bulgária e que pode servir como paradigma de uma certa transição: os serviços secretos desempenharam ali, durante o período comunista, um papel muito importante no tráfico de armas e de drogas na Europa ocidental, e muitos dos seus ex-agentes transitaram directamente para o crime organizado. Sempre com muitos detalhes, o livro parte depois ao encontro das novas rotas abertas ao delito transformado em instituição a partir do final da década de 1980, abordando também a sua actividade e o seu impacto no Médio Oriente, na Índia, na Colômbia, no Brasil, no Japão ou na África do Sul. Da prostituição e do negócio das armas, ao comércio de drogas, diamantes e órgãos humanos, passando pelo cibercrime e pela contrafacção, é toda uma economia paralela, erguida hoje à escala planetária e assente numa ordem imposta pela lei e pela força do mais forte, que se abre aqui ao leitor. Fazendo da velha Máfia quase um pacato território de cavalheiros.

                    Atualidade, Cidades

                    Angola: o passado agora

                    Angola

                    José Eduardo Agualusa comenta no prefácio que escreveu para Fragmentos de Angola, de Sébastien e Thomas Roy (Teorema) que ali se dá a ver Angola, e em particular a cidade de Luanda, «não apenas a quem nunca a viu, mas também a quem sempre lá viveu e que, de tanto a ter diante dos olhos, se tornou cego para inúmeras evidências.» Talvez por chegarem de um mundo à parte, e sem a carga de memória de quem acompanhou de perto a descolonização e a destrutiva guerra civil, os dois franceses responsáveis por estas impressões de viagem e pelas fotografias a preto e branco que as acompanham produzem no leitor um efeito análogo ao de quem leia as notas de uma viagem até um planeta desconhecido. Fala-se aqui de uma Angola pós-guerra civil, que conhece finalmente a paz mas vê-a crescer associada a uma sociedade persistentemente desigual, na qual a esperança e o optimismo, nela quase essenciais, todos os dias se vêm confrontados com a ausência de um futuro previsível. É também um livro de «memórias em diferido», entre a reportagem e o devaneio literário, que vai associando a observação directa e o testemunho pessoal a referências explícitas fundeadas na história recente. Porque nesta paisagem, umas vezes desolada, pontuada por escombros, outras vezes luminosa e excitante, se vislumbram ainda, a todo o instante, as ligações com um passado do qual se vêem as sombras.

                      Atualidade, Cidades, Memória

                      Salónica: uma cidade e o seu labirinto

                      Salónica

                      Versão revista de um texto publicado na LER No. 75

                      Até 1909, o ano da fundação de Tel Aviv, Salónica era a única cidade do mundo na qual a principal língua utilizada era de matriz judaica. Por essa altura, a maioria da população falava ainda o ladino, ali estabelecido nos inícios do século XVI com a diáspora sefardita, mas viviam-se os últimos tempos de um espaço policromo, no qual cristãos, muçulmanos e judeus tinham podido conviver na diferença, apesar dos conflitos pontuais e das situações de desigualdade perante a lei otomana. É verdade que ela se parecia mais com uma justaposição de pequenas aldeias, nas quais turcos, judeus, gregos, búlgaros, albaneses, ocidentais e ciganos preservavam os seus territórios, mas nada de semelhante podia ser observado em qualquer outra grande cidade. Mark Mazower, especialista em história da Grécia e dos Balcãs, traça em Salónica – Cidade de Fantasmas o seu percurso único e fascinante, prestando uma particular atenção ao longo lapso de tempo que começou em 1430, com a tomada da cidade ao poderio bizantino-veneziano pelo sultão Murad II, e encerrou já em pleno século XX com a reinstalação, em território turco, dos últimos membros da comunidade muçulmana que nela haviam permanecido após a sua conquista pelos gregos. Durante todos esses anos, foi traçado um percurso sinuoso e complexo que Mazower descreve com uma profusão de informações capazes de trazerem à vida um passado do qual já quase não restam hoje vestígios materiais.

                      O epíteto de «cidade dos fantasmas» diz essencialmente respeito ao total desaparecimento, ocorrido já no último século, de duas daquelas comunidades. O primeiro teve lugar imediatamente após o fim da dependência da cidade do estado turco, com a evacuação forçada da maior parte da população de origem muçulmana. O segundo, particularmente rápido e brutal, aconteceu em 1943, quando os ocupantes nazis enviaram para Auschwitz cerca de 50.000 salonicenses, dos quais apenas dez por cento viriam a sobreviver. Para além do enorme impacto humano no mapa da cidade, este facto ficou ainda associado à responsabilidade de numerosos cristãos gregos na repressão anti-semita que facilitou o trabalho dos ocupantes alemães. Alguns críticos consideram, aliás, que nesta obra o historiador menosprezou conscientemente a importância desse episódio vergonhoso da história contemporânea da Grécia.

                      Salónica oferece uma leitura apaixonante, por intermédio da qual a evocação do passado, ali extremamente bem documentada e apresentada de forma consistente, confirma o trajecto único de uma cidade que não possuindo hoje o fascínio e o património monumental da rival Istambul, nem por isso deixa de simbolizar um reencontro que a história recente dos Balcãs tornou particularmente exemplar e perturbante.

                      Mark Mazower, Salónica. Cidade de Fantasmas. Cristãos, Muçulmanos e Judeus de 1430 a 1950. Tradução de José Pinto Sá. Pedra da Lua, 576 págs. ISBN: 978-989-8142-10-8.

                        Cidades, História, Memória

                        Lição de jornalismo

                        [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=CB6A7W3QfM4[/youtube]

                        Não é hábito, aqui n’A Terceira Noite, a repetição de links e referências que já circulam por diversos blogues. Mas vale a pena ampliar a divulgação deste vídeo notável, no qual Rodrigo Amarante, da banda brasileira Los Hermanos, oferece uma boa lição de ética jornalística.

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                          Bonsoir tristesse

                          melancolia
                          Melancholia, Claus Gregers (1989)

                          Lê-se Du Contre-Pouvoir, de M. Benasayag e D. Sztulwark, com um sentimento de revolta: «Vivemos uma época profundamente marcada pela tristeza, que não é apenas a tristeza das lágrimas, mas que é, principalmente, a da impotência». Percebendo como a noção contemporânea da complexidade da vida se une à aceitação defensiva, sob a forma de um tristeza social e individual, de que não possuímos forma outra de a viver que não seja aceitando, submissos, «a ordem e a disciplina da sobrevivência». Respeitando, insulados nos nossos pequenos mundos, cegos e tristes, infinitamente tristes, as formas de tirania que nos cercam, e que justificam essa servil tristeza. Contra ela, criadora, apenas a alegria difícil da resistência.

                            Atualidade, Cidades, Democracia