Arquivo de Categorias: Democracia

O abismo e o compromisso

Na terça-feira passada, 27 de Maio, publiquei um texto de opinião, intitulado «O dia seguinte do Bloco», no qual – como aí dizia, «na mera ótica do utilizador», isto é, enquanto apoiante crítico, colaborador ocasional e votante obstinado – ensaiava uma tentativa de interpretação, naturalmente curta e parcial, da enorme derrota sofrida pelo Bloco de Esquerda nas eleições europeias. Aí colocava também algumas hipóteses sobre o caminho, necessariamente difícil mas necessário, que poderia ser trilhado para retomar o caminho da esperança e do reconhecimento público. A justificar esse esforço a convicção, que mantenho, de que o Bloco pode e deve ser parte da solução para obter uma viragem do país no sentido da construção de uma sociedade mais justa, mais solidária, mais democrática, e mais envolvida no bem-estar dos cidadãos. Para além de, nesta altura, integrar uma grande área destinada a inverter o estado a que a coligação PSD/CDS conduziu o país e a vida dos que o habitam, não podendo desobrigar-se do seu compromisso neste campo. (mais…)

    Atualidade, Democracia, Opinião

    O dia seguinte do Bloco

    Nota prévia: Esta é uma leitura «na mera ótica do utilizador». A eventual candidatura de António Costa à direção do PS poderá reconfigurar muita coisa. Mas esse não é o presente cenário.

    Nas europeias do passado domingo o Bloco de Esquerda perdeu muitos eleitores para o PCP/CDU, para o Livre e até para o «partido do Marinho e Pinto». Sem estas perdas – a culpa não será por certo dos destinatários desses votos, que apenas fizeram o seu trabalho – o BE teria, muito provavelmente, um resultado estável e proporcional ao papel que se espera que cumpra. Mas tal não aconteceu, pese a justa eleição de Marisa Matias, e por isso precisa agora de refletir seriamente, sem medo e sem mais adiamentos, nas razões internas da aparatosa derrota. Nas razões internas, insisto, não na «culpa» dos outros. Mas também numa reorientação de estratégia e de política de alianças. Para evitar afundar-se mais ainda em termos eleitorais e poder retomar o lugar único e necessário que tem ocupado no espetro político nacional. (mais…)

      Atualidade, Democracia, Opinião

      Em quem vou votar (e porquê)

      Um dos traços negativos da atual campanha para as europeias encontra-se no paradoxal menosprezo dos partidos do arco da governação pela Europa como assunto e desígnio. Nas suas campanhas, o PS e o PSD/CDS integram o tema como parte acessória da luta interna que mantêm pela gestão do Estado e da estratégia internacional das respetivas famílias políticas – seja o que for que isso ainda possa significar – para o controlo do Conselho Europeu e da maioria em Bruxelas e Estrasburgo. Por isso, neles as referências à política europeia como razão de ser e objetivo central da participação nestas eleições, em pouco se distinguem. Limitam-se a replicar a separação, tantas vezes apenas formal, entre os defensores da austeridade a todo o custo ou os de um desenvolvimento mais apoiado na intervenção dos poderes públicos. Para além do apelo à delegação de soberania através do voto, os cidadãos não são informados com clareza de qual o sentido efetivo que cada uma das escolhas verdadeiramente pode ou deve tomar. O que, de concreto, irão Assis ou Rangel fazer no Parlamento Europeu. (mais…)

        Atualidade, Democracia, Opinião

        Os despojos da inocência

        Fotografia de Kaia
        Fotografia de Kaia

        A crise global tem suscitado na Europa não apenas o questionamento dos modelos de sociedade construídos sobre as liberdades políticas e o pluralismo ideológico, mas igualmente o do próprio valor da democracia como fonte da legitimidade da governação. Fora do espaço protegido, fechado sobre si próprio, dos aparelhos partidários que têm rodado na gestão dos diversos poderes, começa a ser praticamente consensual que o modelo da democracia representativa, tal como este tem vindo a funcionar, se mostra insuficiente para administrar com eficácia a coisa pública e para conservar a confiança dos cidadãos. Ao mesmo tempo, revela-se cada vez mais incapaz de mobilizá-los para as tarefas de regeneração das sociedades nas quais a perda de direitos e a instalação do pessimismo dominam pesadamente a paisagem social. (mais…)

          Atualidade, Democracia, Olhares, Opinião

          Quarenta anos depois de Abril

          Acrílico sobre tela de Jorge Cardoso
          Acrílico sobre tela de Jorge Cardoso

          À medida que o ano de 1974 foi ficando para trás, a evocação do 25 de Abril foi perdendo a tonalidade vibrante que manteve nos primeiros tempos. A estabilização do regime democrático, com as suas qualidades e imperfeições, tal como a instalação progressiva de uma sociedade menos desigual, foram induzindo distanciamento. Em cada aniversário, ressurgia sobretudo a memória afetiva de quem vivera a Revolução, ou de quem a preparara nos subterrâneos do exílio ou da clandestinidade, bem como uma compreensível nostalgia por uma fase do percurso pessoal e coletivo partilhada por quem desejava o retorno das utopias perdidas. Esperando por «outro 25 de Abril», como muitos diziam com convicção mas reduzida esperança. (mais…)

            Atualidade, Democracia, História, Opinião

            O meu 25 com quarenta

            Será provavelmente a primeira vez que o faço de uma forma pública e com algum detalhe, mas já que se cumprem hoje quarenta anos sobre aquele 25 que mudou as nossas vidas, vou contar como vivi o meu. Eu era então militar. Em finais de 1972 fora detido pela polícia no decurso de uma manifestação estudantil contra a Guerra Colonial, que acabara com o apedrejamento de um banco considerado cúmplice da política do governo. Depois de interrogado pela PSP – e algum tempo após pela PIDE-DGS – vi o meu nome inscrito numa lista de cidadãos pouco ou nada passivos a integrar compulsivamente no Exército. (mais…)

              Apontamentos, Democracia, História, Memória

              O DN e Angola

              A informação é demasiada e um homem não pode saber tudo. Por isso, somente pelas crónicas de Ferreira Fernandes no Diário de Notícias tomei conhecimento do facto de capitais angolanos irem tornar-se maioritários na gestão do jornal. Entretanto, o que se passa ou não com o DN diz-me um pouco respeito, por razões sentimentais e não só. O meu avô paterno e o meu pai foram agentes do jornal durante décadas e foi nele que aprendi a ler: aos 5 anos punham-me, como a um macaquinho hábil, a soletrar em público os títulos, para gáudio dos amigos do meu avô e como experiência um tanto radical para mim. Depois, foi no DN que formei uma boa parte da consciência do mundo, tendo ainda sido seu colaborador ocasional. Por isso, e porque temos cada vez mais falta de boa imprensa, aquilo que acontece ao Diário me diz também respeito. É esta a razão pela qual não exibo o otimismo crítico e excessivamente simpático de Ferreira Fernandes. Pelo que me é dado pensar quando leio a expressão «capitais angolanos», fico-me antes pelo pessimismo expectante e assumidamente desconfiado. A ver vamos.

                Apontamentos, Democracia, Opinião

                Colaboração ou resistência?

                Fotografia de Hugo Correia

                1. Transcrevo uma parte substancial da crónica que José Vítor Malheiros assina hoje no Público:

                «Os grandes consensos políticos são indispensáveis em graves momentos de crise. Em muitos dos países ocupados pelos nazis na Segunda Guerra Mundial, a resistência incluía pessoas que cobriam um espetro político que ia dos cristãos conservadores e monárquicos aos comunistas e anarquistas e a razão, a necessidade e a justiça da sua aliança era uma evidência para todos. Estes grandes consensos podem ser vitais em momentos de emergência, para ultrapassar um obstáculo preciso, ainda que não constituam uma fórmula de governação política nem apaguem as diferenças e os conflitos entre os seus constituintes – diferenças vitais, também elas, para permitir o exercício da livre escolha democrática pelos cidadãos, que deve ser instituída ou restabelecida tão depressa quanto possível. (mais…)

                  Atualidade, Democracia, Opinião

                  Hipóteses de futuro

                  Numa perturbante sequência do filme Sátántangó (O Tango de Satanás), do húngaro Béla Tarr, dois homens caminham, longamente e a custo, de costas voltadas para a câmara, por uma comprida estrada de asfalto molhada pela chuva, enquanto toneladas de detritos são empurrados por um vento fortíssimo na mesma direção, envolvendo-os numa paisagem suja e destroçada, e conferindo à sua marcha um sentido de resistência em ambiente hostil. Não é difícil estabelecer uma analogia entre esta cena filmada em travelling e o presente que nos cabe.

                  Os sinais estão aí. Vemo-los sem olhar, esmagados pelas contas e pelos prazos: comer para viver, pagar a prestação da casa, comprar os comprimidos. Sobreviver com cada vez menos, com o essencial, na fronteira mais recuada da dignidade. Por vezes, já abaixo dela, embora procuremos convencer-nos de que assim não é. Concentramo-nos no essencial enquanto nos dizem que quase tudo é supérfluo, e tentamos não ver o cenário que se abre à nossa frente. Mas é com este cenário, novo para a larga maioria dos que têm hoje menos de quarenta anos, que nos dizem irmos conviver até um dia que ninguém sabe marcar no calendário. Num horizonte de pobreza e decadência que anuncia um país em ruínas. Não as ruínas atraentes e evocativas, na fronteira do épico e do sublime, que tanto empolgavam os românticos, nem aquelas destinadas nos delírios hitlerianos a vincar a sorte dos países conquistados, mas os restos enfadonhos, sórdidos, que vêm com o desgaste e a ausência de esperança. Que não suscitam olhares benignos ou vislumbres de futuro. (mais…)

                    Atualidade, Cidades, Democracia, Opinião

                    As invasões boas

                    Militares russos na Crimeia
                    Militares russos na Crimeia

                    O pior que pode fazer-se no exame de uma situação complexa é reduzi-la ao aparentemente simples. É como limitar uma árvore à fixidez do tronco, ignorando a instabilidade da folhagem e a projeção da sua sombra. No entanto, na interpretação dos conflitos internacionais, esta é uma prática muito comum, em regra determinada – longe da aparente simplicidade dos conflitos da Guerra Fria – pela ignorância da sua crescente complexidade. Ou então, pior, por condicionamentos políticos que determinam um traço de giz separando de uma maneira demasiado esquemática o bom, o aceitável, o justo, daquilo que se considera mau, inaceitável ou iníquo. Quando afinal tudo se mistura em formas intrincadas, impossíveis de integrar numa interpretação linear que possa ser imposta por decreto ou pela força bruta das armas. (mais…)

                      Atualidade, Democracia, Opinião

                      O ovo da serpente

                      Lê-se num instante O Eterno Retorno do Fascismo, um pequeno grande livro do filósofo e ensaísta holandês Rob Riemen, traduzido há perto de dois anos pela editora Bizâncio. No curso das suas 80 páginas passamos em revista, de uma forma clara e bastante esclarecedora, como num manual de instruções, o modo insidioso como um novo fascismo se tem vindo a instalar nas nossas consciências narcotizadas com o patrocínio da maioria dos meios de comunicação de massa. Toma de hoje em dia outros nomes, enverga outras máscaras, é até capaz de invocar a liberdade política, a igualdade de oportunidades e o respeito pela democracia formal para conquistar adeptos, preparando assim o terreno para novas formas de submissão. Mais traiçoeiras, menos espetaculares, aparentemente indolores ou até sedutoras, mas não menos escravizantes e violentas do que aquelas que no século passado foram aplicadas em parte do mundo, e em Portugal também, a partir dos modelos autoritários e profundamente agressivos que um dia se apoderaram da Itália de Mussolini e da Alemanha de Hitler. (mais…)

                        Democracia, Leituras, Olhares

                        Indiana Jones, o Bloco e a esperança

                        Imaginemo-nos na pele de um Indiana Jones sem os golpes de sorte ou os malabarismos de chicote do arqueólogo-herói criado em 1980 por George Lucas e filmado por Steven Spielberg. Em dado momento, caídos numa armadilha feita de alçapões ocultos e sucessivas rampas deslizáveis, para onde fomos projetados enquanto procurávamos uma estatueta egípcia da III dinastia, vemo-nos num instante rodeados de perigos. Com a morte por perto, cercados de cobras venenosas, gigantescos lacraus e humanos pouco amigáveis saídos de outras eras, tudo fazemos então para sobreviver e sair dali com vida. Entretanto não estamos sozinhos. Na mesma armadilha foram também colhidos outros aventureiros, com os quais, por esta ou aquela razão – um plagiara-nos um paper, outro roubara-nos a namorada, um terceiro ultrapassara-nos de forma pouco transparente num concurso – nos havíamos incompatibilizado. Mas diante do perigo maior, que a todos punha a vida em jogo, as diferenças esbateram-se. E foi assim, defrontando corajosamente e em conjunto todos os obstáculos e inimigos, que conseguimos alcançar a única saída possível para regressar ao nosso tempo. Fugindo àquele cenário de pesadelo. (mais…)

                          Atualidade, Democracia, Opinião

                          Cunhal, Carrillo e a História


                          A vida pessoal de Álvaro Cunhal, durante décadas rodeada de um secretismo não ajustado à sua presença pública, e o seu longo trajeto político, só muito parcialmente conhecido do cidadão comum, têm sido alvo de uma atenção crescente. A mudança começou em 1999, com o lançamento do primeiro volume da biografia escrita por José Pacheco Pereira (o quarto está prestes a sair). Apesar de olhada com desconfiança, devido às escolhas políticas do autor, por contornar a insistência do PCP em não disponibilizar os seus arquivos e por ter sido iniciada sem a cooperação do biografado, a obra rapidamente se impôs pelo valor documental, abrindo caminho para o desenvolvimento dos três modelos de abordagem da vida de Cunhal que estão em curso. O primeiro é o do estudo biográfico, apontado ao reconhecimento da sua vida e intervenção, sem qualquer valoração ética ou análise sectária; o segundo, de nítida influência partidária, propõe uma perspetiva controlada, associada ao recorte exemplar e heroico da sua personalidade; já o terceiro modelo centra-se nos pormenores da vida privada, explorando a atenção de um público voyeur e de menor exigência. Todavia, este trabalho pode ser ampliado seguindo outras estratégias. Uma delas passa por confrontar o trajeto do antigo secretário-geral do PCP com o de outras figuras do movimento comunista internacional suas contemporâneas, num exercício que enfatiza inevitavelmente a originalidade do seu caminho. (mais…)

                            Biografias, Democracia, História, Olhares

                            As condições de um debate

                            Fotografia de Tiago Pereira

                            Está marcado para a próxima segunda-feira, em Coimbra, um debate em direto sobre as «praxes académicas» integrado no programa Prós e Contras, da RTP. Como se sabe, o tema está em discussão pelas piores razões, levantando à sua volta bastante poeira feita de desinformação e de interpretações muitas vezes mal fundadas, associadas a um extremar de posições por parte de algumas cabeças mais quentes. O mote do programa, «Sim ou não às praxes?», convida mesmo a uma radicalização das atitudes, a meu ver dispensável e até algo perigosa. Por isso se justifica uma troca pública de pontos de vista serena e tanto quanto possível fundamentada. Apesar da sua materialização depender, neste caso como em qualquer outro, da condução do programa e dos intervenientes, valerá sempre a pena confrontar aos olhos do cidadão comum posições sobre um assunto que de há muito ultrapassou o espaço da estrita realidade estudantil, marcando a vida universitária e as suas envolvências. (mais…)

                              Atualidade, Democracia, Opinião

                              Cinco mitos em torno das praxes

                              De há muito que as «praxes académicas» são noticiadas e debatidas, pelas piores razões, sempre que algum episódio chama a atenção para o seu lado perverso. Mas nunca como agora se tornaram tão visíveis e foram associadas a um tão amplo sentimento público de rejeição. No entanto, ninguém que tenha uma ideia daquilo que de sombrio e ingovernável o seu universo tem vindo a incorporar terá ficado surpreendido pelo que os trágicos acontecimentos da praia do Meco trouxeram a público. Algumas semanas depois do primeiro momento de horror e de espanto, quando o respeito devido à dor das famílias das vítimas forçou alguma contenção, as evidências e os documentos começaram a ser conhecidos, percebendo-se que nada do que se passou foi puramente acidental. Começou então uma avalanche de testemunhos e de informações a propósito das praxes, ao ponto de ser já difícil dizer algo de original a seu respeito. Para pessoas como eu, que participaram na resistência às praxes a partir dos inícios da década de 1970, e que além disso têm pensado e escrito sobre o tema, ainda se torna mais difícil escrever qualquer coisa de novo, pois muito do agora revelado pelos média lhes é familiar. Vou por isso tentar não me repetir, limitando-me a aspetos menos abordados, que associo a cinco mitos projetados a propósito do assunto. (mais…)

                                Atualidade, Democracia, Etc., Olhares, Opinião

                                Tocar a reunir

                                Esquerda e direita não são categorias ultrapassadas, como se proclamava anunciando o fim das ideologias. Também não correspondem apenas à clivagem entre quem defende a importância do social, do coletivo e do papel nuclear do Estado, e quem destaca o lugar do individual, da hierarquia e da iniciativa privada. Na realidade, alguns destes fatores são hoje partilhados por ambos os lados,  enquanto outros, que há cem anos pareciam separá-los para sempre, certas vezes os aproximam. No primeiro caso encontra-se a valorização formal da democracia, que até partidos da direita mais extrema declaram agora respeitar. No segundo, a tentação do centralismo e do autoritarismo, outrora património da direita, que em nome do «socialismo de Estado» alguma esquerda incorporou e preserva como modelo. (mais…)

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                                  Heróis, precisam-se

                                  Fot. Luis Cardia

                                  Condenado à morte por haver conspirado contra o czar, e após ter visto a pena ser comutada para prisão e degredo quando já se encontrava perante o pelotão de fuzilamento, Dostoievski acabaria por ser deportado para a Sibéria, onde seria mantido em regime de trabalhos forçados entre 1849 e 1854. Como se tal não tivesse bastado, avaliações posteriores iriam, na terra que fora a sua, condená-lo a um novo exílio. Assim, até 1953 os manuais de história e de literatura em vigor na União Soviética repudiaram a sua obra como «expressão da ideologia reacionária burguesa individualista». O fundamento desta acusação e da condenação liminar dos seus romances não se encontrava tanto nos enredos ou na evocação neles contida de valores considerados caducos, próprios de um tempo que a revolução de Outubro pretendera vencer, mas na tipologia dos seus heróis, preocupados acima de tudo com a fidelidade aos princípios e aos objetivos morais, mesmo quando, momentaneamente, as circunstâncias («o social», como alguns diriam) os podiam, ou deveriam, fazer vacilar. (mais…)

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                                    Mandela e os crocodilos

                                    Dostoievski declarou certa vez que as suas maiores angústias derivavam de «uma doença incurável chamada consciência». Não padecem de tal doença os moralistas de direita, insaciáveis na sua sanha de se baterem contra todas as iniciativas que têm como objetivo a expressão concreta, vivida, da solidariedade humana – não, não conta para este campeonato a sua preocupação natalícia com a caridade – quando vertem lágrimas de crocodilo pela morte de Nelson Mandela. Bem os vi, a eles ou aos paizinhos deles, muito calados e quietos enquanto o herói ocupava a cela com número 466/64 na prisão da Ilha Robben.

                                      Apontamentos, Biografias, Democracia, Direitos Humanos