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Back in 1969

Jim

O governador da Florida, Charlie Crist, sugeriu que Jim Morrison possa vir a receber um perdão póstumo da condenação por ter mostrado tudo, e simulado mais umas quantas coisas na linha do supostamente indecoroso, durante um concerto público que teve lugar em Miami há cerca de 41 anos. Acho mal, pois vão prejudicar o bom nome do ex-vocalista dos Doors. O próximo passo deverá ser a divulgação maciça deste vídeo iconoclasta. Mas não a deste.

    Apontamentos, Devaneios

    Agora não, talvez depois

    Num acesso súbito de imodéstia, pensei em escrever um post crítico mas optimista sobre os caminhos previsíveis da nossa vida colectiva num tempo próximo presente. Mas fui incapaz, não me saiu uma ideia, não consegui ver mais longe do que um palmo à frente do nariz. O nevoeiro está cerrado, o terreno escorregadio e falta-me uma lanterna.

    nonsense

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      Palavras rápidas

      As palavras e a crise

      Quando tive a primeira gramática – se não me engano a de Pires de Castro, que já vinha do final dos anos trinta e herdei de um tio – fixei-me, como qualquer criança normal que prefere o misterioso e o inesperado, nas interjeições. Essas palavras-relâmpago, indeclináveis, que nunca mudam mas revelam sempre fortes estados emocionais e sensações súbitas. Que empurram sem nos deixarem pensar, que incentivam ou assustam dispensando frases que demoram demasiado tempo a pronunciar. Com algumas foram casos de amor à primeira vista: Apre! Irra! Arre! Ufa! Eia! Sus! Mesmo o Ai! e o Ui! pareciam bombons para quem achava ainda que a dor durava só um segundo. Existiam também aquelas que o padre confessor traduzia numa penitência infernal de dez salvé-rainhas, trinta pai-nossos e cinquenta avé-marias, como Porra! Merda! Chiça! e outras que os vocabulários impressos omitiam. A vida vivida foi trazendo mais, menos vulgares, imperativas, como Oxalá! Coragem! Força! Avante! Tchau! Uau! Já o assanhadiço Capitão Haddock ensinou-me as melhores: Raios! Coriscos! Ectoplasma! Equinoderme! Cercopiteco! Lembrei-me de todas elas por estes dias ao sentir na pele os pesados açoites do PECIII, ao ouvir as palavras dos economistas de uma nota só que pedem mais e mais sangue, ao ver os noticiários dos canais de televisão que se comprazem em deixar-nos mais deprimidos a cada minuto. Credo! Chega! Socorro! Rua! Ah! Aaaaaahhhhhh!

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        Sol e poeira

        Open Range

        Havia tempo. Tinha saudades de um western normal e previsível. Daqueles onde os maus, gananciosos e sem piedade, se encontram de olhos nos olhos com os bons, firmes quando é preciso mas sempre generosos, sob um sol toldado pela pólvora e pela poeira. Noite fora e sem pipocas, vi ontem, via RTP1, Kevin Costner e Robert Duvall em quase três horas de um filme assim.

        «Waite, Spearman, Button e Harrison tentam fugir ao passado, criando gado nas pradarias, onde a lei é a da Natureza. Os cowboys tentam seguir um código de lealdade e integridade e evitam a violência. Ao chegar a uma cidade dominada pela corrupção e tirania, no entanto, estes homens são forçados a entrar em acção.»

        No final de Open Range (A Céu Aberto, de 2003, dirigido por Costner), e em harmonia com o modelo, consumada a justiça o pistoleiro de boa índole pediu em casamento a moça compassiva – bem, já não era tão moça assim pois «já lhe despontavam as cãs» – que sempre esperara por ele. E a paz regressou à pradaria. Quando apareceu no ecrã o clássico «The End» transpirava um pouco e tinha na boca o sabor inconfundível de um filme «para maiores de 12 anos». Tinha saudades.

        [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=MyS53TALCY8[/youtube]
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          Não, obrigado

          camisa branca

          Não diria que é aquilo que mais temo perante a possibilidade de a crise política que se adensa nos empurrar para as mãos de Pedro Passos Coelho. O que pode acontecer aos destinos do país e à vida das pessoas, entregues de vez à volúpia da «cultura empresarial», afigura-se bem pior do que o aspecto de quem venha a gerir o estabelecimento. Mas é este, seguramente, um dos factores que me perturba. Ponderar como inquilino da residência de S. Bento um típico e obstinado beto dos eighties, seguido por um séquito de réplicas, é um pesadelo que me tem povoado as noites. Ser governado por alguém que aparenta querer impingir-nos a qualquer momento um pólo da Lacoste ou da Ted Lapidus, penteado «à Joe Dassin», de discurso tenso e redondo, soturno e previsível, ter de conviver diariamente com a seriedade enfatuada e a representação icónica do aborrecimento, constitui para mim uma preocupação adicional de ordem estética e ecológica. Talvez pareça um tanto frívolo e com angústias de baixa densidade política, mas não encontro nada que afaste de mim este enjoo. Já a cidadã Zulmira Ferreira, cujo voto vale rigorosamente o mesmo que o meu, pensa de forma muito diferente.

          Esclarecimento ao Dgmo. Público: Este post não é um apelo ao voto útil.

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            Fantasia

            navegar é preciso

            Há bem mais de um ano que não controlava as frases depositadas nos motores de busca que transportam os leitores irregulares até este blogue. Mas devia fazê-lo mais vezes porque aprendo sempre imenso sobre as fantasias e os conflitos mais cavados de quem me lê de raspão. Nesta semana duas frases se destacam de todas as outras: «meninas vestidas de soldado» e «se eu gostasse muito de morrer». Em ambos os casos a minha imaginação, que por estes dias se tem sentido tristemente paralisada, libertou-se e voou à solta. E a sua?

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              Egas e Gilberto

              Vila Nova
              Ruínas da Casa de Vila Nova, quinta onde viveu D. Egas Moniz

              Com um bocado de preguiça para ir agora à procura de livros e de fotocópias que li e guardei há uma data de anos, sirvo-me da Infopédia para num exercício acrobático de copy-paste me referir a um dos mitos que povoaram a infância de muitos compatriotas de outras eras, identificando um dos esteios da linhagem de heróis e de santos, ou de santos-heróis, que um dia fizeram com que Portugal se tornasse Portugal.

              «Conta a lenda que, por altura do cerco a Guimarães, Egas Moniz, aio de D. Afonso Henriques, decidiu negociar a paz com o monarca castelhano Afonso VII. A troco da paz prometeu-lhe a vassalagem de D. Afonso Henriques e dos nobres que o apoiavam. Afonso VII aceitou a palavra de Egas Moniz. Um ano depois, D. Afonso Henriques quebrou o prometido e resolveu invadir a Galiza. Vestidos de condenados [e de baraço ao pescoço, prontos para a forca, rezam algumas vozes, RB], Egas Moniz e a sua família apresentaram-se na corte de D. Afonso VII, em Castela, pondo nas mãos do rei as suas vidas como penhor da promessa quebrada. O rei castelhano, diante da coragem e humildade de Egas Moniz, decidiu perdoar-lhe. Ao entregar-se, Egas Moniz ressalvava a sua honra e também a de Afonso Henriques, assegurando através da sua astúcia a futura independência de Portugal.»

              Acrescento alguns dados que me deu menos trabalho obter: Egas, filho de D. Munho (ou Muninho) Ermiges de Riba Douro e de D. Ouroana, pertencia a um das trinta famílias que originaram a nobreza de Portugal. Combateu os mouros entre 1106 e 1111, governou a região de Lamego a partir de 1113 e durante cinco ou seis anos. Foi por essa altura que o Conde D. Henrique lhe entregou como pupilo o irrequieto filho, Afonso Henriques, que D. Egas passou a acompanhar. O episódio lendário encontra-se associado ao termo do cerco de Guimarães pelo exército de Leão, ocorrido em 1127 (quando Afonso VII ainda era somente rei da Galiza e Leão; em breve sê-lo-ia também de Castela, juntando mais tarde Navarra e Aragão). Em 1136 Moniz tornar-se-ia figura fulcral da corte do nosso primeiro rei, morrendo dez anos depois, coberto de honras, propriedades e divinas bênçãos. A lenda, essa veio muito mais tarde, quando alguns dos seus descendentes requereram da monarquia algumas prebendas devidas pelo suposto testemunho de honradez que o seu avoengo ofertara.

              Julgo não ser de todo inopinada a associação deste episódio à ida do burguês licenciado D. Gilberto Madaíl, nascido no Congo mas português de quatro costados, e do jurisconsulto D. João Rodrigues, homens-bons do governo da Federação Portuguesa de Futebol, a Madrid, a fim de prestarem vassalagem ao Condestável D. José Mourinho, solicitando os seus préstimos para salvar a pátria futebolística da miséria e do opróbrio. Este recebeu-os com primor, brindando-os com uma lauta refeição, na presença de damas, moços da escuderia e de alguns menestréis, e tudo fez para que os enviados portugueses pudessem chegar à fala com o seu senhor, D. Florentino Pérez, alcaide-mor do Real Madrid, a fim de selar o desejado pacto. Infelizmente tinha D. Florentino a agenda muito preenchida e não os pôde receber, pelo que regressaram os gentis-homens portugueses aos seus territórios sem lograrem cumprir o preito de sujeição ao qual tinham sido cometidos. Ficaram assim impedidos por ora de acautelar os destinos do reino e de por tal via retomarem a lendária e exemplar gesta de D. Egas, que Deus conserve em sua guarda pelos séculos dos séculos.

              Adenda: Raramente aqui trato de futebol, mas neste caso a preocupação com os destinos da pátria falou mais alto.

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                Malas aviadas

                [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=INkLVwtIr_I[/youtube]

                Nunca estive em Cuba e não sei se algum dia por lá poderei passear de sidecar, como Ry Cooder passeou sobre o asfalto estaladiço que debrua o Malecón. Durante um certo tempo, enquanto a ilha me serviu de cenário para projectar um outro mundo possível, tive alguma pena de não conhecer Havana. Depois, com os indícios que foram chegando – os sinais de fumo lançados pelos primeiros dissidentes, os relatos das conversas com pessoas que tinham visitado a ilha, as declarações transparentes dos responsáveis pelo regime – senti-me incapaz de por ali me fazer passear de chinelos e Kodak ao tiracolo. Não, não há sol, não há rumba, não há tabaco forte ou mulatas prestáveis, tudo coisas boas para o meu gosto simples, que me façam desviar os olhos da opressão. Jamais me sentiria lavado, sem culpa, a passear por uma prisão a céu aberto como turista remediado ou convidado de um congresso. Nada tenho contra as pessoas que por ali fizeram já o seu tour caribenho, mas conservo uma consciência politica demasiado empenhada para o fazer sem sentir que traía uns quantos princípios (senti o mesmo perto de Marraquexe, quando assisti contrariado a uma encenação triste da alegria berbere). No entanto, talvez agora o panorama mude um pouco: com o despedimento forçado de um milhão de funcionários públicos cubanos que rapidamente terão de encontrar algures uma qualquer forma de sobrevivência, talvez a vida cubana se possa ver forçada a dar um salto análogo àquele que ocorreu, nos anos setenta e oitenta, em certos países do leste europeu. Crescerá então, inevitavelmente, um mundo alternativo, underground e miserável, com o qual poderei conviver, ainda que dolorosamente. Nessa altura talvez possa desembarcar no aeroporto internacional José Marti. Com alguma sorte, verei uns sujeitos de óculos escuros, barbas brancas e peúgas verde-oliva um bocado puídas apanhando um avião em sentido contrário.

                  Atualidade, Democracia, Devaneios

                  Os juros e a evolução da espécie

                  juros

                  Passei hoje três quartos de hora num banco à espera de ser atendido. Como cometi a imprudência de não levar nada para ler, pois acreditava ingenuamente que tudo seria rápido, tentei despistar o tédio respondendo a mails com recurso ao meu fiel iPhone. Com a consciência de estar a passar, junto dos circunspectos companheiros de infortúnio, por mais outro maluquinho do SMS. Cansado de dedilhar, levantei-me e cada vez mais impaciente comecei a andar de um lado para o outro lendo um a um todos os cartazes com anúncios de produtos financeiros. Desses que prometem a felicidade suprema desde que a paguemos em prestações mensais com taxas «indexadas à Euribor». Dei então com um anúncio especial, destinado «aos jovens». Prometia uma linha de crédito para pagar viagens, bilhetes para concertos, roupa (o cartaz chamava-lhe «moda»), gadgets electrónicos e, pasmem-se os e as mais inocentes, «experiências». «VALE TUDO!», proclamava o reclame em enormes caracteres. Endividar-se aos 18 anos e continuar nesse mesmo estado aos 68 deverá, entretanto, produzir alterações sensíveis no comportamento humano e no relacionamento intergrupal. Pode ser que a expressão «VALE TUDO!», aplicada pelas instituições credoras à grande massa de endividados, siga então essa evolução. Escravizando-os, por exemplo, já que não caberão todos nas prisões. E forçando-os a trabalhar como «cobradores do fraque». Isto se o sistema não estourar antes, claro, regredindo a espécie a esse estado natural de «guerra de todos contra todos» desenhado por Hobbes no Leviathan. O que justificaria, com toda a certeza, a suspensão imediata dos pagamentos de juros.

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                    Quadro negro

                    quadro negro

                    Em Havana, Yoani Sánchez foi matricular o seu filho numa escola do ensino pré-universitário. Depois de ler um aviso ali afixado num quadro negro ficou na dúvida sobre se Teo iria entrar numa escola pública ou no serviço militar.

                    Acerca del uniforme: Las hembras no usarán más de un par de aretes. Las camisas y blusas se usarán por dentro. No se les harán pinzas, recortes para ajustar al cuerpo o que queden por encima de la saya o pantalón. No sustraer los bolsillos. Las sayas deberán tener  un largo de 4 centímetros por encima de  las rótulas de las rodillas. No se permitirán sayas pélvicas, decoloradas o con marcas de planchado. Los pantalones deberán ajustarse a la altura de los zapatos. No se permiten pantalones pélvicos. Las hembras no usarán maquillaje. No se permiten pulsos, collares, cadenas ni anillos. Los atributos religiosos no podrán estar visibles. Los zapatos serán cerrados y las medias blancas y largas. No se portarán MP3, MP4, celulares. Los varones no usarán aretes, presillas ni piercing. Los cintos deberán ser sencillos y sin hebillas excéntricas, grandes o a la moda, estos deberán ser de color negro o carmelita.

                    Acerca del cabello: Los pelados, peinados y afeitados deben ser los correctos, eliminando toda excentricidad y modismos ajenos al  uso del uniforme. No se permite en los varones: el pelo largo, pintado, pinchos largos, ni figuras en el cabello. Las hembras no usarán aretes colgantes. Las prendas a usar en el cabello deben ser: azul, blancas o negras. Estas tendrán un tamaño acorde. El cabello de los varones no debe exceder los 4 centímetros.

                    Um obrigado pela dica à Joana Lopes.

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                      Desesperar é preciso

                      discussão

                      Sublinho Santiago López-Petit, em A Mobilização Global, enquanto penso nesta cultura do um contra o outro apresentada como único cenário do futuro sem esperança em nome do qual tudo nos é pedido.

                      «Estamos sós face ao mundo. Ou, o que é o mesmo, interiorizámos aquilo que os nossos governantes nos repetem incessantemente: ‘a vossa situação depende apenas de vós mesmos’. E acreditamos que é assim. Temos nós próprios que sair do atoleiro, o que dito pelas palavras próprias da cultura empresarial significa que temos de nos avaliar continuamente. Contra nós mesmos, contra os trabalhadores dos outros países que se esfalfam por conseguir a mesma produção cobrando menos. Incerteza que gera insegurança, insegurança que produz medo. Medo do outro que é como eu. Medo do outro, que é estrangeiro, porque não é como eu. (…) O [novo] estado de natureza alastra como um mar enfurecido até cobrir-nos por completo.»

                      E mastigo a certeza de que a esperança apenas pode nascer do desespero.

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                        Requiem marítimo

                        Sagres

                        Como a larga maioria dos portugueses, pouco andei de barco ou em meios de locomoção afins. Mesmo os trajectos africanos foram percorridos de avião. Recordo-me de umas quantas remadelas em lagos artificiais ou modestos riachos, de duas viagens de cacilheiro e de uma travessia do estreito de Gibraltar. Também andei algumas vezes de «gaivota». Ou melhor, pedalei com força para deslocar o veículo. Muito mais do que isso só a bordo do Kon-Tiki de Thor Heyerdahl, do Calypso de Jacques Cousteau, do Relâmpago do Corsário Negro e no paquete onde se desenrolou aquele enredo «anarquista» – que valeu uma proibição em diversos países – de Monkey Business, o filme dos Irmãos Marx. Para além, claro, de ter ido por diversas vezes ao fundo com o Titanic. Isto é, apenas andei embarcado em imaginação. Mas sei o suficiente de História e de caminhos marítimos para perceber que o navio-escola Sagres tem funcionado como definitivo avatar da nossa autorepresentação enquanto «navegantes». Por isso a proibição de atracar em Macau dada ao veleiro pelo governo chinês é particularmente humilhante. E por isso não é aceitável que as autoridades portuguesas se limitem a achar o facto mais ou menos normal. Sem um lamento, um protesto, um epitáfio. Restam-nos assim os ferry-boats fretados. E, a mim, realizar a adiada travessia do Atlântico entre Portimão e o Funchal. A bordo do indomável Volcán de Tijarafe.

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                          This is what dreams are truly made of

                          Bebé

                          No Verão os sonhos acontecem. No mundo do futebol em particular. Djelmar transferiu-se para o Deportivo de Villanueva del Fresno e afirmou «viver um sonho». Britinho assinou por dois anos pelo F.C. de Mogofores e declarou à Trombeta das Beiras ser esse o seu «sonho de menino». Kadu passou do Libertadores do Ceará para o Recreativo de Mocoró e afirmou à torcida mocoroense ser a mudança um sonho feito verdade. Mas nada de comparável ao que aconteceu com Tiago Manuel Dias Correia, Bebé, o rapaz nascido no Cacém que ainda há um ano jogava futebol de rua e agora, praticamente sem experiência de futebol profissional, foi vendido pelo Guimarães ao Manchester United por 10 milhões de euros. Sem formação que não a obtida em ruelas empedradas, pracetas de subúrbio e campos carecas. Sem longos anos a dar cabo dos olhos com livros ilustrados e monitores magalhânicos para «adquirir competências». Presumivelmente sem saber inglês técnico. Claro que Bebé nos diz, deslumbrado, ser «um sonho» poder jogar de vermelho no relvado de Old Trafford. Quem somos nós para o fazer cair na realidade?

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                            Ambição

                            biblioteca portátil

                            Não sou um sujeito venal. Não penso, como alguns banqueiros ou os jovens turcos, que «todos temos um preço», diferenciando-se os mais honestos apenas por ganharem menos do que os nada escrupulosos. Ainda assim, a alguém que me queira oferecer um utensílio destes, entregarei a alma de imediato sem exigir recibo. Ele sugere-me um salvo-conduto para a felicidade suprema – como se sabe, ela é leve e portátil – e essa não tem preço.

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                              Mrs. Peel

                              Mrs. Peel

                              Diana Rigg faz hoje 72 anos. Nunca foi uma star, nove em cada dez, das que entravam em banheiras cheias de espuma para anunciarem o sabonete Lux, mas a partir de certa altura foi Emma Peel, a companheira pró-activa e multitarefas do agente John Steed na série de televisão The Avengers, Os Vingadores, rodada entre 1961 e 1969. Steed era um agente do MI6 com aspecto de inglês «típico»: chapéu de coco, fraque sem ruga, um inseparável guarda-chuva muito bem enrolado e a omnipresente dose de fleuma. Já Mrs. Peel destoava da tradicional ajudante, sedutora, um tanto tola e absolutamente secundária na trama das outras séries. Pelo contrário, o trabalho pesado – socos, cabeçadas, fugas impossíveis, activação de engenhos explosivos e uns quantos tiros bem aplicados – ficava sempre por conta da agente em roupa futurista de cabedal negro, dotada de vastos conhecimentos de karaté e praticante de elevado nível de boxe tailandês. Aqui residia, aliás, o ineditismo da série, a sua marca caracteristicamente sixtie e vagamente feminista (Barbarella, a série de BD e o filme de culto, foram contemporâneos dos Vingadores). Talvez por isto a série de televisão se tenha tornado rapidamente popular. Diana Rigg foi também uma fugaz «Bond girl» e a madrasta má numa versão da Branca de Neve, mas será para sempre a intrépida – e  por isso singularmente sexy – Mrs. Peel.

                              Duas adendas em vídeo: Mrs. Emma Peel + Emma Peel in tight leather catsuit…

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                                Mudando de planos

                                O mirone

                                Comprei o tal número da Playboy portuguesa com o objectivo de um dia o doar, em conjunto com uma colecção completa da Gaiola Aberta e números avulsos do Mundo Ri, a uma qualquer biblioteca pública ainda não subjugada ao império do digital. Coloquei também a hipótese de fazer passar pelo scanner, para ilustrar este post, uma daquelas fotografias, pespegadas na revista, de um Cristo com aspecto de baixista dos Delfins acompanhado de uma menina «estrepitosa» (como se dizia na era da Gaiola Aberta e do Mundo Ri). Puro equívoco: a arte ostentada é medíocre e, Jesus Christ!, não vale a pena desfear um blogue que tanto me custa a polir.

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                                  A escolha

                                  O teutónico polvo Paul, bem como um crocodilo e um panda ligeiramente menos mediáticos, escolheram a Espanha. Um periquito indonésio decidiu-se pela Holanda. Como sempre, tomarei o partido dos mais fracos.

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