#5 – Sou um admirador silencioso e contumaz (chegou então a vez de dar serventia à palavra) do magnífico trabalho que a Fátima Rolo Duarte desenvolve no seu f-world. Vão lá, sff. No ar, no justo momento em que escrevo este recado, uma evocação do 25 de Abril de 2010. E depois vão recuando de madrepérola em madrepérola.
«Porque nos contamos entre esses cidadãos que entendem que a laicidade da política é condição fundamental das liberdades e direitos democráticos.» Aqui mesmo.
Uma agência de rating como a Standard & Poor’s, «com escritórios em 23 países e uma história de quase 150 anos», bem pode andar a tentar tramar-nos, procurando mostrar ao mundo inteiro que estamos no ponto para seguir o desgraçado exemplo grego. A verdade, porém, é que estamos em 3º lugar no ranking da FIFA – logo a seguir ao Brasil e à Espanha, bem acima da vil Alemanha, a muitas milhas dos checos – e por isso as coisas não estarão assim tão mal quanto essa gente maldosa pretende fazer crer. Apertaremos o cinto até ao último furo, mas com um sorriso nos lábios e a bandeira nacional pendurada na varanda.
Um inquérito lançado pelo blogue madrileno Papeles Perdidos pretende que assumamos o lugar do redimido Guy Montag em Fahrenheit 451 e resolvamos rapidamente o seguinte dilema: «Que obra literária memorizaria para salvá-la do fogo?». Jamais se me poria o problema, uma vez que a minha capacidade mnenónica tem diminuído um tanto – longe vão os dias gloriosos nos quais encornei em 24 horas todo o Compêndio de Filosofia de J. Bonifácio Ribeiro e José da Silva «para 7º ano e aptidão a cursos superiores» – e, para além disso, a indecisão iria paralisar-me. Se quisesse armar-me em esperto poderia escolher Finnegans Wake, de Joyce, pois tal significaria que, ao ser capaz de memorizá-lo, demonstraria ter condições para memorizar muitos outros livros. Mas prefiro aplicar as energias a trabalhar nos subterrâneos para que jamais nos possamos aproximar do futuro aterrador projectado por Ray Bradbury.
No Diário Volúvel, Enrique Vila-Matas fala da voz de Van Morrison como voz que lhe pareceu sempre representar «a humanidade inteira». Cada um de nós, em certos dias, em determinados momentos, encontra de vez em quando uma voz assim. Que chega de parte incerta e nos segreda ao ouvido o momento límpido no qual todas as coisas, todos os tempos, todas as forças e vozes, parecem convergir. Só que apenas nós o percebemos, e, por isso, esse fragmento de humanidade fica por nossa conta, como um segredo impossível de transmitir. Como uma jóia rara, translúcida e sem peso, impossível de partilhar, que tocamos por cinco minutos e mais ninguém vê, mais ninguém ouve.
#2 – Muitas e boas expectativas para o recém-chegado Adeus Lenine. A proposta é sugestiva e a diversidade parece ser uma garantia de interesse. O lado esquerdo agradece (e como é bom ler uma esquerda sem cartilha!). Ah, e o título «roubado» a Herr Wolfgang Becker é excelente.
Abro uma série na qual me vou comportar apenas como leitor de blogues. Apontando, aplaudindo, fazendo sugestões ou criticando, se for caso disso.
#1 – Começo pelos vizinhos. Pel’A Natureza do Mal. Admito que nos últimos tempos se me tornou um pouco difícil entrar neste blogue imprescindível, tal é o predomínio da envolvente «mancha negra» e a sensação de espreitar para dentro de furnas. Será bonito, mas prejudica, e em muito, a legibilidade. A anterior concepção gráfica cingia-se praticamente ao template original, mas era muito mais legível. O trabalho do André Bonirre com a imagem continua excelente, embora tenha muita pena de que o Luís Januário pareça um tanto retirado das lides. Faz-nos falta e espero que seja passageiro.
Escrito mais tarde – Reparei entretanto que o parágrafo anterior foi olhado quase como uma «ofensa» à Menina Limão, que foi quem trabalhou na reformulação gráfica d‘A Natureza do Mal. Não tenho muito a dizer em relação a isto. Se lerem com atenção verão que a referência crítica é feita à legibilidade, não à qualidade gráfica, que até é vista de forma positiva. Fazer deste insignificante apontamento crítico o esboço de uma polémica é qualquer coisa difícil de entender. E ando nisto de páginas Web, que me recorde, desde 1993, ainda com o velhinho Mosaic, versão 1.0. Nessa altura, todas as sugestões construtivas eram vistas como uma prova de interesse. Fiz muitas e recebi muitas também. Agora não o são. É a vida, mas admito que tenho pena de que assim aconteça.
Se há ligação a este blogue da qual não gosto mesmo é aquela feita a partir de outros blogues apenas acessíveis, através de password, a um círculo limitado de pessoas. Sinto-me um tanto do lado oposto ao da câmara do voyeur. Como se estivesse a ser espiado a partir de uma janela com o estore semi-corrido. Tem acontecido.
Pensei ter entrado na quinta dimensão. Li o título da nota noticiosa sobre o perdão concedido a Jesse James e por momentos julguei tratar-se da revisão do rico registo criminal do bem sucedido (com o gatilho) bandido do Missouri, abatido à má-fila por um traidor em Abril de 1882. Afinal tratava-se apenas do perdão de Sandra Bullock ao trastalhão do marido, homónimo do fora-da-lei, que se tem andado a divertir à grande, benza-o Deus, com uma tal de Michelle «Bombshell» McGee. Os mergulhos no passado têm-me distraído um pedaço das coisas importantes.
Para acabar de vez com a falta de stocks nas livrarias («não temos, está esgotado»). Para terminar com a destruição de livros por falta de espaço para armazenamento («zzzzzás, pás!»). Para espantar os biblioclastas mais impenitentes. E também para dar ao livro táctil, odorífero, em papel, um tempo de tréguas. As distribuidoras podem não gostar muito desta ideia (já com alguns anos de ensaio, aliás), mas todos os males do mercado livreiro fossem esse.
É com espírito de naturalista, qual David Attenborough amador, que observo sempre, nos congressos dos partidos do Grande Centro, as manobras e ademanes das crias-jotas durante os seus rituais de iniciação. Afiando as facas, já de blazer sombrio convenientemente ajaezado, saia-casaco sem mácula, melena amansada, expressão rectilínea e voluntarismo à flor da pele. Preparando o currículo que as conduzirá ao futuro de predador anotado nas agendas. Clonadas e previsíveis como peças em cadeia de montagem. Soft-porno do bom para quem se excita com muito pouco.
Bastante útil, e também bastante impressionante, a Pordata, autodefinida como «um projecto destinado a todos, pensado para um vasto número de utentes que comungam do interesse em conhecer, com confiança e rigor, mais sobre Portugal». Um serviço público excepcional, a visitar regularmente por quem trabalha ou escreve sobre os últimos cinquenta anos da nossa vida colectiva.