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Goodbye Rimbaud

RimbaudRimbaud

Posso aceitar a observação do livreiro Jacques Desse quando nos diz, a propósito do encontro com um singular Rimbaud adulto que descobrira entre um conjunto de fotografias à venda numa feira de antiguidades, que o poeta de Une Saison en Enfer aparece ali com «um ar de extraterrestre no meio dos outros, um pouco como se estivesse naquele e ao mesmo tempo noutro lugar». Por mim vejo-o antes, entre aquele grupo de bons burgueses a posar para a posteridade à entrada do Hotel de l’Univers, em Aden, lá pelos meados da década de 1880, como um sujeito normal, sem nada do jovem dandy dissoluto, ícone gay e arquétipo do poeta maldito, habitualmente associado ao famoso retrato tirado aos 17 anos. Como um tipo banal, conformado, que já deixara de escrever e exercia o melhor que podia a profissão de negociante de armas e café. Talvez pareça mais humano, embora mais triste.

    Fotografia, Olhares

    notas & recados

    Correio

    #3 – Um blogue fantástico, construído a partir de uma ideia aparentemente simples, é O Silêncio dos Livros. Só imagens, só as imagens dos outros, omnipresentes e evocativas. Com os livros em papel e a leitura como leitmotiv. Até apetece largar o computador e desatar a ler por aí. Sem Kindle ou iPad, à velha maneira, de cigarro ao peito e boina basca até às orelhas. Tenho pena de ter demorado a chegar aqui.

    Adenda: do mesmo autor (Miguel), este O Café dos Loucos.

    Devo a pista inicial ao Bibliotecário de Babel.

      Cibercultura, Fotografia

      Bruxelas como jamais

      La Monnaie
      Devia ser o Théâtre Royal de La Monnaie

      Todas as cidades vivem saturadas da sua própria imagem. Em especial as pequenas, pela razão evidente de possuírem menos ângulos a partir dos quais é possível obter perspectivas inéditas. Habito uma cidade dessas: se acreditarmos apenas no que proclamam as prédica oficiais ou lemos nos seus jornais, a imagem que a maioria dos seus habitantes tem do local onde mora é inflexível, ainda que desgastada. Nela a história serve habitualmente de argamassa. Um grafito numa parede – entretanto apagado por vândalos disfarçados de funcionários municipais – proclamava em tempos: ISTO JÁ NÃO É AQUILO QUE NUNCA FOI. Sabedoria rara que proclamava o óbvio: toda a repetição é inútil, uma vez que só se conserva igual aquilo que cada um deseja que assim pareça. Por isso gosto de imaginar, imaginar mesmo, cidades perpetuamente instáveis, das quais é sempre possível esperar mais e esperar melhor. Mesmo quando se trata das aparentemente mais monótonas ou aborrecidas. E por isso me atraiu um livro de itinerários de Bruxelas que encontrei, publicado pela Casterman, contendo textos de Christine Coste e desenhos de François Schuiten (com Benoît Peeters um dos autores da esplêndida série de BD Les Cités Obscures). Aqui toda a cidade é revista de alto a baixo, projectando-se imagens desejáveis, ou imagináveis, da face aparentemente oculta da capital dos belgas. Gostaria de ver a minha cidade assim tratada. Dessa maneira talvez fosse incapaz de deixar de gostar dela.

        Cidades, Fotografia

        Gritos na açoteia

        Teerão

        Esta imagem do fotojornalista italiano freelancer Pietro Masturzo acaba de vencer o prémio máximo da World Press Photo 2009. Captada em Teerão durante os protestos originados pela reeleição do presidente iraniano, nela podem ver-se algumas mulheres que da açoteia de uma casa gritavam a sua indignação. O impacto cénico e o contraste dos gestos dão a ver, retirando-as da sombra, a cólera dos manifestantes e a violência do regime que os leva a manifestarem-se. E o perigo que correm aquelas mulheres pela circunstância simples de terem sido fotografadas.

          Atualidade, Democracia, Fotografia

          Mundimagens

          Barco

          Em Machine de Vision, de 1988, Paul Virilio anunciava a instauração de uma democracia-espelho capaz de fazer regredir as antigas formas de reflexão colectiva. Escrevia aí que «o exibicionismo e o voyeurismo, reforçando-se mutuamente, passaram a determinar o fetichismo da imagem opticamente correcta, na qual o padrão das aparências integra e remata a opinião pública». Baudrillard falava também da «condenação à morte» de toda a referência exterior à própria imagem, determinada pela sua exuberância e proliferação. Isto não me apavora, apesar de ser um rato dos papéis. Não encontro aqui ameaça alguma. Vejo só um imenso repto à nossa capacidade para projectar e ampliar mundos comunicantes. Não uma megacatástrofe, mas uma viagem desafiante em mar revolto.

          | recuperado por acaso de um post publicado há seis anos

            Artes, Cibercultura, Fotografia