Iuri nas Cidades #5
Milão
Colaboração de Iuri Bradáček
Milão
Colaboração de Iuri Bradáček
Henri Cartier-Bresson, God Bless America | Chicago, Illinois, USA, 1947
1º de Maio | May Day
Vladivostok
Colaboração de Iuri Bradáček
Grandes esperanças. [s.l., s.d.]
Madrid, anos 50.
Posso aceitar a observação do livreiro Jacques Desse quando nos diz, a propósito do encontro com um singular Rimbaud adulto que descobrira entre um conjunto de fotografias à venda numa feira de antiguidades, que o poeta de Une Saison en Enfer aparece ali com «um ar de extraterrestre no meio dos outros, um pouco como se estivesse naquele e ao mesmo tempo noutro lugar». Por mim vejo-o antes, entre aquele grupo de bons burgueses a posar para a posteridade à entrada do Hotel de l’Univers, em Aden, lá pelos meados da década de 1880, como um sujeito normal, sem nada do jovem dandy dissoluto, ícone gay e arquétipo do poeta maldito, habitualmente associado ao famoso retrato tirado aos 17 anos. Como um tipo banal, conformado, que já deixara de escrever e exercia o melhor que podia a profissão de negociante de armas e café. Talvez pareça mais humano, embora mais triste.
#3 – Um blogue fantástico, construído a partir de uma ideia aparentemente simples, é O Silêncio dos Livros. Só imagens, só as imagens dos outros, omnipresentes e evocativas. Com os livros em papel e a leitura como leitmotiv. Até apetece largar o computador e desatar a ler por aí. Sem Kindle ou iPad, à velha maneira, de cigarro ao peito e boina basca até às orelhas. Tenho pena de ter demorado a chegar aqui.
Adenda: do mesmo autor (Miguel), este O Café dos Loucos.
Devo a pista inicial ao Bibliotecário de Babel.
Varsóvia
Colaboração de Iuri Bradáček
Devia ser o Théâtre Royal de La Monnaie
Todas as cidades vivem saturadas da sua própria imagem. Em especial as pequenas, pela razão evidente de possuírem menos ângulos a partir dos quais é possível obter perspectivas inéditas. Habito uma cidade dessas: se acreditarmos apenas no que proclamam as prédica oficiais ou lemos nos seus jornais, a imagem que a maioria dos seus habitantes tem do local onde mora é inflexível, ainda que desgastada. Nela a história serve habitualmente de argamassa. Um grafito numa parede – entretanto apagado por vândalos disfarçados de funcionários municipais – proclamava em tempos: ISTO JÁ NÃO É AQUILO QUE NUNCA FOI. Sabedoria rara que proclamava o óbvio: toda a repetição é inútil, uma vez que só se conserva igual aquilo que cada um deseja que assim pareça. Por isso gosto de imaginar, imaginar mesmo, cidades perpetuamente instáveis, das quais é sempre possível esperar mais e esperar melhor. Mesmo quando se trata das aparentemente mais monótonas ou aborrecidas. E por isso me atraiu um livro de itinerários de Bruxelas que encontrei, publicado pela Casterman, contendo textos de Christine Coste e desenhos de François Schuiten (com Benoît Peeters um dos autores da esplêndida série de BD Les Cités Obscures). Aqui toda a cidade é revista de alto a baixo, projectando-se imagens desejáveis, ou imagináveis, da face aparentemente oculta da capital dos belgas. Gostaria de ver a minha cidade assim tratada. Dessa maneira talvez fosse incapaz de deixar de gostar dela.
Reiquejavique
Colaboração de Iuri Bradáček
Berlim
Colaboração de Iuri Bradáček
E contava a fábula que aquele era o país mais feliz do mundo.
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=sbVml3P4FBY[/youtube] |
Fotograma de Rocco e i suoi fratelli (1960).
Esta imagem do fotojornalista italiano freelancer Pietro Masturzo acaba de vencer o prémio máximo da World Press Photo 2009. Captada em Teerão durante os protestos originados pela reeleição do presidente iraniano, nela podem ver-se algumas mulheres que da açoteia de uma casa gritavam a sua indignação. O impacto cénico e o contraste dos gestos dão a ver, retirando-as da sombra, a cólera dos manifestantes e a violência do regime que os leva a manifestarem-se. E o perigo que correm aquelas mulheres pela circunstância simples de terem sido fotografadas.
Em Machine de Vision, de 1988, Paul Virilio anunciava a instauração de uma democracia-espelho capaz de fazer regredir as antigas formas de reflexão colectiva. Escrevia aí que «o exibicionismo e o voyeurismo, reforçando-se mutuamente, passaram a determinar o fetichismo da imagem opticamente correcta, na qual o padrão das aparências integra e remata a opinião pública». Baudrillard falava também da «condenação à morte» de toda a referência exterior à própria imagem, determinada pela sua exuberância e proliferação. Isto não me apavora, apesar de ser um rato dos papéis. Não encontro aqui ameaça alguma. Vejo só um imenso repto à nossa capacidade para projectar e ampliar mundos comunicantes. Não uma megacatástrofe, mas uma viagem desafiante em mar revolto.
| recuperado por acaso de um post publicado há seis anos
E depois do Degelo.
Alfred Hitchcok durante as filmagens de Torn Curtain (A Cortina Rasgada, 1966).
Fotografia MPTV.net