A perigosa retórica dos ilusionistas
Teve lugar há poucos dias em Lisboa a convenção do Movimento Europa e Liberdade, um agregado de personalidades, partidos e setores do centro-direita e da extrema-direita que se propôs debater ali o que designou «uma alternativa aos 25 anos de socialismo em Portugal», considerados pelos promotores da iniciativa como «um sinónimo de empobrecimento do país». Poderia pedir, a quem teve a ideia, algo tão primário como uma definição de socialismo, ou uma comparação documentada entre esse suposto «empobrecimento» e aquele, bem real, que Portugal conheceu durante o último governo PSD/CDS, mas este não é espaço para o fazer.
Em «A Era do Vazio», de 1983, Gilles Lipovetsky abordou a vaga de individualismo que então tomava conta da Europa e das Américas. Mostrou ali de que modo, numa época caracterizada pelo excesso de informação e o culto da exuberância – e ainda por um acentuado recuo das narrativas da modernidade que tinham atribuído um sentido ao percurso da história – a substância das ideias e dos projetos tinha cedido o lugar a um triste vazio, concebido como um território organizado de forma desconexa e desprovida de metas mobilizadoras. Alguns intérpretes da pós-modernidade, como Bell ou Fukuyama, chegaram a sugerir que esse estado de coisas corresponderia ao «fim das ideologias», que por sua vez determinaria um «fim da história». O progresso dissipar-se-ia e a gestão do presente seria a única experiência possível.
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