Uma esperança para Outubro
Bastante mais tarde que o desejável, chegamos ao fim de uma legislatura que ficará na nossa história recente pelas piores razões. Problemas determinados por escolhas erradas e ampliados pela crise financeira internacional iniciada em 2008 ocorriam já, sem dúvida, antes de ela começar. No entanto, estes quatro anos têm sido particularmente violentos, em larga medida porque a coligação PSD-CDS, tal como repetidamente afirmaram os seus responsáveis e comprovam as medidas que foi adotando, entendeu aproveitar o grave contexto de crise para, com a conivência do presidente da República, promover um programa revanchista e rancoroso de ataque ao setor público. Um programa «para além da troika», jamais referendado e destinado a vingar as derrotas e os limites que a direita politica teve de ir aceitando nas quatro décadas de democracia.
Mas tal como é do caos que nasce a luz, estes quatro anos de empobrecimento e de desânimo coletivo abriram também uma nesga de esperança, associada à possibilidade de ver emergir um novo tempo político. Na hipótese de superar o ciclo rotativista, centrado na exclusiva gestão dos partidos do «arco do poder», que conduziu ao ponto em que nos encontramos e se mostra agora claramente esgotado. A expectativa está, pois, depositada na capacidade que a esquerda política possa demonstrar para, apesar das diferenças e rancores que historicamente a têm atravessado, e das dificuldades que não desaparecerão por um passe de mágica, ser capaz de oferecer aos portugueses um caminho para escapar ao ciclo assassino em que se viram mergulhados. (mais…)