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Porque é que a cultura não é notícia?

ipsilon

Participei esta semana num debate organizado em Coimbra pela Escola da Noite e subordinado ao mote «Porque é que a cultura não é notícia?». Nele foi apresentado por Carla Baptista e Maria João Centeno, do Centro de Investigação Media e Jornalismo, um recente estudo no qual se procurou, a partir da observação das primeiras páginas de jornais portugueses publicados entre 2000 e 2010, fazer o diagnóstico da cobertura jornalística dos temas culturais. Este trabalho, «A Cultura na Primeira Página» (culturaprimeirapagina.fcsh.unl.pt) não responde diretamente à pergunta que motivou a sessão, mas ajuda bastante a perceber de uma forma sustentada algumas das razões que nos obrigam a colocá-la. E também a verificar que o modo como determinadas abordagens continuam a ser destacadas, como outras são remetidas para páginas secundárias e outras ainda pura e simplesmente desaparecem dos jornais, obriga a questionar a forma como neles o próprio conceito de cultura é entendido. (mais…)

    Democracia, Jornalismo, Opinião

    Resistir não basta

    Um dos dramas deste tempo difícil e perturbante que estamos a viver reside na aparente incapacidade para vislumbrar uma saída. Diante da política de terra queimada imposta pelo governo, da sonegação dos direitos sociais que foram uma conquista de décadas de esforços partilhados, da diminuição brutal da qualidade de vida da generalidade das pessoas, da subversão do modelo de desenvolvimento que, apesar de imperfeito, nos levou a superar a condição aparentemente atávica de parente pobre e periférico de uma Europa outrora distante e sobranceira, quase parece impossível erguer uma alternativa. A tristeza, a incerteza e a descrença tomaram conta das nossas vidas, das nossas ruas, tornando-nos sonâmbulos sem autoestima, esperança ou uma ideia razoável de futuro. (mais…)

      Apontamentos, Democracia, Opinião

      A Carta

      Depois de dois textos sucessivos (aqui e aqui) escritos a propósito do desaire eleitoral do Bloco de Esquerda, escolhi mudar de agulha. Afinal, tudo o mais que pudesse escrever sobre o tema parecia-me uma reiteração do que já tinha escrito, produzida no desconhecimento do que pudesse estar a acontecer num debate interno forçosamente intenso. Poderia além disso mostrar-me injusto ou precipitado, coisa que desde a primeira hora escolhi evitar sempre que falo do Bloco. Todavia os acontecimentos acabaram por sobrepor-se a essa lógica de contenção e, perante a «Carta às esquerdas», assinada pelos dois coordenadores do BE e tornada pública no último domingo, concluí que algumas escolhas, a meu ver insuficientes e infelizes, foram já projetadas para o exterior, sugerindo uma lógica de continuidade, repleta de maus augúrios, que se faz à revelia de muitos dos potenciais eleitores e condicionará qualquer tentativa de inflexão. Por isso retorno ao tema. (mais…)

        Atualidade, Democracia, Olhares, Opinião

        Dizer não

        Reprodução parcial da crónica «El que dice no», de An­to­nio Mu­ñoz Mo­li­na, publicada na Babelia de 17 de Maio de 2014.

        Há uma beleza própria no gesto daquele que diz não, com calma e firmeza, por vezes com fúria, ou que diz não ao inimigo ou ao déspota que deseja subjugá-lo. E também no que diz não aos que esperavam e confiavam em que dissesse sim, aos próximos, aos seus, aos que se sentirão magoados, quando não traídos, pela sua inesperada negativa. Aos que, talvez depois de o haverem nomeado filho dileto, decidem rebaixá-lo a filho pródigo. Há um não heroico que conduz com toda a certeza ao cativeiro e à morte, e esse é um não que não pode exigir-se a ninguém, porque ninguém está em condições de exigir o que não sabe se ele próprio faria, ainda que existam seres humanos suficientemente mesquinhos para julgar com dureza aqueles que sofreram muito mais que eles. (mais…)

          Apontamentos, Olhares, Opinião, Recortes

          O abismo e o compromisso

          Na terça-feira passada, 27 de Maio, publiquei um texto de opinião, intitulado «O dia seguinte do Bloco», no qual – como aí dizia, «na mera ótica do utilizador», isto é, enquanto apoiante crítico, colaborador ocasional e votante obstinado – ensaiava uma tentativa de interpretação, naturalmente curta e parcial, da enorme derrota sofrida pelo Bloco de Esquerda nas eleições europeias. Aí colocava também algumas hipóteses sobre o caminho, necessariamente difícil mas necessário, que poderia ser trilhado para retomar o caminho da esperança e do reconhecimento público. A justificar esse esforço a convicção, que mantenho, de que o Bloco pode e deve ser parte da solução para obter uma viragem do país no sentido da construção de uma sociedade mais justa, mais solidária, mais democrática, e mais envolvida no bem-estar dos cidadãos. Para além de, nesta altura, integrar uma grande área destinada a inverter o estado a que a coligação PSD/CDS conduziu o país e a vida dos que o habitam, não podendo desobrigar-se do seu compromisso neste campo. (mais…)

            Atualidade, Democracia, Opinião

            O dia seguinte do Bloco

            Nota prévia: Esta é uma leitura «na mera ótica do utilizador». A eventual candidatura de António Costa à direção do PS poderá reconfigurar muita coisa. Mas esse não é o presente cenário.

            Nas europeias do passado domingo o Bloco de Esquerda perdeu muitos eleitores para o PCP/CDU, para o Livre e até para o «partido do Marinho e Pinto». Sem estas perdas – a culpa não será por certo dos destinatários desses votos, que apenas fizeram o seu trabalho – o BE teria, muito provavelmente, um resultado estável e proporcional ao papel que se espera que cumpra. Mas tal não aconteceu, pese a justa eleição de Marisa Matias, e por isso precisa agora de refletir seriamente, sem medo e sem mais adiamentos, nas razões internas da aparatosa derrota. Nas razões internas, insisto, não na «culpa» dos outros. Mas também numa reorientação de estratégia e de política de alianças. Para evitar afundar-se mais ainda em termos eleitorais e poder retomar o lugar único e necessário que tem ocupado no espetro político nacional. (mais…)

              Atualidade, Democracia, Opinião

              Em quem vou votar (e porquê)

              Um dos traços negativos da atual campanha para as europeias encontra-se no paradoxal menosprezo dos partidos do arco da governação pela Europa como assunto e desígnio. Nas suas campanhas, o PS e o PSD/CDS integram o tema como parte acessória da luta interna que mantêm pela gestão do Estado e da estratégia internacional das respetivas famílias políticas – seja o que for que isso ainda possa significar – para o controlo do Conselho Europeu e da maioria em Bruxelas e Estrasburgo. Por isso, neles as referências à política europeia como razão de ser e objetivo central da participação nestas eleições, em pouco se distinguem. Limitam-se a replicar a separação, tantas vezes apenas formal, entre os defensores da austeridade a todo o custo ou os de um desenvolvimento mais apoiado na intervenção dos poderes públicos. Para além do apelo à delegação de soberania através do voto, os cidadãos não são informados com clareza de qual o sentido efetivo que cada uma das escolhas verdadeiramente pode ou deve tomar. O que, de concreto, irão Assis ou Rangel fazer no Parlamento Europeu. (mais…)

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                Os despojos da inocência

                Fotografia de Kaia
                Fotografia de Kaia

                A crise global tem suscitado na Europa não apenas o questionamento dos modelos de sociedade construídos sobre as liberdades políticas e o pluralismo ideológico, mas igualmente o do próprio valor da democracia como fonte da legitimidade da governação. Fora do espaço protegido, fechado sobre si próprio, dos aparelhos partidários que têm rodado na gestão dos diversos poderes, começa a ser praticamente consensual que o modelo da democracia representativa, tal como este tem vindo a funcionar, se mostra insuficiente para administrar com eficácia a coisa pública e para conservar a confiança dos cidadãos. Ao mesmo tempo, revela-se cada vez mais incapaz de mobilizá-los para as tarefas de regeneração das sociedades nas quais a perda de direitos e a instalação do pessimismo dominam pesadamente a paisagem social. (mais…)

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                  Quarenta anos depois de Abril

                  Acrílico sobre tela de Jorge Cardoso
                  Acrílico sobre tela de Jorge Cardoso

                  À medida que o ano de 1974 foi ficando para trás, a evocação do 25 de Abril foi perdendo a tonalidade vibrante que manteve nos primeiros tempos. A estabilização do regime democrático, com as suas qualidades e imperfeições, tal como a instalação progressiva de uma sociedade menos desigual, foram induzindo distanciamento. Em cada aniversário, ressurgia sobretudo a memória afetiva de quem vivera a Revolução, ou de quem a preparara nos subterrâneos do exílio ou da clandestinidade, bem como uma compreensível nostalgia por uma fase do percurso pessoal e coletivo partilhada por quem desejava o retorno das utopias perdidas. Esperando por «outro 25 de Abril», como muitos diziam com convicção mas reduzida esperança. (mais…)

                    Atualidade, Democracia, História, Opinião

                    O DN e Angola

                    A informação é demasiada e um homem não pode saber tudo. Por isso, somente pelas crónicas de Ferreira Fernandes no Diário de Notícias tomei conhecimento do facto de capitais angolanos irem tornar-se maioritários na gestão do jornal. Entretanto, o que se passa ou não com o DN diz-me um pouco respeito, por razões sentimentais e não só. O meu avô paterno e o meu pai foram agentes do jornal durante décadas e foi nele que aprendi a ler: aos 5 anos punham-me, como a um macaquinho hábil, a soletrar em público os títulos, para gáudio dos amigos do meu avô e como experiência um tanto radical para mim. Depois, foi no DN que formei uma boa parte da consciência do mundo, tendo ainda sido seu colaborador ocasional. Por isso, e porque temos cada vez mais falta de boa imprensa, aquilo que acontece ao Diário me diz também respeito. É esta a razão pela qual não exibo o otimismo crítico e excessivamente simpático de Ferreira Fernandes. Pelo que me é dado pensar quando leio a expressão «capitais angolanos», fico-me antes pelo pessimismo expectante e assumidamente desconfiado. A ver vamos.

                      Apontamentos, Democracia, Opinião

                      A leitura e o futuro

                      Imagem de Andrew Hefter
                      Imagem de Andrew Hefter

                      «Enquanto houver livros para ler sei que não terei um momento aborrecido na vida. Só isto basta para lhes dever muito.» Com esta frase, com a qual rematou uma crónica recente sobre livros e livrarias, José Pacheco Pereira lembrou uma atitude que, apesar de viver uma fase de recuo, continua a marcar profundamente a experiência coletiva e a de muitos de nós. Refiro-me à prática da leitura como momento de enriquecimento pessoal, enquanto fator de conhecimento e de prazer, mas também ao seu uso como instrumento de liberdade, devido à capacidade que oferece para treinar a imaginação, abrir possibilidades e ajudar a construir uma consciência crítica do mundo. (mais…)

                        Apontamentos, Leituras, Olhares, Opinião

                        Colaboração ou resistência?

                        Fotografia de Hugo Correia

                        1. Transcrevo uma parte substancial da crónica que José Vítor Malheiros assina hoje no Público:

                        «Os grandes consensos políticos são indispensáveis em graves momentos de crise. Em muitos dos países ocupados pelos nazis na Segunda Guerra Mundial, a resistência incluía pessoas que cobriam um espetro político que ia dos cristãos conservadores e monárquicos aos comunistas e anarquistas e a razão, a necessidade e a justiça da sua aliança era uma evidência para todos. Estes grandes consensos podem ser vitais em momentos de emergência, para ultrapassar um obstáculo preciso, ainda que não constituam uma fórmula de governação política nem apaguem as diferenças e os conflitos entre os seus constituintes – diferenças vitais, também elas, para permitir o exercício da livre escolha democrática pelos cidadãos, que deve ser instituída ou restabelecida tão depressa quanto possível. (mais…)

                          Atualidade, Democracia, Opinião

                          Hipóteses de futuro

                          Numa perturbante sequência do filme Sátántangó (O Tango de Satanás), do húngaro Béla Tarr, dois homens caminham, longamente e a custo, de costas voltadas para a câmara, por uma comprida estrada de asfalto molhada pela chuva, enquanto toneladas de detritos são empurrados por um vento fortíssimo na mesma direção, envolvendo-os numa paisagem suja e destroçada, e conferindo à sua marcha um sentido de resistência em ambiente hostil. Não é difícil estabelecer uma analogia entre esta cena filmada em travelling e o presente que nos cabe.

                          Os sinais estão aí. Vemo-los sem olhar, esmagados pelas contas e pelos prazos: comer para viver, pagar a prestação da casa, comprar os comprimidos. Sobreviver com cada vez menos, com o essencial, na fronteira mais recuada da dignidade. Por vezes, já abaixo dela, embora procuremos convencer-nos de que assim não é. Concentramo-nos no essencial enquanto nos dizem que quase tudo é supérfluo, e tentamos não ver o cenário que se abre à nossa frente. Mas é com este cenário, novo para a larga maioria dos que têm hoje menos de quarenta anos, que nos dizem irmos conviver até um dia que ninguém sabe marcar no calendário. Num horizonte de pobreza e decadência que anuncia um país em ruínas. Não as ruínas atraentes e evocativas, na fronteira do épico e do sublime, que tanto empolgavam os românticos, nem aquelas destinadas nos delírios hitlerianos a vincar a sorte dos países conquistados, mas os restos enfadonhos, sórdidos, que vêm com o desgaste e a ausência de esperança. Que não suscitam olhares benignos ou vislumbres de futuro. (mais…)

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                            As invasões boas

                            Militares russos na Crimeia
                            Militares russos na Crimeia

                            O pior que pode fazer-se no exame de uma situação complexa é reduzi-la ao aparentemente simples. É como limitar uma árvore à fixidez do tronco, ignorando a instabilidade da folhagem e a projeção da sua sombra. No entanto, na interpretação dos conflitos internacionais, esta é uma prática muito comum, em regra determinada – longe da aparente simplicidade dos conflitos da Guerra Fria – pela ignorância da sua crescente complexidade. Ou então, pior, por condicionamentos políticos que determinam um traço de giz separando de uma maneira demasiado esquemática o bom, o aceitável, o justo, daquilo que se considera mau, inaceitável ou iníquo. Quando afinal tudo se mistura em formas intrincadas, impossíveis de integrar numa interpretação linear que possa ser imposta por decreto ou pela força bruta das armas. (mais…)

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                              O monstro dócil

                              A tralha

                              Um post escrito há quatro anos e recuperado do arquivo. E não é que, ao relê-lo, nada parece ultrapassado?

                              Em Il Mostro Mite, «o monstro dócil», um livro publicado em Itália pela Garzanti, o linguista e ensaísta italiano Raffaele Simone procura mostrar o que separa o ethos tradicionalmente «sacrificial» da esquerda daquele assumido por uma direita que, ao contrário do que acontecia no passado, toma hoje o partido do consumo, do luxo, do despesismo e da poluição desgovernada. A Itália de Berlusconi esteve na vanguarda da mudança, uma vez que terá sido aqui que começou a afirmar-se essa direita do divertimento, da frivolidade, da comunicação televisual, do menosprezo pela arte e pela cultura, da procura desenfreada da riqueza e do prazer. Pelo contrário, a esquerda tem-se conservado essencialmente avessa à lógica consumista, apontando para uma sociedade austera, de renúncia, de regresso ao mínimo. Entretanto algo mudou e a nova sociedade globalizada encontra-se dominada por um padrão de cultura afável, envolvente, consumista, indiferente à renúncia e ao altruísmo. É precisamente este «il mostro mite», a face sorridente e todavia sinistra e prepotente da nova direita que em alguns países da Europa vem empurrando o conjunto da esquerda para um beco aparentemente sem saída. (mais…)

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                                Indiana Jones, o Bloco e a esperança

                                Imaginemo-nos na pele de um Indiana Jones sem os golpes de sorte ou os malabarismos de chicote do arqueólogo-herói criado em 1980 por George Lucas e filmado por Steven Spielberg. Em dado momento, caídos numa armadilha feita de alçapões ocultos e sucessivas rampas deslizáveis, para onde fomos projetados enquanto procurávamos uma estatueta egípcia da III dinastia, vemo-nos num instante rodeados de perigos. Com a morte por perto, cercados de cobras venenosas, gigantescos lacraus e humanos pouco amigáveis saídos de outras eras, tudo fazemos então para sobreviver e sair dali com vida. Entretanto não estamos sozinhos. Na mesma armadilha foram também colhidos outros aventureiros, com os quais, por esta ou aquela razão – um plagiara-nos um paper, outro roubara-nos a namorada, um terceiro ultrapassara-nos de forma pouco transparente num concurso – nos havíamos incompatibilizado. Mas diante do perigo maior, que a todos punha a vida em jogo, as diferenças esbateram-se. E foi assim, defrontando corajosamente e em conjunto todos os obstáculos e inimigos, que conseguimos alcançar a única saída possível para regressar ao nosso tempo. Fugindo àquele cenário de pesadelo. (mais…)

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                                  As condições de um debate

                                  Fotografia de Tiago Pereira

                                  Está marcado para a próxima segunda-feira, em Coimbra, um debate em direto sobre as «praxes académicas» integrado no programa Prós e Contras, da RTP. Como se sabe, o tema está em discussão pelas piores razões, levantando à sua volta bastante poeira feita de desinformação e de interpretações muitas vezes mal fundadas, associadas a um extremar de posições por parte de algumas cabeças mais quentes. O mote do programa, «Sim ou não às praxes?», convida mesmo a uma radicalização das atitudes, a meu ver dispensável e até algo perigosa. Por isso se justifica uma troca pública de pontos de vista serena e tanto quanto possível fundamentada. Apesar da sua materialização depender, neste caso como em qualquer outro, da condução do programa e dos intervenientes, valerá sempre a pena confrontar aos olhos do cidadão comum posições sobre um assunto que de há muito ultrapassou o espaço da estrita realidade estudantil, marcando a vida universitária e as suas envolvências. (mais…)

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                                    Cinco mitos em torno das praxes

                                    De há muito que as «praxes académicas» são noticiadas e debatidas, pelas piores razões, sempre que algum episódio chama a atenção para o seu lado perverso. Mas nunca como agora se tornaram tão visíveis e foram associadas a um tão amplo sentimento público de rejeição. No entanto, ninguém que tenha uma ideia daquilo que de sombrio e ingovernável o seu universo tem vindo a incorporar terá ficado surpreendido pelo que os trágicos acontecimentos da praia do Meco trouxeram a público. Algumas semanas depois do primeiro momento de horror e de espanto, quando o respeito devido à dor das famílias das vítimas forçou alguma contenção, as evidências e os documentos começaram a ser conhecidos, percebendo-se que nada do que se passou foi puramente acidental. Começou então uma avalanche de testemunhos e de informações a propósito das praxes, ao ponto de ser já difícil dizer algo de original a seu respeito. Para pessoas como eu, que participaram na resistência às praxes a partir dos inícios da década de 1970, e que além disso têm pensado e escrito sobre o tema, ainda se torna mais difícil escrever qualquer coisa de novo, pois muito do agora revelado pelos média lhes é familiar. Vou por isso tentar não me repetir, limitando-me a aspetos menos abordados, que associo a cinco mitos projetados a propósito do assunto. (mais…)

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