Na era do professor desnorteado
Ao contrário daquilo que pode pensar quem esteja de fora, os problemas pedagógicos do ensino universitário não são agora em menor escala, nem mesmo, em alguns casos, substancialmente diferentes, daqueles que estão desde há muito identificados nos ensinos básico e secundário. Limito-me aqui a enumerar duas áreas particularmente críticas, embora raramente abordadas. A primeira tem a ver com profundas convulsões que têm afectado crescentemente a autoridade do professor e o relacionamento na sala de aula. A segunda relaciona-se, de um lado, com o confronto entre a forma tradicional de conceber os processos do conhecimento e os métodos de ensino, e, do outro, com as diferentes expectativas das mais recentes gerações de alunos, frequentemente associadas aos novos instrumentos de acesso à informação.
Em «La era del profesor desorientado», um artigo surgido sábado passado no El País, anuncia-se uma situação que, afinal, está a cruzar todas as fronteiras da velha e ex-conservadora Europa: os professores enfrentam estudantes menos obedientes, aparentemente menos receptivos, mas que se movimentam muito bem em áreas que eles, educadores, conhecem mal ou não dominam de todo. Faz-se então uma pergunta: será preciso regressar à velha disciplina ou é antes preferível modernizar o ensino?
Traduzo o parágrafo inicial do artigo do diário espanhol: «Uns acreditam que o problema reside no facto dos professores do século XX tentarem educar a jovens do século XXI em escolas do século XIX, e por isso as coisas não funcionam. Outros, que foram perdidos valores básicos da educação, sobretudo a disciplina e o esforço. Na realidade, trata-se de duas maneiras distintas de enfrentar um mesmo facto: que os docentes não conhecem, não encontram ou não lhes oferecem as ferramentas necessárias para ensinar a novas gerações de jovens, as quais não respondem da mesma forma que as anteriores à educação escolar.» Um caso sério, diante do qual a pior solução – que infelizmente tem vingado em muitos casos –, consiste em meter a cabeça na areia, ignorando a situação real de mudança de paradigma que atravessamos, e marinando na ficção de que um dia as coisas «melhorarão» por si (isto é, voltarão ao antigo modelo). Ou então decairão inapelavelmente. Em ambos os casos, atirando a toalha ao chão.
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